Figueira e pré-moldados flexibilizam espaços na construção de shopping

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A abertura interna, com o aproveitamento da iluminação natural

 

Os estudos recomendavam que o Shopping Iguatemi de São José do Rio Preto (SP) precisava ser construído no ponto de maior crescimento da cidade. Mas, no terreno de 100 mil m², havia uma figueira centenária. Ela virou o centro de todas as decisões, do projeto à construção

 

Nildo Carlos Oliveira

 

Wilson Marques Spinelli, diretor de novos negócios do Iguatemi, diz que a cidade de São José do Rio Preto foi escolhida para abrigar o novo empreendimento, por constituir uma referência de serviços na região noroeste do Estado de São Paulo.
 

A seleção do sítio para a obra levou em conta dois fatores: o local é de fácil acesso pela BR-153 e pela principal avenida, a Juscelino Kubitschek. Além disso, é a área onde atualmente se registra o maior índice de crescimento urbano, com a concentração de domicílios de alta renda. Contudo, exatamente ali havia um problema – ou uma solução: uma figueira centenária, que não poderia, nem deveria ser removida.

 

A preservação da árvore frondosa, uma referência urbana local, que domina o deck externo do conjunto, teve um efeito gratificante: o shopping, recentemente inaugurado, recebeu o Prêmio Excel Rio Preto, por atender a diversos requisitos exigidos por uma construção considerada sustentável: uso da luz natural, reaproveitamento da água pluvial e o mais importante – a adaptação do projeto e da construção à presença da velha figueira. “Assim”, afirma o arquiteto Thiago Zaldini Hernandes, coordenador de projetos na Secretaria do Meio Ambiente local, “ganhou a cidade, ganhou o shopping e ganhou a figueira”.

 

O projeto

O arquiteto Frederico Paione, que em 1998 fundou o escritório Insite Arquitetos, com sede no Rio de Janeiro, diz que ao articular os primeiros traços do projeto de arquitetura do shopping apercebeu-se da importância de estabelecer um diálogo franco e aberto entre a arquitetura, a figueira centenária e os demais aspectos do paisagismo local. No terreno de 100 mil m² a área construída seria de 120 mil m², com área bruta locável de 42.125 m², distribuída em três pavimentos.

 

A concepção buscou a valorização do espaço interno, mediante a obtenção da iluminação natural, com o uso amplo de skylights. As soluções, com essa finalidade, foram favorecidas pela experiência do Grupo Iguatemi que, segundo o arquiteto, “já vem desenvolvendo seus shoppings recentes com a adoção de abordagens e características similares. Só que, desta vez, aproveitava a pré-existência da figueira, a partir da qual foi gerado um importante eixo de distribuição dos espaços”. Ele entende que a facilidade na distribuição do looping nos malls acabou criando áreas de lojas espacialmente equilibradas. Afinal, era aquele “o mix pretendido”.

 

Simultaneamente aos cuidados com o conjunto houve preocupação com o sistema viário do entorno, desenvolvendo-se até um estudo específico de impacto do tráfego nas imediações para eventuais providências futuras.

 

Preocupação semelhante norteou o projeto voltado ao paisagismo. A obra foi inaugurada já com uma vegetação a valorizá-la. Uma solução considerada inovadora pelo arquiteto foi adotada na área dos estacionamentos descobertos. Ali se utilizou uma estrutura metálica leve e forrada com material perfurado, de modo a serem criadas áreas de sombra equacionadas com o paisagismo natural.

 

A comunicação visual nas áreas externas usa a tonalidade black forest prevista pelo Grupo Iguatemi. E, a complementar as soluções que respeitam o conceito de sustentabilidade, foram instalados sistema de água de reúso para irrigação; chillers centrífugos de alto rendimento para ar-condicionado, automação predial e outros procedimentos do gênero.

 

 

A construção

O arquiteto diz que, desde o começo das obras, a construtora (Construcap) abriu diferentes frentes de trabalho no canteiro. Tão logo foram concluídas as fundações, executadas com tubulação a céu aberto, ela intensificou os demais trabalhos, desenvolvidos simultaneamente mas buscando, com planejamento, harmonizar as várias interfaces. “Assim, os serviços de montagem das peças pré-moldadas não colidiam com as demais atividades, incluindo os acabamentos de fachadas ou a montagem da estrutura metálica.”

 

O engenheiro Mario Brandão, gerente de contrato da Construcap, corrobora as observações de Frederico Paione. “Devido à concepção arquitetônica da obra, adotamos uma estratégia de execução não usual. Começamos, por exemplo, com a montagem estrutural, a partir do centro e, posteriormente, evoluímos para as bordas da edificação. Em determinada etapa dos trabalhos instalamos no canteiro um guindaste com capacidade para 300 t destinado à montagem da estrutura metálica da área do cinema. Tudo isso simultaneamente às etapas sucessivas da montagem das peças pré-moldadas”. No pico do conjunto das diversas frentes de serviços, a construtora mobilizou um contingente de 2 mil trabalhadores.

 

A exemplo do que falou o arquiteto, o engenheiro destacou que o planejamento foi essencial para o cumprimento das diversas etapas-marco preestabelecidas. “A estrutura pré-moldada, a estrutura metálica, os fornecimentos dos vidros, a montagem dos caixilhos, dentre outros serviços, seguiam controlados, inclusive com diligências full time nas fábricas dos fornecedores”.

 

E, tendo em vista o binômio cronograma e qualidade, houve uma articulação a fim de que as peças pré-moldadas de concreto fossem produzidas fora do canteiro. As vigas e pilares foram fabricados em Jandira (SP) e as lajes em uma fábrica localizada lá mesmo, em São José do Rio Preto. Tudo na sequência necessária e no prazo previsto, para que as ações das diversas frentes de trabalho não fossem eventualmente comprometidas. No conjunto, foram produzidos 614 pilares, num total de 2.380 m³; 1.570 vigas, somando 3.740 m³ e 5.716 lajes, no total de 68 mil m³.

 

Além do guindas
te de 300 t, foram utilizados outros — um com capacidade para 200 t, outro com capacidade para 100 t, além de caminhões Munck e manipuladores Gradall.

 

Ao final, o resultado — estética, funcionalidade, harmonia na disposição das peças pré-moldadas e elementos metálicos e a sintonia com o paisagismo externo — reflete, segundo o arquiteto e a construtora, uma interação de concepção e metodologia construtiva. Essa interação resultou no conforto por parte tanto dos que já trabalham no shopping quanto pelo público cliente, que começa a considerar a edificação como uma nova referência urbana local.

 

Fase da montagem da estrutura com utilização de guindastes no posicionamento das peças

 

Ficha Técnica – Shopping Iguatemi São José do Rio Preto

 

Valor do contrato: R$ 300 milhões

Início: Outubro de 2012

Conclusão: Abril de 2014

Construtora: Construcap

Escritório de arquitetura: Insite Arquitetos
                                     (Frederico Paione e Marcela Fallavena)

Projeto estrutural: ETCPL — Escritório Técnico Cesar Pereira Lopes (concreto) e Prometal (metálica)

Instalações prediais: Projetar Engenharia

Instalações mecânicas: Teknika Projetos e Consultoria

Paisagismo: André Paoliello Paisagistas Associados

Consultoria de alumínio: QMD Consultoria

Luminotécnica: Mingrone Iluminação e Consultoria

Automação predial: Bettoni Automação e Segurança

Impermeabilização: Proassp Assessoria e Projetos

Comunicação visual: H2E Design

Tráfego: Engimind

Fundações: Sacarin

 

Principais fornecedores

Pré-moldado: CPI

Estrutura metálica: Alphafer

Estrutra alumínio dos skylights e caixilhos em geral: Enal

Concreto: Engemix e Polimix

Guindastes: Mongeo e Caldemil

Gradal: Mills e Solaris

Escoramentos e andaimes: Mills e Layer

Pintura: Isocor e Casa Brilho

Forro e dry wall: Wall Plac

MDO: Construcar

Piso tipo marcopiso: Unipiso

MDO piso nível “zero”: Grannobre

Vidros: Glassec

Fonte: Revista O Empreiteiro


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