Fui espiar, no fim da semana, a exposição Fora da ordem: fotografias da National Geographic (de 9 a 22 de agosto, no Sesc Pinheiros). Estão ali trabalhos de vários fotógrafos, dentre eles Peter Essick, James Balog, Lyn Johnson e Paolo Pellegrin. Foram feitos para ilustrar reportagens publicadas naquela revista, conquanto dispensem quaisquer explicações. Uma simples legenda, com o nome da região ou do país, é suficiente para aclarar a mensagem visivelmente palpável. As fotos, por si, denunciam os estragos que as mudanças climáticas andam fazendo no planeta. Peter Essick circulou pela Etiópia, onde secas periódicas, cada vez mais frequentes, devastam safras agrícolas, espalhando morte e doenças que levam à morte milhões de pessoas. A foto é de um homem, impotente, lastimavelmente resignado, no meio a uma plantação destruída. Lyn Johnson retrata mulheres no Quênia. Vão em grupos, galões às costas, vencendo até cinco horas de caminhada, para buscar água barrenta. Paolo Pellegrin expõe o cenário da represa Ziglab, na Jordânia, cujo reservatório se esvai. Com o passar do tempo, pode correr o risco de virar cratera. E James Balog registra o derretimento da carapaça de gelo da Groelândia. No documento da exposição, a advertência: pode chegar o tempo em que o colapso dos dois mantos importantes do planeta, um da Groelândia e, outro, da Antártica, ocasionará a elevação do nível dos mares em cerca de seis metros provocando inundações em áreas costeiras. Olhei essas fotos, até que eles me ficaram pregadas na consciência. Senti, no entanto, que ali faltassem fotos brasileiras expondo os estragos das mudanças climáticas em várias cidades do Sul e do Nordeste, principalmente em Pernambuco e Alagoas. Fotos das secas, lá no sertão nordestino, provariam que não precisaríamos ir para fora do País, para ver um pouco da Etiópia.
Fonte: Estadão