Embora com algum atraso (a edição brasileira, da Jorge Zahar Editor, é de 2006), leio Literatura e política – jornalismo em tempo de guerra, uma coletânea de artigos políticos e resenhas literárias do indiano-britânico Eric Blair, o George Orwell de l984 e Revolução dos bichos, dentre outros livros.
A importância desses relatos e críticas, que ele publicou no período de 1942 a 1948, no jornal britânico Observer (o título original do livro é The Observer Years) está no fato de que os escreveu em cima da hora e literalmente à beira do abismo provocado pela 1ª Guerra Mundial. Orwell foi uma testemunha preferencial: a tudo assistiu de alma e olhos escancarados para o que estava acontecendo no mundo, naqueles dias, naquele momento.
Ele trata das cenas do cotidiano em junho de 1944; da Guerra Civil Espanhola; dos efeitos da ocupação da França e das resenhas que mostram um quadro da cultura e das questões políticas e econômicas da época.
No caso da guerra na Espanha, constata: “Os russos distribuíram uma pequena quantidade de armas (aos republicanos) e, em troca, extorquiram o máximo de controle político”. E analisando a antiga União Soviética, faz constatações que a história, mais tarde, confirmaria “… os comunistas russos transformaram-se necessariamente numa casta governante permanente ou numa oligarquia, recrutada não pelo nascimento, mas por adoção. O resultado é que a ditadura endureceu, à medida que o regime tornou-se mais seguro. Hoje, a Rússia talvez esteja mais distante do socialismo igualitário do que estava há 80 anos”.
Nas resenhas, analisa obra de H. G. Wells, para concluir que “a cultura das máquinas prospera sobre as bombas”. Poderia ter acrescentado: ou sob as bombas. Acaso, se não houvesse a paranóia da indústria bélica, teria ocorrido a tragédia da ocupação do Iraque? E, ao falar sobre a obra de Dickens, extrai uma frase que dá a medida do pensamento do autor de As aventuras do sr. Pickwick: “Minha fé no povo do governo é, no geral, mínima; minha fé no governo do povo é, no geral, limitada”.
Ele observa também o livo The sociology of literary taste de L. L. Schucking, para chegar à conclusão exposta pelo autor quanto ao impacto do totalitarismo nas obras de arte. Schucking revela: “O totalitarismo afeta o artista, e especialmente o escritor, mais intimamente que qualquer outra pessoa”. O totalitarismo, em qualquer época, tem um efeito nefasto slbre a criativiade. E, sobre a imprensa, nem se fala.
Fonte: Estadão