Gestão de obras não é mais uma "caixa-preta"

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Joseph Young

“É um trabalho de engenharia, feito por engenheiros, arquitetos e técnicos.” Essa frase resume a essência do 1o Workshop “Gestão eficaz impacta nos custos e prazos de obras e projetos”, realizado pela revista O Empreiteiro. Traduzindo: como exige o monitoramento e ações diários nos ajustes e alertas às equipes envolvidas, não é serviço para políticos, que trabalham somente de terça a quinta-feira, ou administradores públicos cuja cabeça estejam durante 24 horas nos palanques eleitoreiros.

Os quadros técnicos dos órgãos contratantes públicos precisam ser treinados e habilitados para fazer a gestão de obras, munidos dos softwares já conhecidos e testados há anos e disponíveis nas prateleiras. É claro que existe um prazo de implementação física de toda essa tecnologia nos escritórios e treinamento dos seus “operadores”. Mas nada que não possa ser iniciado imediatamente, como mostrou o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que se propõe a ser a vanguarda tecnológica entre as entidades rodoviários em termos de TI.

Segundo Matheus Belin, coordenador-geral de modernização e informática do Dnit, a previsão é de que todas as regionais desse órgão estejam equipadas para operar as concorrências públicas com o uso obrigatório da modelagem BIM nos projetos de engenharia a partir do segundo semestre de 2014.

O engenheiro Fernando Augusto Corrêa da Silva, diretor da Sinco Engenharia e diretor do Sinduscon-SP, revelou também que o Exército brasileiro tomou iniciativa similar e adota ferramentas de TI para administrar o ciclo de vida do vasto ativo de edificações que possui pelo território nacional.

Cristiano Kok, presidente do grupo Engevix, lembrou que o Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), fundado há 25 anos, criou um lema válido ate hoje: “Sem projeto, não há obra”. “Infelizmente”, diz ele, “os contratantes públicos na maioria das vezes contam apenas com um projeto básico, sem estudos geológicos completos, quando lançam uma concorrência de obra”. Daí os aditivos, que multiplicam o orçamento e o prazo originais, se tornam inevitáveis.

Klaus Grewe, engenheiro alemão que milita na Inglaterra e que trabalhou para a ODA, a agência britânica encarregada de gerenciar a construção do Parque Olímpico de Londres, relatou como a gestão competente de centenas de programas de obras, compreendendo desde instalações esportivas definitivas e provisórias a extensos trabalhos de urbanização numa vasta área de 246 hectares, tornou possível a conclusão do conjunto um ano antes da data dos Jogos em 2012. Um consórcio de três empresas de engenharia foi contratado para esta tarefa de gerenciamento, coordenando as atividades de centenas de companhias projetistas e construtoras. Um ano inteiro de planejamento transcorreu antes de se iniciarem os trabalhos propriamente ditos de construção.

Ele revelou que apenas 30% do orçamento foi dedicado às instalações destinadas aos Jogos Olímpicos e 70% foi investido nas obras que seriam de uso permanente da população do East London – uma das regiões mais pobres do país e da Europa.

Sérgio Palazzo, diretor da Abratt, traçou um paralelo entre duas obras similares de travessia não destrutiva, uma no Canadá e outra em São Paulo, para canalização de gás. A primeira demandou oito meses de estudos e projeto e foi concluída com êxito nos 60 dias subsequentes de obras. A obra paulista foi iniciada sem estudos geotécnicos e sem projeto e encontrou uma formação de rocha fissurada que impediu o avanço do furo direcional. Uma segunda empreiteira foi contratada e usou uma perfuratriz de maior potência, mas sem resultado. Moral da história: sem projeto e planejamento não há obra.

No final do workshop, o coordenador de projetos de uma estatal de transportes nos disse que os contratantes públicos precisam “recuperar o tempo perdido e adotar os softwares de projeto e gerenciamento de obras; caso contrário, jamais vão tirar o atraso da infraestrutura das cidades brasileiras, que nem sequer conseguem acompanhar o crescimento da população urbana”.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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