Vieram de longe carregando o fardo de mil e tantas necessidades de sobrevivência. Mas não chegaram ali ontem nem anteontem. Começaram a ocupar áreas da Serra do Mar em fins da década de 1930, quando foram montados os primeiros acampamentos de trabalhadores arrebanhados para a construção da Via Anchieta.
No rastro dos operários que foram ficando e se arranchando por ali, outras famílias se avizinharam e, em anos recentes, chegavam a quase 4 mil as que se encontravam penduradas nas encostas; outras, possivelmente o dobro ou o triplo, se esparramaram na região de mangue, em Cubatão, nas mesmas condições de pobreza ou miséria.
Há tempos, o governo do Estado, que só veio a criar o Parque Estadual da Serra do Mar em 1977 (quase 40 anos, portanto, depois do começo da ocupação predatória), tem procurado corrigir um erro que poderia ter sido eliminado no nascedouro. Transferiu 20 famílias que ocupavam imóveis na altura do km 40 da Anchieta para apartamentos da CDHU e prepara a realocação de outras 600 famílias para imóveis semelhantes construídos pela mesma companhia habitacional.
É uma solução aplicada a conta-gotas. Não há como remover tantas famílias de um lugar para outro num toque de mágica. Mas, não deixa de ser positiva a informação de que se planeja a regularização de 12 mil moradias no entorno do parque, que responde pela proteção do meio ambiente local.
O que fica como lição é que ao longo de décadas tem faltado planejamento. Primeiro, para prevenir a ocupação anárquica, responsável pelo desmatamento e as ocorrências decorrentes, tais como deslizamentos e as tragédias que isso acarreta; e, segundo, para organizar uma desocupação que já poderia ter sido feita, com menos prejuízos para as famílias invasoras, para o meio ambiente local e para a sociedade, que acaba pagando a conta.
Somos uma sociedade vítima da falta de planejamento e – em tantas ocasiões – da falta de governo, mesmo.
Fonte: Estadão