Não se precisa ir muito longe para a constatação de irresponsabilidades urbanas e humanas de toda ordem. Basta ir até a esquina mais próxima. O prédio que ali está sendo construído será apenas mais um exemplo de que as preocupações com a infraestrutura do entorno podem até fazer parte de eventual plano de melhoria local. Isso, porém, não quer dizer que ela chegará antes, durante ou imediatamente depois da nova construção. A rigor, chega depois, quando chega.
Agora mesmo olho de minha janela e vejo a prática de uma irresponsabilidade desse tipo. A rua já está entupida de prédios. Os carros se acumulam, sem espaço mínimo entre eles. A infraestrutura de serviços é da década de 70 ou 80. Mas a nova construção emerge com promessas de paraíso. E isso não ocorre apenas na Pauliceia. Acontece em todo o País.
Veja-se o caso das indústrias que estão se agrupando, crescendo, tecendo o fio do renascimento da economia pernambucana, a partir de Suape. Enfrentar os acessos viários até lá é uma tarefa que exige paciência e tempo. Como se uma coisa não devesse ser feita concomitantemente à outra. Nesse exemplo, como em tantos outros, o planejamento é matéria esquecida. Eventualmente atirada no ralo.
Mas, como falar em seriedade, em projetos dessa ordem, quando o governo, nas diversas instâncias, parece dar de ombros para a necessidade das aplicações corretas do dinheiro público? Dois exemplos, que hoje estão nos jornais, deveriam ser motivo para deixar qualquer administrador com a cara vermelha de vergonha. O primeiro diz respeito aos gastos de US$ 1,6 bilhão, empregado nas obras de despoluição do Tietê e que hoje, conforme se constata, está mais poluído do que há 18 anos, quando os serviços, com aquele fim, começaram. O segundo se refere à previsão de que serão gastos pelo menos R$ 720 milhões, a mais, com as obras necessárias para a realização da Copa do Mundo. Ou o governo desembolsa esse valor – que deverá ser provavelmente mais – ou a infraestrutura para o evento esportivo internacional não ficará pronta no prazo previsto.
De irresponsabilidade em irresponsabilidade vai sendo costurada a realidade brasileira. Talvez isso explique, por linhas transversas, porque o Brasil, apesar de toda a pompa e circunstâncias de sua economia, ainda se encontra no 84º lugar, numa lista de 187 países, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas.
Assaltos, insegurança e medo no Butantã
Moradores do Butantá, que inclui o bairro do Morumbi e alhures, me informam que os assaltos multiplicam-se na região. O comércio abre as portas com medo e, as casas, não abrem portas e janelas, com medo. A delinqüência está à solta e ganhando terreno, palmo a palmo, casa a casa. Enquanto isso, numa delegacia local, um policial disse a um morador que esse negócio de perseguir bandido é coisa do velho Oeste.
Fonte: Estadão