Matéria cedida, com exclusividade, pela revista ENR – Engineering News-Record
Tratado com nação indígena Cree, no Canadá, abre caminho para a cooperação
O governo provincial de Quebec, Canadá, assinou um acordo chamado de Paix des Braves -Paz entre Bravos – que iniciou uma nova era de cooperação entre o país e a nação indígena, resgatando um passado de desavenças e prejuízo para os nativos
A empresa provincial Hydro-Quebec mostrou nesse projeto de expansão do complexo James Bay que os indígenas querem ser tratados de igual para igual, e não tutelados pelos brancos. Consideram uma participação efetiva bem-vinda, com benefícios sócioeconômicos a longo prazo, ao invés de receber apenas compensação financeira e serem colocados de lado no processo de desenvolvimento.
buy amoxicillin online pmilv.com/wp-content/languages/new/cheap/amoxicillin.html no prescription
Trata-se de um exemplo inspirador para as tratativas ate agora conflituosas em torno da futura hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no coração da Amazônia.
buy zithromax online pmilv.com/wp-content/languages/new/cheap/zithromax.html no prescription
A história em Quebec teve um inicio clássico e tumultuado. Quando o governo decidiu desenvolver o vasto potencial hidrelétrico na região remota de James Bay, ao norte da província de Quebec, considerou que a região era desértica por não haver agricultura e esparsamente povoada por indígenas que não viviam da terra. Quando os Crees descobriram que os construtores de barragens estavam modificando o cenário de sua terra sem permissão, resolveram reagir. Venceram algumas batalhas na justiça mas foram levados de roldão pelas forças econômicas e políticas que apoiavam a hidrelétrica. Ainda assim, os Crees conseguiram levar o governo e as empresas envolvidas a concordarem em atender uma parte das suas necessidades de desenvolvimento sócioeconôomico, e o projeto continuou.
Mas o governo provincial e as empresas não honraram o acordo. Quando os construtores voltaram mais tarde para construir outro projeto hidrelétrico na região, os Crees conseguiram organizar uma campanha contra, que combinava ações legais na justiça com uma divulgação internacional. Cinco anos depois, os construtores e o governo cancelaram o projeto.
O governo voltou 10 anos depois com outra abordagem primeiro pediu permissão aos nativos. Depois, as duas partes assinaram um acordo em que fica reconhecido o status de estado soberano da nação Cree, ao mesmo nível da província de Quebec, com cláusulas legais sobre geração de empregos e outros benefícios sócioeconômicos aos indígenas.
online pharmacy https://aclsedu.com/wp-content/uploads/2023/04/jpg/azithromycin.html no prescription drugstore
Como centenas de tratados assinados entre governo e nações indígenas, este acordo está’ longe de ser perfeito. Mas, ao contrario dos acordos anteriores, esse está’ sendo honrado na sua essência. O projeto hidrelétrico está em curso sem incidentes, até algo à frente do cronograma, e os Crees estão satisfeitos na sua maioria.
online pharmacy https://aclsedu.com/wp-content/uploads/2023/04/jpg/lexapro.html no prescription drugstore
É uma história de 38 anos entre a empresa e os indígenas, com um período inicial de conflitos e que agora evolui para uma cooperação efetiva. Por volta de 2012, haverá geração adicional de 918 MW para a Hydro-Quebec.
“Não somos totalmente anti-desenvolvimento”, diz Matthew Mukash, chefe maior dos Crees que está se retirando. “Apoiamos o desenvolvimento sustentável que seja compatível e que respeite nossa cultura e nossa tradição de vida”. Para os nativos, dez anos atrás, o projeto Eastmain-1-A lembrava fatos de triste memória ocorridos ha três décadas. Sem aviso e sem ser convidados, as equipes da empresa invadiam as terras dos Crees, tratando seus habitantes como se fossem intrusos, que podiam ser realocados à vontade para abrir espaço às novas obras.
Mudança de postura
Outro chefe nativo, Ashley Iserhoff, lembra que as coisas começaram a mudar quando Andre Caille tornou-se presidente da Hydro-Quebec, em 1996, e permaneceu no posto ate 2005. O projeto ESR foi inteiramente rejeitado pelo Grande Conselho dos nativos em julho de 2001. Foi quando o primeiro ministro de Quebec, Bernard Landry, propôs um tratado de paz ao Grande Chefe Ted Moses. Em fevereiro de 2002, após longas negociações, a província e o Grande Conselho dos Crees assinaram o “Acordo sobre uma nova relação entre a nação Cree e o governo de Quebec”. Relembrando um histórico tratado de 1701 entre os franceses e as tribos indígenas, este acordo foi batizado com o mesmo nome -Paix des Braves, ou seja, Paz dos Bravos.
O tratado reconhece pela primeira vez os Crees como nação soberana, ao mesmo nível da província de Quebec. Renuncia aos direitos da Hydro-Quebec sobre um projeto hidrelétrico aprovado anteriormente, além de assegurar aos nativos participação na receita recebida pelo governo no aproveitamento dos recursos naturais da região onde eles vivem.
A possibilidade de os Crees serem envolvidos no desenvolvimento do território, ao invés de serem simplesmente recompensados financeiramente para sair do caminho, está no espírito desse tratado. A mudança trouxe benefícios tangíveis, quando os nativos encontraram empregos nas atividade de manejo da floresta, serviços essenciais nos canteiros de obras, como alimentação, e na execução de alguns projetos em si. O tratado Paix des Braves assegurou a empresas formadas pelos Crees contratos no valor de US$ 181 milhões numa primeira fase, valor esse que atingiu US$ 700 milhões desde 2002. Mais importante ainda, os nativos estão sendo treinados para funções operacionais apos o comissionamento das novas usinas.
Maior projeto da década
O projeto conhecido como Desvio Eastmain-a-A/Sercellle/Rupert (ESR) estende-se por 700 km² na margem oriental do James Bay, a continuação no extremo sul do Hudson Bay. Vai desviar a água do rio Rupert no sentido norte, para passar através de duas casas de força novas, com capacidade total de 918 MW. Depois de reunir o caudal de outros quatro rios, o fluxo caminha para rio La Grande, que desemboca no James Bay.
O resultado é maior do que a geração suplementar das usinas adicionais. As duas casas de força produzirão 3,4 terawatt-horas por ano, mas o fluxo ampliado no rio La Grande vai permitir a três usinas a jusante existentes gerar 5,3 TWh extras, a um custo calculado em apenas 5 centavos de dólar por kWh.
Ao custo de US$4,4 bilhões, o projeto compreende a construção da casa de força Eastmain-1-A de 768 MW, ao lado da usina de mesmo nome comissionada em 2007, a casa de força Sarcelle de 150 MW, quatro barragens, um vertedouro em Rupert, 74 diques, duas bacias de contenção de 346 km², um túnel de 2,9 km ligando as duas bacias, uma rede de canais de 7 km, e nove estruturas hidráulicas no rio Rupert.
O tratado de 2002 abriu o caminho para se executar a última etapa do projeto original de James Bay, a barragem Eastmain-1 e a casa d
e força, que foi comissionada em fevereiro de 2007. Na mesma época, foi instalado o canteiro do projeto ESR. A casa de força Eastmain-1 A vai ficar a 500 m da sua homônima, aproveitando uma queda de 63 m propiciada pelo reservatório existente. Três turbinas Francis vão gerar 256 MW cada.
O projeto é da SNC Lavalin e as empreiteiras são Neilson Excavation Inc. e Entreprises Bon-Conseil, ambas de Quebec. A casa de força está coberta, equipada com uma ponte rolante, com os sistemas elétrico e mecânico em execução. A tomada d’agua e os condutos forçados estão em obras.
Sarcelle vai operar a fio d´agua
De queda baixa, a casa de força de Sarcelle foi projetada por Tecsult, de Montreal, Canadá, utilizando turbinas bulbo, nas quais a turbina e o gerador estão alojados num mesmo conjunto. A queda de 12 m e a elevada vazão do rio tornaram essa escolha vantajosa, em relação à turbina Kaplan, de maior custo e que exigiria mais espaço para instalação. São três unidades de 50 MW, fornecidas pela Alstom, com diâmetro de 7 m, uma das maiores na sua classe.
A escavação de 40 m de profundidade, 60 m de largura e 250 m de extensão foi executada 7 dias por semana, em dois turnos de 10 horas. A concretagem foi contratada com o consórcio CRT-Hamel, que produziu o concreto com duas plantas Liebherr de montagem rápida. Transportadas por 10 carretas, foram montadas em apenas seis dias. Enquanto uma planta produz 79 m³ de concreto por hora, a outra fica em stand by.
Núcleo de asfalto
Hydro-Quebec vai ser pioneira na introdução de uma tecnologia que é comum na Europa. A barragem de enrocamento Nemiscau-1, de 300 m por 14,2 m de altura, está empregando concreto asfáltico ao invés de argila no seu núcleo. Será um projeto- piloto para validar a tecnologia, que será empregada no complexo hidrelétrico La Romaine, de 1550 MW, que a empresa vai construir ao norte de Havre-Saint-Pierre.
Hydro-Quebec tem como consultor nesta etapa a Kolo Veidekke norueguesa, que detém extensa experiência nesta especialidade, na qual a relação de asfalto liquido e agregado é critico. O teor de asfalto na mistura é de 7,8%. As camadas de concreto asfáltico medem 225 mm e precisam de três a cinco dias para curar, dependendo da temperatura ambiente. A barragem exige 54 camadas, lançadas duas por dia.
O asfalto usado no núcleo da barragem é bem mais mole do que o utilizado em rodovias. Essa consistência permite que se deforme com os movimentos do solo, retendo, porém, a característica impermeável. O núcleo, medindo 800 m de largura na base, é mais estreito do que os de argila e está concluído.
Em novembro passado, 71% do fluxo do rio Rupert foi desviado no sentido norte uma bacia de 50 km. Após passar por um túnel de 2,9 km até alcançar o canal de 44 km, as águas vão seguir por reservatórios existentes e passar pelas duas casas de força novas, e chegar ao rio La Grande. As obras do desvio do rio Rupert começaram em março de 2007, quando foi escavado um vertedouro de 640 m de comprimento, 40 m de largura e 46 m de profundidade, para desviar o rio para permitir a construção da barragem a seco. Em julho de 2008, as fundações da barragem de enrocamento, de 470 m por 28,6 m de altura, foram iniciadas.
As baias de desvio foram configuradas como um par de cumbucas – 228 km2 a montante e 117 km2 a jusante, com 74 diques e quatro barragens.
O túnel de transferência que faz a interligação entre elas tem 2,9 km. Em setembro de 2007, cerca de 20 organizações ambientais lançaram uma nova campanha para interromper as obras, mas os indígenas Cree não aderiram.