Se os reflexos da crise econômica mundial iniciada em 2008 foram sentidos
em 2009, a perspectiva para o setor siderúrgico é de que, a partir de 2010, os próximos anos sejam de ouro, ou melhor… do aço
Há grande expectativa em relação ao novo ciclo de desenvolvimento do setor siderúrgico no Brasil, que estava com o consumo per capita estagnado há 26 anos. Com uma capacidade instalada de 42,1 milhões de t/ano de aço bruto e cerca de 27 usinas no parque produtor de aço no País, segundo o Instituto Aço Brasil (IABr), pipocam, por todas as regiões, grandes projetos para impulsioná-los.
A expectativa é de que os projetos de expansão atinjam investimentos de R$ 71,6 bilhões, elevando, segundo o IABr, a capacidade de produção para cerca de 77 milhões t, em 2016. Tudo para suprir uma demanda em função de projetos listados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Pré-Sal, da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, indústria automotiva e o aumento do consumo mundial.
“A indústria brasileira do aço está preparada para atender aos desafios do crescimento econômico. Nossa capacidade atual supera em 103% a demanda interna prevista para este ano e possibilita ao setor manter elevada posição exportadora. A retomada dos projetos de expansão demonstra a confiança da indústria do aço no crescimento sustentável do País e reafirma sua disposição de continuar abastecendo plenamente o mercado interno e ampliar sua participação nos mercados internacionais”, afirma o presidente do IABr, Marco Polo de Mello Lopes.
A ArcelorMittal Monlevade, por exemplo, dobrará a produção de aço a partir de 2012, enquanto a Vale, em parceria com a Thyssenkrupp Steel investiu US$ 8,2 bilhões de dólares para a construção do complexo siderúrgico CSA Siderúrgica do Atlântico, recém-inaugurado. É da Vale também o projeto da Companhia Siderúrgica de Pecém, com investimentos de US$ 4 bilhões e cujas obras de terraplenagem foram iniciadas no ano passado. A Usiminas também já anunciou um plano de investimentos de R$ 5,6 bilhões, enquanto a Votorantim inaugurou, em 2009, sua siderúrgica em Resende (RJ), com capacidade de produção instalada de 1 milhão t/aços longos e 500 mil t/de aços laminados.
O IABr prevê para este ano forte recuperação dos níveis de atividades da indústria do aço no País. O consumo deve crescer 24,4%, atingindo 23,1 milhões t de produtos siderúrgicos, enquanto as exportações estão estimadas em 11 milhões t (+27,4%), possibilitando desse modo aumento de 25,1% na produção de aço bruto, para 33,2 milhões t.
“Os desafios para o desenvolvimento dos programas de investimento dependem de regras estáveis, isonomia competitiva com os produtores de aço no exterior, assim como adequados mecanismos contra a competição predatória, que contraria os interesses de desenvolvimento e geração de empregos no País”, afirma Lopes.
ArcelorMittal retoma ampliação em Monlevade
A perspectiva de algumas empresas, caso da ArcelorMittal, é que a produção do setor de aços longos alcance níveis pré-crise a partir deste ano. A empresa retomou a duplicação da ArcelorMittal Monlevade, produtora de aços longos em João Monlevade (MG). Com a expansão, a usina dobrará a capacidade de produção de aço bruto de 1,2 milhão para 2,4 milhões t/ano de aço bruto. “O Brasil é um dos países que se recuperou mais rápido da crise financeira internacional. Assim, a demanda de aço tende a crescer no mercado interno nos próximos anos”, afirma o presidente da ArcelorMittal Aços Longos, Augusto Espeschit de Almeida.
A empresa iniciou a expansão em Monlevade há dois anos, quando foram realizadas apenas as obras civis de preparação para a duplicação, mas teve que suspender a montagem das instalações por causa da crise financeira mundial no último trimestre de 2008. Para atender ao crescimento do consumo e manter a participação no mercado nacional de aços longos, Almeida explica que a ArcelorMittal está retomando os investimentos nesse projeto.
No caso de Monlevade, a expansão exigirá investimentos da ordem de US$ 1,2 bilhão para a montagem de uma nova sinterização (2,3 milhões de t/ano); um novo alto forno (1,12 t/ano) para duplicar a produção atual de gusa; e de uma terceira laminação (1,15 milhão de t/ano) para dobrar o volume de produção de fio máquina para 2,3 milhões de t/ano por ano. A usina também duplicará a produção da aciaria, que atingirá 2,4 milhões de t de tarugos por ano quando entrar em operação.
Para concretizar o projeto, entre 60% a 80% dos recursos serão financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com linhas de crédito voltadas para serviços e equipamentos nacionais. As obras de Monlevade, que foram iniciadas em maio deste ano, têm prazo de conclusão previsto para 24 meses. O start up está previsto para 2012. A partir de 2014, com a operação plena da usina, a expectativa é um incremento na receita de R$ 200 milhões por ano.
Vale expande parcerias em siderúrgicas
A Vale e a Thyssenkrupp a TKCSA Siderúrgica do Atlântico, que demandou investimento de US$ 8,2 bilhões. Toda a produção do novo complexo siderúrgico, cerca de 5 milhões t/ano de placas de aço, será exportada, o que representará um aumento de 40% nas exportações brasileiras do produto. A Thyssenkrupp Steel tem 73,13% do empreendimento, enquanto a Vale participa com 26,87%.
A instalação da TKCSA é considerada um dos maiores investimentos no setor siderúrgico dos últimos anos do País. O projeto engloba, além de dois alto-fornos e aciaria, porto, coqueria e usina termelétrica. Além desse projeto, a Vale está diretamente envolvida em outros projetos que totalizam US$ 21 bilhões em investimentos nos setor siderúrgico, com geração de 80 mil empregos na implantação. “Entendemos que o Brasil é o melhor lugar para se produzir aço. Por isso, temos estimulado parcerias com nossos clientes para aumentar a produção no País”, explica Roger Agnelli, presidente da empresa.
Entre essesprojetos, está a usina de Aços Laminados do Pará (Alpa), que recebeu licença prévia em março deste ano, além de licença de instalação para a terraplenagem. Com início das operações previsto para 2013, a Alpa tem investimento previsto de US$ 3,2 bilhões. No ano passado, a Vale e a Aço Cearense assinaram memorando de entendimentos para a implantação das linhas de laminaç&a
tilde;o da Alpa – bobinas a quente (710 mil t/ano) e bobinas a frio (450 mil t/ano) e galvanização (150 mil t/ano). Além da usina siderúrgica para produzir placas e aços laminados, o empreendimento compreende a construção de um acesso ferroviário, a construção de um terminal fluvial no rio Tocantins para atender à siderúrgica.
Outro empreendimento da Vale é a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará, que é fruto de uma parceria com a coreana Dongkuk e terá capacidade de produção de 3 milhões de t/ano de placas de aço para exportação (6 milhões na segunda fase). A Vale tem 49% do empreendimento e a Dongkuk, 51%. A CSP, que tem investimento previsto de US$ 4 bilhões, na primeira fase, e entrará em operação em 2014, produzirá, além das placas de aço, energia elétrica para consumo próprio, e o excedente será disponibilizado para o mercado nacional.
A Companhia Siderúrgica Ubu (CSU) é outro investimento, de US$ 6,2 bilhões, da Vale, na cidade de Anchieta (ES). A CSU era, em 2007, uma parceria entre Baosteel e Vale, mas no ano passado, a Baosteel desistiu do complexo. A Vale assumiu 100% do empreendimento e, no final de 2009, entregou um Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impactos ao Meio Ambiente (EIA-RIMA) do projeto ao governo do Espírito Santo. A usina terá capacidade anual de 5 milhões de t de placas de aço, com início das operações previsto para 2014.
Gerdau produzirá aços planos em 2012
A Gerdau também comemora a boa fase do setor siderúrgico, impulsionada pela maior demanda da construção civil e da indústria. A empresa encerrou o primeiro trimestre de 2010 com 32% de crescimento nas vendas consolidadas em comparação com o mesmo período do ano passado. A Gerdau, nesse primeiro trimestre, destinou 61% dos R$ 233 milhões em investimentos para o Brasil. É apenas uma fatia dos R$ 9,5 bilhões de investimentos para o período 2010-2014, dos quais 80% serão direcionados para o Brasil.
Segundo o diretor-presidente da Gerdau, André B. Gerdau Johannpeter, o bom desempenho da empresa neste primeiro trimestre reflete o aumento da demanda por aço. “Estamos preparados para atender a expansão da demanda nos próximos anos, considerando nossa capacidade instalada atual e os investimentos programados”, afirmou.
Entre os investimentos previstos para o País está o laminador de aços planos (chapas grossas), em Ouro Branco (MG), cujo investimento é de R$ 1,75 bilhão. Esse equipamento, com início das operações programado para 2012, terá uma capacidade instalada de 1 milhão t/ano. Nesta mesma unidade, a Gerdau também prevê a expansão da capacidade de produção de perfis estruturais, de 540 mil t para 700 mil t por ano, investimento de R$ 100 mil, com entrada em operação em 2011. Também em 2011, será ampliado o serviço de corte e dobra de vergalhões e a fabricação de produtos de aço prontos para o uso, voltados para atender a construção civil. Os investimentos envolvem R$ 134 milhões.
O crescimento do mercado interno está levando a Gerdau a realizar vários estudos de investimentos. Entre eles, está a instalação de um novo laminador de rolos, o aumento da capacidade de laminação e expansões adicionais das unidades de transformação (corte e dobra de vergalhões e fabricação de produtos de aço prontos para o uso).
Usiminas terá tecnologia de chapa para petrolíferas
Já a Usiminas é outra empresa que anunciou um plano de investimento de R$ 5,2 bilhões, com a conclusão da coqueria 3, em Ipatinga (MG); além de melhorias operacionais nas plantas de Ipatinga e de Cubatão (SP). Os investimentos em Ipatinga representam a maioria dos recursos do plano da empresa, sendo que a nova coqueria 3 terá uma produção de 750 mil t/ano; enquanto a produção de chapas grossas terá uma tecnologia de resfriamento acelerado (CLC) para atendimento a requisitos dos projetos de exploração de petróleo do pré-sal. Ainda na cidade do Vale do Aço mineiro, haverá a expansão do laminador, o que ocasionará um aumento da produção para 1.350 mil t/ano (incremento de 450 mil t/ano); e também uma nova linha de galvanização, com produção de 550 mil t/ano de galvanizados a quente. O start up desses empreendimentos será entre 2010 e 2012.
Em Cubatão, a empresa está investindo na nova linha de tiras a quente 2, com uma produção de 2,3 milhões de t/ano, na primeira fase. O início é para o segundo trimestre de 2011.
Aciaria da VSB produzirá tubos de aço sem costura
A V&M do Brasil está conduzindo a construção da futura fábrica da Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB), no município de Jeceaba (MG), fruto de uma joint venture formada entre o grupo francês Vallourec e o japonês Sumitomo Metals, com investimentos de US$ 1,6 bilhão. Esse projeto de construção está estruturado em quatro grandes áreas: área comum, área de energia e utilidades, aciaria/alto fornos e laminação e rosqueamento. A parte de construção civil da laminação já conta com 80 mil m3 de concreto lançados, permitindo a liberação dos trabalhos de estrutura metálica dos prédios e equipamentos: já são 11,5 mil t montadas, com a utilização de 22 guindastes de grande porte, alguns com capacidade de içamento superior a 400 t.
Atualmente 70 mil m2 de área foram cobertos, assegurando a continuidade dos trabalhos de montagem eletromecânica de equipamentos nacionais e importados. A montagem mecânica do laminador PQF foi iniciada em junho, bem como a sua tubulação hidráulica.A VSB terá uma aciaria com capacidade para produzir 1 milhão de toneladas de aço bruto/ano. Desse total, 700 mil t serão utilizadas para a fabricação de 600 mil t de tubo de aço sem costura, com conexão de roscas premium. As 100 mil t restantes são recicladas dentro do ciclo de produção, retornando ao forno elétrico. As outras 300 mil t de aço bruto serão transformadas em barras lingotadas para o Grupo Vallourec.
Votorantim também aposta na evolução do mercado
No ano passado, entrou em operação a siderúrgica de Resende (RJ), um projeto com investimento de mais de R$ 1 bilhão, com capacidade de produção instalada de 1 milhão t de aços longos e 500 mil t de aços laminados. Estrategicamente, a siderúrgica da Votorantim está junto à rodovia Presidente Dutra, para permitir o abastecimento dos principais mercados do País.
“O plano de investimentos do Grupo Votorantim acompanha o bom momento da economia brasileira”, afirma o presidente da Votorantim Industrial, José Roberto Ermírio de Moraes.
Outro investimento inaugurado em junho pela Votorantim é a central de corte e dobra de aço e unidade de distribuição, em Aparecida de Goiânia (GO). A escolha da cidade é estratégica para a Votorantim, que deseja expandir suas operações na região, considerada uma das que mais se desenvolvem no país. O objetivo é garantir praticidade e economia no canteiro de obras, gerando as centrais de corte e dobra que dimensionam as bobinas e as barras de aço de acordo com as necessidades das construtoras.
CSN vai investir R$ 34 bilhões até 2016
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) planeja investir R$ 34 bilhões, entre 2010 e 2016, visando o crescimento de diversas atividades de atuação. A empresa espera começar a operar três novas unidades de aços longos, com capacidade de 500 mil t cada uma – a primeira já em 2011 e as outras duas, em 2012. A intenção é produzir vergalhões e fios-máquina. Em 2012, também será inaugurado novo módulo de aços planos com capacidade de 1,5 milhão t.
Em relação ao minério de ferro, a expectativa da CSN é de continuidade do cenário de mercado aquecido nos próximos meses. A companhia espera reajuste positivo dos contratos para o terceiro trimestre, considerando as altas dos preços do mercado à vista (spot) chinês este trimestre.
Na área de mineração, a CSN caminha rapidamente para atingir 110 milhões t até 2014. A companhia almeja passar da sexta para a quarta posição no ranking das maiores mineradoras de ferro do mundo, ficando atrás apenas da Vale, Rio Tinto e BHP Billiton. Neste ano, com a exportação de 40 milhões t de minério de ferro, deverá responder por 4% do mercado transoceânico. Para 2015, a meta é atingir 6%, com cerca de 90 milhões t. Nessa área, investimentos como os de Casa de Pedra, Namisa e de portos receberão recursos da ordem de R$ 13 bilhões.
De olho no cimento
Outro segmento que terá atenção especial da CNS é o de cimento. Iniciadas as operações nessa área no ano passado, a empresa tem hoje a capacidade de moagem de 2,8 milhões t e de venda de 2,4 milhões t do produto.
A CNS informa que, a partir de outubro de 2010, colocará em funcionamento uma fábrica de clínquer em Arcos (MG), que terá capacidade para produzir 830 mil t. Na mesma cidade também haverá uma unidade de cimento, com capacidade para moagem de 600 mil t. Até 2015 ou 2016, a empresa pretende atingir a capacidade cerca de 6,5 milhões t, com a inauguração de mais três fábricas.
Principais empreendimentos do setor siderúrgico no Brasil
ArcelorMittal – Duplicação da ArcelorMittal Monlevade
Investimentos: R$ 1,2 bilhão
Expansão: usina dobrará a capacidade de produção de aço bruto de 1,2 milhão para 2,4 milhões de t/ano de aço bruto
Operação plena da usina: 2014
Vale
TKCSA – A Siderúrgica do Atlântico, parceria entre a Vale e a Thyssenkrupp, já está comissionada
Investimentos: US$ 8,2 bilhões
Produção: 5 milhões t/ano de placas de aço que será totalmente exportada
Alpa – Aços Laminados do Pará
Investimentos: US$ 3,2 bilhões
Produção: capacidade anual de 2,5 milhões de t/ de placas
Entrada em operação: novembro de 2013
Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP)
Investimentos: US$ 4 bilhões (primeira fase)
Produção: capacidade de produção anual de 3 milhões de t/ano de placas de aço para exportação (6 milhões de t/ano, na segunda fase)
Entrada em operação: 2014
Companhia Siderúrgica UBU (CSU)
Investimentos: US$ 6,2 bilhões
Produção: capacidade anual de 5 milhões de t de placas de aço
Início das operações: 2014
Usiminas
Investimentos em 2010 e 2011: R$ 5,6 bilhões
Projetos: conclusão da coqueria 3, em Ipatinga (MG); projetos de melhoras operacionais nas plantas de Ipatinga e de Cubatão (SP). Em 2011, estão previstas a ampliação da Unigal e a implantação do novo laminador de tiras a quente em Cubatão
Produção: 7 milhões de t/anual (dezembro de 2010) e atingir, gradativamente, a produção de 29 milhões de t/anual até 2014
Gerdau
Investimentos previstos entre 2010-2014: aproximadamente R$ 8 bilhões
Principais projetos: laminador de aços planos e outro de bobinas a quente, em Ouro Branco (MG); expansão da capacidade de produção de perfis estruturais de 540 mil t para 700 mil t/ano, também em Ouro Branco; ampliação das centrais de corte e dobra de vergalhões
CSN
Investimentos previstos: US$ 340 milhões
Projetos: novos negócios e novos mercados a serem estabelecidos com a produção de 500 kt/ano de aços longos (vergalhões e fio máquina). Produção de 400 kt/ano de vergalhos. Produção de 100 kt/ano de fio máquina
Status: em execução, com start up previsto para o 1º semestre de 2011
Projetos: estudos de viabilidade em andamento para viabilizar a expansão da CSN através da implantação de duas mini mill para produção individual de 500 kt/ano cada de vergalhões (400 kt/ano) e fio máquina (100 kt/ano).
start up previsto: 2013
V&M
Projeto: futura fábrica da Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB)
Investimentos: US$ 1,6 bilhão
Produção: capacidade para produzir 1 milhão de toneladas de aço bruto/ano e tubos sem costura
Votorantim
Investimentos na Usina Siderúrgica em Resende, 2009: US$ 550 milhões
Projetos: sexta central especializada em corte e dobra de aço, junto com a primeira unidade de distribuição na região Centro-Oeste