Carlos Brazil – Santos (SP)
Em um momento em que se discute intensamente a necessidade de o Brasil investir em transporte aéreo, especialmente o de passageiros, o litoral paulista surge como lugar ideal para receber a atenção do setor. Afinal, nenhuma cidade ao longo dos mais de 600 km de extensão da costa do estado dispõe de um aeroporto capaz de receber voos regulares.
Além da vocação turística, as cidades litorâneas de São Paulo atraem a atenção ao desenvolvimento de outros negócios, como são os casos de Santos – que abriga o maior porto da América Latina e será importante centro de gestão da exploração do pré-sal –; Cubatão – e seu polo industrial –; e São Sebastião – com o porto local e um terminal marítimo da Petrobras.
Dispor de aeroportos bem estruturados, que podem receber voos comerciais e regulares, é importante estratégia para estimular o desenvolvimento do litoral, segundo avalia Jarib Fogaça, sócio-líder de negócios da área Aeroespacial e Defesa da KPMG no Brasil. “Com as estruturas estando disponíveis, os negócios vêm (para as cidades). Há um estímulo para os empreendimentos.”
Então, por que uma região com tantos atrativos ainda não dispõe de terminais aeroportuários decentes?
Apesar de a resposta não ser fácil, autoridades governamentais parecem ter percebido que é preciso mudar o panorama. Assim, dois projetos distintos podem colocar três áreas do litoral paulista no mapa da aviação comercial: a implantação do Aeroporto Civil Metropolitano do Guarujá, na Baixada Santista; e a concessão à iniciativa privada dos aeroportos estaduais de Itanhaém, ao Sul, e Ubatuba, ao Norte da costa.
Questionado se os projetos são factíveis, Jarib Fogaça é taxativo: “Viabilidade econômica certamente há”.
Aeroporto do Guarujá
O governo federal tem o Plano de Aviação Regional, que prevê a construção do Aeroporto Civil Metropolitano do Guarujá, em área cedida pela Base Aérea de Santos. Incluído entre os 270 aeroportos nacionais prioritários do plano – orçado em R$ 7,3 bilhões –, o projeto do terminal não está concluído, podendo ter capacidade de atendimento de 500 mil a 1 milhão de passageiros ao ano.
Segundo a Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, está em licitação a contratação de empresa que elaborará os projetos de obras dos 270 aeroportos do plano. Eles apontarão o que precisará ser feito em cada um deles, para que a secretaria defina valores de investimento. Diagnóstico preliminar aponta que em alguns aeroportos são necessárias poucas intervenções. Em outros, as obras serão mais significativas. No caso do Guarujá, será construído um terminal completamente novo.
Se de fato for concretizado, o aeroporto será instalado em área próxima do Porto de Santos, de fácil acesso a toda a Baixada Santista. Isso deve beneficiar o turismo local. “A conexão com navios de cruzeiro deve acontecer”, destaca Fogaça. Vale lembrar que, inicialmente pensado para atender à demanda da Copa do Mundo, é certo que o Aeroporto do Guarujá não ficará pronto a tempo.
Itanhaém e Ubatuba
Administrados pelo Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo, os aeroportos de Itanhaém e de Ubatuba não recebem voos comerciais. Ambos estão incluídos no Programa de Exploração Aeroportuária do governo paulista, que prevê a concessão de cinco terminais aéreos. Além dos dois litorâneos, fazem parte do pacote os aeroportos dos Amarais/Campinas, de Bragança Paulista e de Jundiaí.
O modelo de concessão da proposta – em fase de consulta pública ao longo de setembro – prevê que todos os cinco aeroportos serão concedidos ao vencedor da licitação, em um “pacote fechado”. A proposta econômica mínima do pré-edital é de R$ 11,5 milhões.
Vale lembrar que há grandes desafios técnicos a ser resolvidos em ambos os aeroportos. Em Ubatuba, por exemplo, a pista tem apenas 940 m de extensão, por 30 m de largura, e pouquíssimo espaço para expansão.
“É natural que o setor de aeroportos esteja mudando bastante no Brasil, principalmente com as concessões de Brasília, Guarulhos e Viracopos. Há um ambiente positivo depois dessas concessões, o que estimula o Governo de São Paulo a ir por este caminho”, avalia Jarib Fogaça.
Para o executivo, em condições mais adequadas, certamente empresas gestoras, empreiteiras e as próprias companhias aéreas terão interesse em atuar nessas regiões. “Com a concessão à iniciativa privada, muda-se completamente a perspectiva do negócio”, conclui.
Fonte: Revista O Empreiteiro