Sobrepreço, seja qual for o preço com o qual a sociedade tenha de arcar, com esse tipo de desvio, é sintoma de que algo escandaloso está acontecendo, aconteceu ou não para de acontecer. Conviver com ele é imaginar que há uma sangria desatada, difícil de ser estancada.
O País convive secularmente com as distorções do sobrepreço. O que me pergunto é como um país pode agüentar, durante todo o tempo, com o saque ininterrupto de seus recursos orçamentários.
Há algum tempo comecei a relacionar obras hiperfaturadas. – Aquelas que são de conhecimento geral, pois estão na agenda diária da imprensa, e aquelas, menores, situadas nas franjas longínquas de algumas regiões, mas cujo sobrepreço chega ao nosso conhecimento por intermédio das auditorias do Tribunal de Contas da União. A relação não tem fim.
Ferrovias, rodovias, obras de saneamento, obras da Petrobras. As denúncias não param. E a transposição? E a Ferrovia Norte Sul? Caso insistamos em avançar pelas regiões Norte e Nordeste, e por outras mais, a situação vai esquentando.
Há justificativas e compreendemos. É mesmo muito difícil orçar uma obra na região amazônica nas mesmas condições em que obra semelhante pode ser orçada no Nordeste. As condições geológicas e climáticas podem mudar tudo. Mas, mesmo por aí, as justificativas se tornam inconsistentes.
É que a idéia central, para evitar os sobrepreços, é o planejamento, seguido dos projetos executivos rigorosamente elaborados. Com planejamento e bons projetos o sobrepreço poderia até aparecer, mas como uma exceção. Hoje, no axioma do sábio do Cosmo Velho, as exceções confirmam as regras. E, essa, é tragédia brasileira.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira