Eu o conheci alguns anos depois que, com a primeira letra do seu nome – M – ajudou a constituir, em 1961, a Themag Engenharia, uma das mais conceituadas empresas de consultoria de engenharia do País. À época, analisava anteprojeto, recebido da Itália (Societá Edison, Milão), que propunha a construção de duas usinas hidrelétricas para aproveitamento das quedas de Urubupungá, no rio Paraná: Jupiá e Ilha Ssolteira.
A partir do exame daquele anteprojeto, Milton Vargas defendeu uma variante para as obras civis, o que não só garantiu tecnicamente o desenvolvimento dos serviços, como proporcionou vantagens sobre a proposta original. A variante, elaborada pela Themag como projeto executivo, reduziu o prazo da construção da usina hidrelétrica de Jupiá e ajudou a acelerar o cronograma da outra hidrelétrica, Ilha Solteira. Com essas obras, a engenharia brasileira passou a ser vista como detentora do pleno domínio da arte de construir barragens.
Depois dessa etapa do projeto de Urubupungá mantive com ele vários contatos, todas as vezes para me inteirar de aspectos da evolução da engenharia brasileira. As conversas derivavam para o conhecimento dos artigos que ele publicava. Ele enriqueceu, com sua colaboração, o livro organizado por Shozo Motoyama, Tecnologia e industrialização no Brasil, publicado pela Editora Unesp, que é um apanhado, o mais amplo possível na época, sobre a industrialização no Brasil e as obras de infraestrutura construídas para dar suporte àquele processo.
Milton Vargas, mestre da especialidade mecânica de solos, primeiro presidente da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS), trabalhou também nos projetos de obras da Chesf e em vários outros empreendimentos importantes para a construção do Brasil moderno. Nascido em 1914, em Niterói, era um pensador que agregava os estudos da engenharia a uma ampla cultura humana. Ele morreu dia 12 último, em São Paulo-SP, aos 97 anos de uma vida dedicada ao ensino, à engenharia e à filosofia.
Fonte: Estadão