Novas fronteiras

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Se tudo é favorável, o que pode atrapalhar? A falta de logística de transporte e escoamento. “Está na hora do Brasil copiar o que foi feito nos Estados Unidos, com sistema ferroviário que vai do estado do Mississipi ao Golfo do México, e na Europa, com sistemas que integram mar, rios e canais, interligando as áreas de produção com as de demanda”.

Depois de solidificar a estrutura produtiva e comercial na região Centro-Oeste, o Agronegócio (grãos) estende suas teias sobre áreas até então ignoradas: o Norte e Nordeste do País. Segundo Olavo Batista de Souza, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), quem quiser apostar no futuro deve demarcar no mapa as regiões do Norte do estado do Maranhão e o cerrado piauiense.

“Estes serão os futuros pólos de produção, a exemplo do que já ocorre em outros lugares. Ainda estão em estágio incipiente, mas a agregação pelo Agronegócio já começou. E onde ele chega, tem um poder de multiplicação de renda, de geração de emprego, de demanda por serviços que gera desenvolvimento num grande perímetro ao seu redor”, diz ele. Luis Eduardo Magalhães, na Bahia, Balsas, no Maranhão, e Sorriso, no Mato Grosso, são apontadas como exemplos dessa recente transformação econômica.

Hoje é possível visualizar uma clara tendência econômica, explica o técnico: as regiões Sul e Sudeste, com logística sedimentada e áreas a custo elevado, focam o Agronegócio de valor agregado, tais como industrialização de produtos lácteos e frigoríficos. Enquanto a outra ponta, do Centro-Oeste para o Norte e Nordeste, com abundância de terras, firma-se na produção das commodities. “O Norte e Nordeste oferecem uma condição bastante favorável, pois possuem grandes áreas agriculturáveis e estão próximos aos Portos de Suape (PE) e Pecém (CE), por sua vez mais próximos aos mercados compradores da Europa e Estados Unidos”, lembra.

O Brasil conta com cerca de 46 milhões de área agrícola plantada. Nos últimos 30 anos, o tamanho da área plantada não aumentou, mas a produtividade triplicou. Então, segundo análise de Souza, se os 200 milhões de hectares de pastagens anti-econômicas fossem reconvertidas à produção agrícola, ou pelo menos a metade disso, a produção poderia pular de 143 milhões t para pelo cerca de 350 milhões t, tornando o Brasil realmente o “celeiro do mundo”.

Nesse sentido, a Conab vêm efetuando um levantamento desde 2005 dos principais Corredores de Escoamento da Produção Agrícola, a fim de auxiliar na política de investimentos públicos em transporte. O trabalho ficou a cargo da Diretoria de Gestão de Estoques (Diges), da qual Souza faz parte.

Umas das fortes alavancas para a conexão do Norte com o Centro Oeste será a ferrovia Norte-Sul, que já tem pronto um trecho de 400 km saindo de Açailândia, no Maranhão, até Colinas do Tocantins e Guaraí, também no estado do Tocantins. “Ela já trouxe um grande impulso para o agronegócio da região”, diz. Destaca ainda as características modernas da ferrovia, semelhantes à de Carajás, com trilhos especiais, dormentes de concreto, bitolas de 1m 60, que permitirá ao trem viajar a maior velocidade.

O Estado do Tocantins, por sinal, oferece diversas opções para o escoamento da produção, como a BR 153 (Belém-Brasília), assim como o rio Tocantins (ao Leste) e o rio Araguaia (a Oeste). Uma experiência recente analisou a viabilidade do transporte de barcaças de grãos pelo rio Tocantins. “Os meios de transporte são importantes ferramentas de competição. Atualmente o Tocantins é o único que oferece tal oferta de modais, facilitando a chegada dos produtos do Centro-Oeste aos portos do Nordeste. Infelizmente, existe certa resistência contra a construção de barragens. Mas é preciso buscar uma situação conciliadora, construir eclusas, para não desperdiçar o potencial dos rios”. Segundo ele, a utilização do conjunto de modais permitirá uma economia de 4 a 5 mil km em linha reta e já existe uma grande expectativa dos exportadores inclusive no exterior para que esse corredor se viabilize logo.

O corredor do Rio Madeira, englobando os estados de Mato Grosso, Rondônia e Amazonas, está bastante consolidado em torno das hidrovias com transporte médio de 4 a 6 milhões de t de grãos vias barcaças. A construção da usina de Jirau é apontada como fundamental, não apenas como geração de energia, além de permitir, por meio de eclusas, a regularização da navegação em todo o rio Madeira e afluentes, integrando a região de uma forma direta à Bolívia e ao Peru, e por sua vez, facilitando o acesso ao Oceano Pacífico e em seguida ao mercado asiático e à costa-oeste norte-americana.

Já corredor Cuiabá-Santarém (BR163), que passa pelos estados do Mato Grosso e Pará, é o que tem avançado mais lentamente, com atrasos nos processos de licitação. Há também os corredores do Rio São Francisco (estados de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco); do Corredor Transnordestino (Pernambuco, Ceará e Piauí), e Corredor da BR 242 (da Bahia), cujas obras são bastante dependentes de recursos do PAC.

“O produtor vive hoje um dilema, pois ele precisa produzir muito mais, aproveitar o bom momento das demandas e preços, no entanto tem o custo do frete e do transporte pela frente. O Brasil já oferece uma boa estrutura de comercialização e estoques. Mas perde em capacidade de financiamento em comparação aos americanos e europeus. Nesse cenário, a melhoria da infra-estrutura de transporte e armazenagem é fundamental, para permitir a expansão do agronegócio com competitividade”, conclui.

Fonte: Estadão


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