Transição pacífica

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O processo de industrialização vivenciado pelo Mato Grosso começou em 2003, alavancado pelo Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial, que na prática libera diversos incentivos para a instalação de empresas. Atualmente, 51 municípios estão envolvidos em processos de industrialização e estima-se investimentos de R$ 6 bilhões no estado, nos próximos três anos, por conta de indústrias agregadas à produção agropecuária do estado. A explicativa é simples: líder na produção de grãos, o Mato Grosso acabou atraindo as indústrias frigoríficas pela proximidade com o mercado fornecedor de ração. Também vem atraindo indústrias do setor de biodíesel, e têxteis, por conta da produção de algodão.

Desde sua implantação, os incentivos do Prodeic atraíram R$ 1,5 bilhão de investimentos, atendendo 461 empresas, e gerando mais de 22 mil empregos diretos, 75 mil empregos indiretos. As atividades vão do esmagamento de soja à reciclagem de embalagem, em 20 atividades diferenciadas. Segundo o governador Blairo Maggi, em 2008, o Estado deve consolidar a transição de um perfil essencialmente agrícola para outro voltado para a agroindústria. “É uma nova fase que o Estado experimenta, de ampliar a produção de maior valor agregado”.

Grande produtor de grãos e algodão, Mato Grosso tem atraído empresas como Sadia, Perdigão, Friboi e Big-Frango. Agora as esmagadoras começam a voltar ao Estado: além de uma unidade da Bunge, estão em construção a unidade pertencente ao Grupo AMaggi, em Lucas do Rio Verde, e outra da Cargill, em Primavera do Leste. Os três investimentos somam R$ 600 milhões, de acordo com o governador. Apesar dos fortes investimentos da agroindústria, a questão logística ainda é um entrave. O estado tem um dos maiores custos de transporte do País, com os piores gargalos no norte do Estado – a demanda principal é com respeito às obras de extensão da rodovia BR-163 pelo Pará, para o escoamento dos produtos pelos portos da região Norte. A rodovia é uma das incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.

Sadia expandirá a produção

A Sadia vai construir no Mato Grosso uma nova unidade de produção em Campo Verde, localizada a 130 km de Cuiabá e dona do maior PIB agropecuário do País. O projeto inclui um abatedouro de frangos, uma fábrica de rações, silos de estocagem de grãos, além de um incubatório. Com investimento total estimado em R$ 630 milhões, a ser feito a partir de 2009, dos quais R$ 400 milhões próprios e R$ 230 milhões de terceiros, a unidade deve entrar em operação no segundo semestre de 2010 e, quando estiver funcionando à plena capacidade, em 2011, vai gerar uma receita adicional anual à Sadia de R$ 780 milhões. A previsão é a de que 60% da produção seja destinada ao mercado externo. Ao todo, serão gerados 3,5 mil empregos diretos e outros 9.000 indiretos.

O projeto de Campo Verde terá 52 mil m² de área construída e capacidade para abater 500 mil frangos/dia, enquanto a nova fábrica de rações irá produzir 80 mil t/mês. O projeto prevê também a construção do chamado “ciclo completo de aves”, que inclui um incubatório de frangos com capacidade para produzir 150 milhões de ovos férteis/mês, um sistema de integração com 200 granjas avícolas e silos para grãos.

A decisão da Sadia de intensificar os investimentos no Mato Grosso deveu-se a necessidade de aumentar de escala, já que a companhia atualmente já produz frangos em Campo Verde. Outros fatores importantes são a localização geográfica e a abundância de grãos de Campo Verde, uma grande produtora de milho e soja. A empresa já está presente no município com um incubatório, granjas próprias, fábrica de rações e armazéns de grãos, os quais abastecem a planta de Várzea Grande. No Estado, a Sadia também está construindo uma unidade de grande porte em Lucas do Rio Verde, a qual começa a operar até o final do ano.

O projeto está em linha com a estratégia da Sadia de investir em seu core business e no aumento da capacidade produtiva da companhia, por meio da ampliação de unidades já existentes e da construção de novas plantas. “Estamos implementando este ano um plano de investimento ambicioso e pretendemos seguir nesse mesmo caminho em 2009. Projetos como esse de Campo Verde fazem parte da nossa estratégia de dobrar o tamanho da Sadia em cinco anos”, ressalta o diretor presidente da Sadia, Gilberto Tomazoni.

Os abatedouros terão ainda uma moderna estação de tratamento de efluentes com capacidade equivalente à de uma estação de tratamento de resíduos gerados por um município com 80 mil habitantes. As tecnologias de reuso de água, captação de águas pluviais e reciclagem já praticadas nas unidades da empresa serão aplicadas na nova planta. “Essas iniciativas reafirmam o compromisso que temos com os princípios do desenvolvimento sustentável e demonstram a nossa preocupação com o meio ambiente e com a comunidade”, finaliza Tomazoni.

A empresa também anunciou investimentos de R$ 650 milhões até 2010 na construção de um abatedouro de suínos em Mafra, no estado de Santa Catarina. A cidade será a sede da terceira unidade do grupo naquele estado, que já mantém uma fábrica de rações e granjas de produção integrada. Segundo a empresa, diferenciais como infra-estrutura de produção e a localização estratégica da cidade – próxima aos portos de Paranaguá (PR), Itajaí (SC) e São Francisco do Sul (SC) – foram considerados na decisão.

Perdigão investe em Goiás e Santa Catarina

A Perdigão vai investir cerca de R$ 70 milhões em novas fábricas nos municípios gaúchos de Três de Maio e Bagé pela Perdigão Empresa de Alimentos. Os recursos serão destinados à produção de leite e derivados e irão gerar mais de mil empregos diretos e 3 mil indiretos. A construção da fábrica em Três de Maio, começa ainda neste ano e, segundo o diretor de Relações Institucionais da Perdigão, Ricardo Menezes, deverá estar concluída em 14 meses. “O Brasil hoje está se habilitando como um grande exportador de leite em pó no mundo e uma das possibilidades é que a unidade de Três de Maio se torne exportadora, devendo produzir em toro de duas mil toneladas de leite em pó por mês”, destacou.

Em Bagé, a Perdigão vai construir um posto de recepção e resfriamento de leite, com investimentos de R$ 1 milhão, e deverá estimular o crescimento da bacia leiteira na região, através do program

a Clube do Produtor. O potencial de crescimento da bacia leiteira na região, segundo a empresa, é muito grande e logo que a unidade estiver funcionando deverá produzir cerca de 150 mil litros por dia.

No início do ano, a empresa já tinha anunciado investimentos de R$ 1,1 bilhão em seus negócios de aves e suínos nos municípios de Mineiros, Jataí e Rio Verde, todos em Goiás. Destes, cerca de R$ 700 milhões serão aplicados na expansão dos sistemas de integração de aves e suínos, com o objetivo de atender as unidades instaladas nessas cidades, onde a empresa mantém contratos de fornecimento com produtores locais. Os produtores utilizam suas fazendas para criarem os porcos e as aves cedidos pela Perdigão, que também disponibiliza a ração. Quando chegam ao ponto de abate, os animais voltam para as mãos da companhia, que os utiliza na fabricação de alimentos processados.

Por esse instrumento, os R$ 700 milhões mencionados serão direcionados a 150 novos produtores rurais. São esses produtores, inclusive, que irão tomar os recursos, por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), com intermediação do Banco do Brasil. A Perdigão pode entrar como avalista dos empréstimos. Dos R$ 400 milhões restantes, informou a empresa, R$ 165 milhões serão investidos na ampliação da capacidade de processamento de aves da unidade de Jataí. Os outros R$ 235 milhões irão para projetos já iniciados em Mineiros e Rio Verde.

Diversificação

No eixo da BR-163, a JBS-Friboi, pretende construir dois frigoríficos em Sorriso. Uma das unidades deverá ter capacidade de abate de 6 mil cabeças de gado por dia e outra poderá abater 12 mil suínos diariamente. A empresa deverá investir até US$ 300 milhões, gerando 5 mil empregos diretos e um potencial de faturamento anual de US$ 1 bilhão.

Enquanto isso, no Leste do Estado do Mato Grosso, o Big Frango implementa um complexo industrial na cidade de Primavera do Leste. Com investimentos de R$ 450 milhões, a unidade produtiva irá sustentar o abate de 160 mil aves, já a partir do ano que vem. O grupo já inicia a instalação de 400 granjas com produção de 800 mil aviários que produzirão 1milhão e meio de frangos/mês. Esta produção em alta escala exigirá, além do frigorífico a implantação de uma fábrica de ração, uma de aproveitamento de sub-produtos e ainda, quando em pleno funcionamento, previsto para daqui a dois anos, a produção de 600 mil litros diários de biodiesel extraído das vísceras e da gordura do frango. A empresa planeja a instalação de uma incubadora e uma fábrica de embutidos.

Segundo Evaldo Ulinski, diretor do grupo, os motivos da instalação Big Frango em Primavera são melhor forma de aproveitar os incentivos estaduais para a atração de indústrias, que somados ao baixo custo dos grãos garantem a produção da carne de frango a preços competitivos em todo o mundo. O Big Frango, com sede em Rolândia/PR exporta para 53 países, com certificado de venda para a Comunidade Econômica Européia.

Na região do Alto Araguaia, próximo ao terminal ferroviário, a empresa holandesa Agrenco investe R$ 130 milhões no seu complexo de 170 mil m². A unidade será responsável pelo esmagamento de 1 milhão de t de soja para extrair farelo, óleo e lecitina; geração de 165 mil t de biodiesel 100% puro, além de gerar 200 mil MW de energia elétrica.

Do minério para a agro-indústria

O grupo Bertin deu início em Diamantino (MT) à construção de um complexo industrial que envolve um abatedouro de bovinos, uma usina de biodiesel e uma indústria de couro agrega em uma mesma região diferentes segmentos da cadeia da pecuária, representa um investimento de R$ 230 milhões. O município já viveu o apogeu da extração de diamantes, ouro, borracha, e agora investe na vocação agro-pecuária.

A opção da empresa por Diamantino, o segundo município mais antigo do Estado, se deve a dois focos principais – agregar diferentes produtos da cadeia pecuária e aproveitar a localização estratégica do município, próximo das duas principais rodovias federais que cortam Mato Grosso – BRs 364 e 163. A instalação dos empreendimentos vai promover a integração da cadeia produtiva da pecuária de corte com a agricultura agregando valores a cada bovino abatido, uma vez que vamos aproveitar tudo, desde a carne até o sebo bovino, integrando diferentes produções, segundo o diretor do grupo Bertin Evandro Miesse.

A Bertin possui outras 30 unidades agro-industriais pelo Brasil. Como atividade complementar, a empresa construirá um curtume de onde tirará o couro wet-blue. A terceira atividade é a produção do biodiesel do sebo, com metas de atingir, junto com suas outras unidades, espalhadas pelo Brasil, pelo menos 14% das necessidades do mercado nacional. “Com a instalação dos empreendimentos na região, o grupo vai promover a integração da cadeia produtiva da pecuária de corte com a agricultura agregando valores a cada bovino abatido, uma vez que vamos aproveitar tudo, desde a carne até o sebo bovino, integrando diferentes produções”, afirma Evandro Miesse, diretor do Grupo.

Fonte: Estadão


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