Ele era um chefe diferente. Mas, diferente em quê? E por quê? Às vezes é difícil explicar. Possivelmente porque nunca parecia um chefe. Ou talvez porque nunca precisou demonstrar, na prática, que era um chefe, nos moldes como invariavelmente se imagina alguém acostumado a dar e a fazer cumprir ordens. Ele jamais se alterava, nem alterava a voz, como às vezes fazem os chefes.
A impressão era de que, quando mais necessitava falar alto, mais abaixava o tom, como se quisesse fazer o interlocutor concentrar toda a atenção possível, para ouvi-lo e entendê-lo. Entendê-lo não era tarefa complicada. Afinal, ele falava e gesticulava e, de vez em quando, os gestos substituíam as palavras.
A rigor não havia, naquele imenso canteiro de obras de Itaipu, quem não o entendesse e corresse para cumprir o que ele pedia. Porque ele pedia; não ordenava. E todos sabiam que deveriam obedecê-lo.
Em poucas palavras esse é o perfil, que desenho na memória, do engenheiro Rubens Vianna de Andrade. Cheguei em Itaipu, para visitar e escrever sobre as obras, no começo dos anos 1980. Precisando conversar com ele, me disseram: “É ali, onde está aquela porta aberta”. Constatei, naquela e em outras ocasiões em que o procurei, que ele não tinha o hábito de manter fechada a porta do escritório. Sentia-se melhor vendo e ouvindo os companheiros e os ruídos do entorno. Quem quisesse falar com ele, a porta estava aberta.
Contudo, mantinha um comportamento que anulava, de pronto, qualquer possibilidade de confronto em qualquer discussão. O argumento que expunha, no encaminhamento das obras, era claro e margem a dúvidas. Sua ordem – ou pedido – era repassada para diversas frentes de trabalho e repetida de boca em boca: “O dr. Rubens quer que seja feito assim”. A prática demonstrava os acertos das decisões tomadas, numa obra que seria a segunda maior hidrelétrica do mundo, depois de Três Gargantas, na China.
Os relatos que ficam dão a dimensão da personalidade simples, afável e, no entanto, determinada. Alguns de seus colaboradores diziam que poderia estar na obra a autoridade que fosse, até mesmo general Costa Cavalcanti, presidente da Itaipu Binacional. Ele não mudava os hábitos. Saía do escritório, acompanhado pelo general, atentava para o contingente humano envolvido nas múltiplas atividades de engenharia e seguia em frente, observando, conversando, não deixando de considerar a opinião de nenhum trabalhador.
Rubens fora funcionário da Companhia Auxiliar de Empresas Elétricas Brasileiras (Caeeb), antes de ser contratado para as obras de Itaipu, onde exercer a função de superintendente de obras. Foi a partir do amplo conhecimento técnico e humano que ele adquiriu na construção da hidrelétrica, que passou a ser chamado de Mister Itaipu. Eleito, em 1982, pelo Instituto de Engenharia de São Paulo, como Eminente Engenheiro do Ano, seus colegas passaram a chamá-lo por aquele apelido, que ele considerava uma homenagem. Falecido aos 84 anos, Rubens Vianna é merecidamente lembrado agora pela revista O Empreiteiro. Ao reativar o Prêmio Criatividade na Engenharia, a revista o elege como patrono da 6ª edição desse certame técnico.
(Matéria publicada na edição OE 539)
Fonte: Nildo Carlos Oliveira