E, então, vem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e nos informa que 18,6 milhões de brasileiros, número correspondente à população de Minas Gerais, vivem em áreas urbanas com esgoto na porta. E, mais: o esgoto está ali a céu aberto. Apesar de perplexo com esse número extraordinário de pessoas expostas a dejetos e à toda sorte de riscos disso decorrentes, vi-me prestes a fazer a pergunta: “Mas, só isso? Imaginava um número bem maior”.
Mas, fiquemos com o número oficial. É gente pra burro. E se, por aqui, ele não nos causa espanto maior, em outros países provoca fricções, repulsa e – quem sabe? – o reconhecimento de que o Brasil efetivamente não anda fazendo direito a lição de casa quanto a obras de saneamento.
Mas, avançando pela pesquisa daquele instituto, vamos concluir que chega a 5,1 milhões o número de moradias, na maior parte absolutamente subumanas, que ficam penduradas precariamente a alguns passos de valas ou córregos estagnados, com água podre.
Não seria para ser assim. A construção de obras de esgotamento sanitário não é tarefa complexa. Está aí a engenharia que não me deixa mentir. Ela está acostumada a construir dutos e oleodutos. A levar essas obras por montanhas e vales, transportando-a sobre o sob imensos cursos d´água e a conduzi-la mar adentro. De forma que construir tubulações de esgoto não constituiria problema.
A complexidade está mais embaixo. O que há é carência de investimentos para saneamento. E, lastimavelmente, saneamento significa obra enterrada. – Uma face oculta que, na prática, não dá dividendos políticos. Trata-se evidentemente de uma visão míope. Como se inaugurar uma obra que não está à vista, conquanto seja imprescindível à saudade da população?
Mas, voltemos a falar do IBGE e de suas estatísticas. São 18,6 milhões de brasileiros que convivem com esgoto a céu aberto. Esse número possivelmente não corresponda a uma realidade mais visível na metrópole paulistana. Por aqui temos a visão – e o fedor – do Canal do rio Pinheiros. Quantos milhões de pessoas passam pelas marginais desse curso d´água todos os dias, de manhã à noite?
Falta de saneamento não é falta de engenharia. É falta de vergonha, mesmo.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira