Um juiz do Supremo diz que não julga de ouvidos abertos à opinião pública. Não se importa, a partir de suas convicções, com as críticas que acaso os jornais, a rigor intérpretes de segmentos da opinião pública, venham a lhe dirigir. Resumindo, ele dá de ombros para os que eventualmente venham a revelar posições contrárias ao pensamento que orienta o seu julgamento. O juiz disse isso ao referir-se aos recursos a que os defensores dos réus do mensalão insistem em invocar, na defesa de seus clientes.
Respeitável a opinião do magistrado. Mas a gente sabe que, historicamente, desde que o mundo é mundo, a opinião pública é suprema. Difundida, espalhada aos quatro ventos, ela acaba adquirindo consistência depois de submetida a filtros numerosos. E, invariavelmente, é ela que mais tem pesado na definição dos caminhos da história.
Caso ela fosse levada em conta em muitos dos julgamentos que têm sido feitos no País, a justiça possivelmente seria outra. No fundo, o povo sabe e identifica a origem das injustiças que lhes são feitas. E muitas gente que priva tradicionalmente do poder, que passa incólume de um governo a outro, apenas mudando de ideias com a mesma facilidade com que muda de roupa, não estaria onde hoje está, se ela, a opinião pública, fosse respeitada.
Mas, trazendo essa ideia para o tema que nos diz respeito, afirmo que é a opinião pública o motor das transformações estruturais. Sem ela, a nossa infraestrutura ainda estaria na idade da pedra lascada. Ela tem motivado aperfeiçoamentos; instigado os governos a fazer investimentos. E, se não dispomos ainda de modais de transporte público decentes; de sistema de saúde eficiente; de moradia condizente com a cidadania, é porque muitos administradores públicos insistem em torpedeá-la.
E, tanto ela é importante, que os governantes insistem em recorrer ao marketing político para ludibriar a população. Eles trabalham dia e noite com a arte da dissimulação e da mentira, para enganar e opinião pública e colocá-la à margem dos acontecimentos. Ocorre, no entanto, que às vezes ela se impõe. E, quando isso acontece, as coisas mudam.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira