Palanques eleitorais submergem no mar da incompetência

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O trocadilho pode ser considerado maldoso em vista das chuvas torrenciais de verão que deixam submersas amplas áreas de cidades brasileiras. Mas não deixa de refletir a realidade de um país que trocou os princípios da cidadania pelas improvisações capazes de proporcionar dividendos políticos e um pouco mais de fôlego aos planos dos que pretendem, a todo custo, apenas a possibilidade de continuar no poder.

Políticos profissionais de plantão costumam raciocinar de forma simplista. Acham que o verão não dura mais do que quatro meses. “Logo vem a estiagem e pronto” – calculam – “e as enchentes, por mais devastadoras que tenham sido ou estejam sendo – passam a ser coisa do passado, só retornando no final do ano ou no verão seguinte”. Eles apostam na suposta fraca capacidade de memorização do brasileiro. E imaginam que, a golpes de marketing, tudo pode ser esquecido.

Nesse caso, os pontos tradicionais de alagamento, já conhecidos há mais de 20 ou 30 anos na cidade de São Paulo, e cuja duração é mais ou menos equivalente ao horizonte de duração de até cinco gestões na prefeitura, permanecem os mesmos, às vezes até se agravando. E nada é feito, de concreto, para repará-los e eliminá-los.

Diante das enchentes, cada vez mais catastróficas, a prefeitura paulistana determina que o prazo de limpeza das bocas de lobo seja reduzido imediatamente para o período de cada 15 dias. Como se uma única enchente não fosse suficiente para entupi-las e causar o caos, a exemplo do que ocorreu em São Paulo, toda semana, ao longo do mês de março.

A cidade do Rio de Janeiro teve uma enchente diluviana no dia 5 daquele mês. As águas inundaram, em poucos minutos, praças, ruas e outros logradouros. Uma carioca comentou que a polícia agiu rapidamente para interromper o tráfego, evitando que veículos entrassem nos locais de alagamento já conhecidos. Um empresário lembrou que há sirenes, agora em áreas passíveis de deslizamentos de terra, que alertam os moradores para que abandonem suas casas. Mais uma vez, apenas medidas paliativas!

No plano federal, com o pibinho de 0,9% em 2012, os governantes continuam mirando 2014 — e tomem mais e mais isenções de impostos e desoneração de folhas de pagamento, mas sempre por determinado e curto prazo. Como se a economia de um país fosse uma eterna ciranda de stop and go. A safra recorde de grãos do Centro-Oeste vai sufocar mais uma vez a rodovia BR-163, que sai de Mato Grosso e continua, em péssimas condições, rumo em especial aos portos de Santos e de Paranaguá, sem que nada seja feito em favor dessa estrada, que isoladamente responde por cerca de 30% do escoamento da soja nacional.

Depois de quebrar os contratos de concessão e antecipar a renovação das empresas geradoras de energia elétrica, afundando a estatal Eletrobrás e suas afiliadas, o governo federal promove um road show global a fim de atrair investimentos para as próximas etapas de concessão da área de infraestrutura. Uma sábia estratégia para conquistar a confiança dos investidores globais!

Gestão é aquele trabalho monótono, rotineiro, de todo dia e de toda hora, para monitorar o andamento de projetos e a implementação de medidas já tomadas e anunciadas. Gestão dá muito trabalho e requer persistência e suor. Palanque não requer nada, a não ser retórica vazia e uma garrafa de água mineral. Churchill, nesse caso, lembraria seu conhecido jargão: 1% de inspiração, 99% de transpiração. Mas quem disse que políticos gostam de suar a camisa?

A tragédia reeditada

A propósito de políticos e promessas estamos vendo aí a reedição das tragédias na região serrana do Rio de Janeiro. Até o dia 22 deste mês (março) já eram 33 os óbitos, sem falar no grande número de desaparecidos. E, como nas vezes anteriores, nada foi feito, com os investimentos em contenção de encostas e em outras obras absolutamente insatisfatórios. O quadro é de vergonha nacional.

O road show global do governo, a fim de atrair investimentos paraa infraestrutura, mantém na retaguarda o legado da tragédia dasenchentes e da precariedade nos portos, ferrovias e rodovias

Fonte: Revista O Empreiteiro


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