Oito projetos de mobilidade buscam melhorara fluidez do trânsito na capital mineira;no entanto, há atrasos no cronograma
Guilherme Azevedo
Belo Horizonte adquiriu, ao longo dos anos, um mau hábito: um trânsito “agarrado”, como dizem os mineiros, e perigoso que já rivaliza com o das piores cidades do Brasil, como São Paulo. Consequência imediata, decerto, mas não exclusiva, do exponencial aumento de sua frota de veículos. Em outubro de 2012, havia em circulação na capital mineira um total de 1,507 milhão de veículos, contra 742 mil em dezembro de 2002, segundo dados do Sistema de Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavan/Denatran). Portanto, em dez anos, a frota de Belo Horizonte dobrou de tamanho.
Se a área em questão for a região metropolitana de Belo Horizonte (com 34 municípios e mais de 5 milhões de habitantes), um enfoque mais realista, uma vez que os problemas de mobilidade são no mínimo regionais, cabe a ela um título inédito: a de ter a frota de veículos que mais cresceu, nos últimos anos, entre todas as regiões metropolitanas, incluída a de São Paulo. Entre dezembro de 2002 e dezembro de 2011, a frota da região metropolitana de Belo Horizonte passou de 1,08 milhão de veículos para 2,28 milhões, com aumento médio anual de 8,7%. Os números são do estudo “O Crescimento da Frota de Veículos nas Principais Áreas Urbanas Brasileiras: Panorama Histórico e Tendências”, de Paulo Rogério da Silva Monteiro, mestre em engenharia de transportes e professor da PUC-MG. Nas projeções da Secretaria de Estado Extraordinária de Gestão Metropolitana, a frota de veículos, na Grande Belo Horizonte, deve dobrar em oito anos.
A questão mobilidade urbana é, portanto, uma das mais cruciais para o futuro de Belo Horizonte, que será uma das cidades-sede de duas importantes competições: a Copa das Confederações, em junho próximo, e a Copa do Mundo de 2014. Serão três partidas da Copa das Confederações e seis do Mundial de futebol, incluindo uma semifinal, todas disputadas no estádio do Mineirão (62.160 assentos), cujas obras de reforma e modernização se encerraram em dezembro de 2012.
Para responder à demanda crescente por mobilidade na capital mineira e especificamente ao público que participará dos eventos esportivos, oito obras estão em andamento. Elas já tinham sido planejadas há tempos e ganharam recursos com a Copa do Mundo. O investimento total em mobilidade urbana é de R$ 1,389 bilhão, sendo R$ 1,023 bilhão do governo federal.
A seguir, conheça os detalhes desses projetos de mobilidade, que incluem a construção de novas vias e corredores exclusivos de ônibus, e seu estágio de execução, sendo que alguns deles apresentam atraso no cronograma. As informações são da Secretaria de Estado Extraordinária para a Copa do Mundo (Secopa-MG) e do Comitê Executivo Municipal da Copa do Mundo (CEM-PBH).
Linha de BRT ocupará o canteiro central da Avenida Cristiano Machado
BRT Antônio Carlos/Pedro ITrecho Centro/Pampulha
A linha BRT (Bus Rapid Transit, em inglês) Antônio Carlos/Pedro I terá 16 km de extensão, 26 estações de transferência e atenderá a cinco regionais administrativas da cidade e parte da demanda metropolitana de transporte coletivo.
A obra compreende quatro etapas. A primeira delas, a construção de um viaduto de interseção das avenidas Antônio Carlos e Abraão Caram, já foi concluída e visa a dar fluência e alta capacidade de acesso ao Complexo Mineirão/Mineirinho.
A segunda meta, 40% pronta, prevê a duplicação de toda a Avenida Pedro I – cerca de 3,5 km. Depois do alargamento da Pedro I, será possível a implantação do BRT, com pista exclusiva de ônibus no centro da avenida.
A terceira meta, denominada interseção Pedro I/Vilarinho, está 30% pronta. Compreende a execução dos serviços e obras do Complexo Vilarinho e adequações viárias para as obras das estações.
A meta 4 (que se subdivide em metas 4A e 4B) diz respeito a mudanças viárias para a criação de estações do BRT, como redução de canteiros, substituição de piso flexível (asfalto) por pavimento rígido de concreto (adequado para suportar cargas mais pesadas) e reforma do Viaduto A (que liga a Avenida Antônio Carlos à Avenida Oiapoque), do Complexo Lagoinha. A meta 4A (trecho Centro-Pampulha) já foi concluída, e a meta 4B (trecho Pampulha-Vilarinho) chegou a 71% do total. Toda a obra do BRT tem previsão de entrega no segundo semestre de 2013. Investimento: R$ 633,9 milhões.
BRT Cristiano Machado
Com prazo de entrega marcado para o segundo semestre, a linha BRT Cristiano Machado terá 6 km de extensão, um terminal de integração e dez estações de transferência. Com índice de 60% de execução em dezembro, a obra prevê a implantação de pavimento de concreto na Avenida Cristiano Machado, entre o Túnel da Lagoinha e a Estação São Gabriel, e construção de plataforma com 5 m, para as estações, entre outros serviços. Segundo o projeto, haverá a adequação da atual pista exclusiva para operação no canteiro central, utilizando uma faixa por sentido, com faixa adicional para ultrapassagem nas estações de transferência; e implantação de terminais/estações de transferência nos dois sentidos da via. Investimento: R$ 135,3 milhões.
BRT Área Central
A construção da linha BRT Área Central estabelece a requalificação de vias preferenciais, para sua implantação nas avenidas Santos Dumont e Paraná, somando a construção de seis estações de transferência. Com prazo de entrega marcado para o segundo semestre de 2013, as obras viárias (adequação das vias, preparação dos canteiros e colocação de pavimento rígido) somavam 17% executados do seu total e as obras das estações, 9,30%. Espera-se, com o projeto, estimular a renovação da região central, com impacto positivo sobre o turismo, consumo e lazer locais. Investimento: R$ 57,9 milhões.
Via 210 — Ligação Via do Minério/Teresa Cristina
A obra cria a interliga&ccedi
l;ão direta de duas vias de grande capacidade, entre as regiões Barreiro e oeste da capital mineira. A Via do Minério e a Avenida Teresa Cristina se conectam, hoje, por meio dos bairros, com influência sobre o tráfego. O projeto construtivo compreende eixo principal da Via 210 com 1.640 m de extensão e 36 m de largura, incluindo ciclovia bidirecional e passeios bilaterais, delimitado pela Avenida Teresa Cristina, no bairro Betânia, até o viaduto de transposição do Anel Rodoviário, na Avenida Waldyr Soeiro Emrich. Em dezembro, as obras prontas somavam cerca de 40% do total, com prazo de entrega previsto para o segundo semestre deste ano. Investimento: R$ 106,2 milhões.
Via 710 — Andradas/Cristiano Machado
Com 3,78 km de extensão, a futura Via 710 começa na Avenida dos Andradas, principal corredor radial da região leste de Belo Horizonte, e termina na Avenida Cristiano Machado, principal corredor da região nordeste. O projeto, que não passará pelo centro da capital, permitirá o acesso transversal entre duas regiões que são historicamente separadas por uma ferrovia de carga.
Porém, a obra, mal começada (menos de 2% executados), encontra-se paralisada por causa do processo de desapropriação de imóveis. O projeto inclui uma série numerosa de serviços, como construção da rede de drenagem, passarelas e viadutos e execução de pavimento asfáltico. Apesar do atraso, a data de conclusão está mantida: segundo semestre de 2013. Investimento: R$ 174,9 milhões.
Boulevard Arrudas V
As obras de construção do Boulevard Arrudas, na região oeste de Belo Horizonte, entraram na fase final. O projeto foi dividido em duas metas. A primeira, no trecho entre a Rua dos Carijós e a Avenida Barbacena, está 100% concluída. Essa fase realizou a recuperação estrutural da laje de fundo, recobrimento do canal do Ribeirão Arrudas, canteiro central elevado, demolição e reconstrução dos passeios para adequação às normas de acessibilidade, novas pistas de rolamento e recuperação e ampliação da drenagem, entre outras intervenções. A meta 2, da Avenida Barbacena até proximidades da Rua Extrema, chegou a cerca de 80% prontos em dezembro. Essa fase inclui a implementação do Boulevard Arrudas V na Avenida Teresa Cristina, entre a Avenida do Contorno e a Rua Extrema. A entrega da obra está marcada para o primeiro semestre de 2013. Investimento: R$ 221,1 milhões.
Corredor Pedro II
Com 40% do total concluído, o Corredor Pedro II servirá para dar agilidade ao transporte coletivo via ônibus, com corredores exclusivos na Avenida Pedro II. O escopo do projeto também determina a reforma estrutural e o alargamento das pistas do Viaduto B do Complexo da Lagoinha, que liga a Avenida Pedro II à Avenida Olegário Maciel, na região central de Belo Horizonte. O corredor deve ser inaugurado no segundo semestre deste ano. Investimento: R$ 27,9 milhões.
Expansão do Centro deControle Operacional
As obras e serviços de expansão do Centro de Controle Operacional (CCO) da BHTrans (Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte, sob gestão da prefeitura) haviam alcançado cerca de 40% do total em dezembro. Com instalações renovadas, o edifício do CCO vai abrigar os sistemas de controle e operação do tráfego e permitir, segundo as autoridades mineiras, resposta mais rápida às necessidades de circulação na capital. O novo CCO terá 65 posições de controle de trânsito e transporte coletivo, entre outras melhorias. A obra deve ser entregue no segundo semestre deste ano. Investimento: R$ 31,6 milhões.
Novo viaduto de intersecção das avenidas Antônio Carlos e Abraão Caram: primeira fase do projeto do BRT Antônio Carlos/Pedro I
Fonte: Padrão