Maior obra privada do Ceará entra na fasede montagem eletromecânica. Previsão é operaraté o começo de 2016 Guilherme Azevedo A construção da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no município de São Gonçalo do Amarante (CE), no interior do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, está testando a capacidade de gestão e execução coordenadas do Brasil e da Coreia do Sul. O maior empreendimento privado ora em edificação no Ceará tem como sócios a gigante brasileira Vale, com 50% do negócio; e as sul-coreanas do setor siderúrgico Dongkuk Steel (30%) e Posco (20%). A CSP ocupará uma área total de 989 ha, localizada no km 11,5 da rodovia CE-155 (antiga CE-422), também chamada de Via Portuária, pois dá acesso direto ao Porto do Pecém. É, portanto, uma localização estratégica. O projeto, inclusive, prevê a entrada direta da matéria-prima (minério de ferro) nas instalações da siderúrgica, via correia transportadora desde o porto. A expectativa é que a siderúrgica entre em operação no segundo semestre de 2015 ou até o primeiro bimestre de 2016, com capacidade de produzir inicialmente 3 milhões de t de placas de aço ao ano. Conforme o acordo entre os sócios, 1,6 milhão de t serão adquiridas pela Dongkuk, 800 mil t pela Posco e 600 mil t pela Vale, por um período inicial de 15 anos. O investimento total soma US$ 5,1 bilhões. Executado sob a coordenação da Posco Engenharia e Construção do Brasil, braço do grupo sul-coreano Posco em solo brasileiro, com sede em Fortaleza (CE), o complexo soma 42% de realização total. Já entrou na fase de montagem mecânica e eletromecânica dos equipamentos que compõem o complexo, embora etapas, como a de terraplenagem e fundação, ainda estejam em andamento em alguns pontos do sítio. Entre as unidades que começam a ser montadas, estão o alto-forno siderúrgico, a aciaria, a usina de força e os edifícios de sinterização e coqueria. O complexo siderúrgico foi dividido num total de 17 itens/áreas estratégicas, de que também fazem parte ramal ferroviário para transporte de minério do alto-forno para a aciaria e rodovia para as placas de aço, com destino a terminal do Porto do Pecém. Alteridade e aprendizagem Uma das empresas brasileiras que participam da obra é a Makro Engenharia, sediada na capital cearense, contratada para fornecer equipamentos e realizar os serviços de movimentação e içamento de cargas de todas as fases da construção, um contrato com duração de três anos e R$ 75 milhões. Desde junho deste ano, ela atua sob a orientação e a supervisão dos sul-coreanos da Posco Engenharia, com 100 profissionais próprios envolvidos nos trabalhos, entre eles, supervisores, ajudantes,riggers(assistentes de içamentos), operadores, gerente do projeto e engenheiros mecânicos. Montagem das estruturas da CSP requer plano detalhado de rigging A colaboração com os sul-coreanos, segundo Gilberto Medina, gerente comercial nacional de vendas da Makro Engenharia, tem obrigado revisão de métodos e práticas, dada a divergência de abordagens. “É um choque de culturas. Tem de aprender tudo de novo. Fazemos de um jeito, e eles, de outro.” É um movimento até natural que a alteridade exige, feito de estranhamento e de conflito, nos colocando em dúvida sobre nossas posições e certezas. Desse “choque cultural” identificado, Medina também consegue contabilizar ganhos para a engenharia brasileira: a valorização funda da experiência pelos asiáticos. “O cara sênior está sempre presente, é questionado, ouvido e valorizado”, elogia o gerente da Makro. O profissional experiente encurta caminhos, antevê possíveis problemas, ensinam os sul-coreanos. Para facilitar o entrosamento Brasil-Coreia do Sul no canteiro, os construtores organizaram, no começo deste mês (novembro), uma noite de confraternização e reconhecimento dos operários que têm se destacado na obra, a “Noite de Confraternização Coreia-Brasil para o Sucesso da Companhia Siderúrgica do Pecém”, com festa e entrega de certificados. Entretanto, o canteiro da CSP já parou este ano mais de uma vez, por melhor remuneração e condição de trabalho. Uma das queixas contra os sul-coreanos, segundo o sindicato dos trabalhadores da categoria no Ceará (Sintepav-CE), é de excesso de jornada diária, que chegaria até a 14 horas. A mão de obra é fundamentalmente brasileira, com supervisão sul-coreana. Hoje são 4,5 mil pessoas atuando na obra. No pico, projetado a partir do segundo semestre do ano que vem, o número de trabalhadores envolvidos deve chegar a 23 mil. Complexidade Os serviços de movimentação e içamento de cargas na execução de uma siderúrgica são especialmente importantes e complexos, porque alguns componentes, como as carcaças do alto-forno, onde o minério de ferro é fundido, ultrapassam dezenas de t de peso e precisam ser montados em múltiplos níveis, muitas vezes a dezenas de m de altura. Para que seja realizado com segurança e qualidade, o chamado plano deriggingprecisa levar em conta uma série de variáveis, como a matéria a ser içada, o tamanho e o peso da carga, a forma de amarração dela, a configuração do guindaste adequada para tal trabalho e o espaço necessário para o içamento. “Se tivermos cem içamentos, teremos cem planos derigging”, pontua Medina. Ele ressalta que a inteligência inerente ao serviço advém do estudo aprofundado do local, do entendimento da operação e da proposição da melhor e mais moderna solução. Na CSP, o plano de movimentação e içamento é um trabalho feito a muitas mãos, com a colaboração dos profissionais da Makro e da Posco. A Makro atua, hoje, com mais de três dezenas de equipamentos no canteiro, destacando-se os guindastes Liebherr LR1750 e LR1600, os maiores, com capacidade para içar até 750 t e 600 t, respectivamente. As duas máquinas estão lotadas no projeto da aciaria e do alto-forno, ajudando na execução dos serviços de montagem de colunas que podem pesar 220 t. “A Companhia Siderúrgica do Pecém não é só uma obra para nós. Ela acabou virando também uma unidade da nossa própria empresa”, dimensiona o gerente da Makro. “É uma obra que está movimentando todo o Ceará e vai dar um ‘gás’ no crescimento do estado. É com muito orgulho que a gente participa dessa construção.” Quando pronta, a CSP poderá criar 4 mil postos de trabalho diretos e mais 12 mil indiretos exercendo um efeito multiplicador, com a atração e a instalação de empresas da cadeia do aço, como as de máquinas e equipamentos. Decerto um passo decisivo para o desenvolvimento de uma região que quer ser, enfim, protagonista de sua história. Ficha técnica Construção da Companhia Siderúrgicado Pecém (CSP) Local: São Gonçalo do Amarante (CE) Proprietário: Vale (Brasil) e Posco e Dongkuk Steel (Coreia do Sul) Projeto e construção: Posco Engenharia Terraplenagem: Craft Fundações e serviços diversos: Dongyang, Braco, Seil, Samjin, Daehyuk e Daehah Içamento e movimentação de cargas: Makro Engenharia Fonte: Redação OE