Então, em nosso processo civilizatório, chegamos a isso: o motorista precisa ser multado para respeitar o outro – o pedestre. Ficou comprovado, ao longo dos anos de motorização, que na maior parte dos casos, o motorista, encapsulado em seu objeto voador de quatro rodas, não se educou. Não aprendeu a respeitar o outro. O outro sequer existe. Que ele, sejam quais forem as circunstâncias, terá de abrir alas à força mecânica.
Por ora, a fiscalização incidirá em área restrita – travessias da região central e da avenida Paulista. Nas demais regiões da capital o pedestre continuará entregue à própria sorte. É um começo, mas um pequeno começo. Com o reconhecimento de que a Companhia de Engenharia de Tráfego não teria fôlego humano para cobrir todos os cantos da cidade onde o desrespeito prosseguirá.
O sujeito, com raras exceções, é induzido pela propaganda a glamorizar o automóvel. A dar-lhe um status que vai além, mas muito além de sua funcionalidade e utilidade: o transporte individual pelas ruas de uma cidade que relegou o transporte público a segundo plano. Então, dentro daquele diminuto território metálico, o condutor passa a julgar-se dono do mundo. E o pedestre que trate de não ficar a sua frente.
Com o tempo, houve a banalização dos atropelamentos, que deixaram de ser notícia, mesmo em caso de morte, à exceção daquelas ocorrências em que vítima e criminoso pertencem a determinadas categorias sociais.
Imaginou-se que a educação do condutor ganharia mais força com a maior visibilidade das faixas nos cruzamentos. Ledo engano. Perto de 90,3% dos motoristas que passam sobre elas aparentemente ignoraram o que elas significam. Numa cidade, organizada e preparada para o uso da máquina individual, o pedestre não tem vez. E, as multas, se pegarem, acabarão não resolvendo o problema do respeito humano. Este continuará sendo uma decorrência da responsabilidade civilizatória de cada um.
Fonte: Estadão