É a política, lastimavelmente aquela praticada do modo mais condenável, que tem ensejado denúncias de que vários dos empreendimentos do programa Minha casa, minha vida, estariam fora de prumo.
Óbvio que todo programa desse tipo tem o vírus político arraigado em suas raízes. E, depois, se estende pelo tronco, galhos e folhas, quando não consegue comprometer toda a árvore; se possível, o empreendimento todo.
Vez ou outra, conforme o teto da renda familiar, o imóvel a ser construído vem acompanhado de algumas melhorias adicionais. Agora, por exemplo, se cogita da inclusão, em conformidade com a dimensão dos conjuntos, da construção de escolas e postos de saudade em suas proximidades.
Isso traz à lembrança aqueles grandes conjuntos construídos na década de 1970 em áreas remotas das periferias mais longínquas. Só depois de entregues as casas, é que se cogitava de levar até as proximidades dos conjuntos a extensão dos serviços de transporte e, eventualmente, de iluminação pública, asfalto e outras coisas essenciais. Era como se a casa se bastasse por si só, no isolamento mais absoluto. E, a chegada daquelas condições mínimas de sobrevivência, às vezes demorava além do humanamente suportável.
Outro dado que choca pelo absurdo é a carência de qualidade ou de algum matiz de sensibilidade para ao menos sugerir uma ideia de conforto. Leio hoje que a presidente da República mandou coloca cerâmica em casas de alguns conjuntos. Certamente ela deve ter ficado chocada com a nudez áspera constatada no concreto desses empreendimentos. Por isso, estaria disposta a liberar outro tipo de vale, o “vale-cerâmica”, para permitir a colocação de elementos cerâmicos na casa toda.
Mas, o pior dos virus nesses conjuntos continua a ser o político. Ele desalinha empreendimentos do programa. Há alguns dias apareceu na TV um conjunto construído em cidade do Maranhão. A espera pela possibilidade de extração dos dividendos políticos vinha atrasando a entrega das casas. E o atraso foi tanto, que o mato começou a se insinuar e a tomar conta do conjunto. Cavalos e bodes já pastavam pelo quintal e dentro das casas, várias das quais destelhadas e depenadas por vândalos.
É isso. Nenhum respeito para com os cidadãos. Nenhuma responsabilidade social.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira