Alberto Sayão
Concordo com as afirmações de que as obras estruturantes, atualmente em andamento, estão esculpindo um novo perfil urbano da cidade. Contudo, pouco tem sido efetivamente realizado para prevenir as inundações recorrentes que nos afligem.
A Fundação Instituto das Águas do Município do Rio de Janeiro, Rio-Águas, órgão que, como a Geo-Rio, é ligado à Secretaria Municipal de Obras, atua na manutenção dos corpos hídricos do município e tem como objetivo planejar e gerenciar o sistema de esgotamento sanitário e as ações preventivas e corretivas contra enchentes.
A Rio-Águas tem realizado obras rotineiras de conservação e desobstrução de canais e rios, trabalhando para prevenir as enchentes periódicas na área da Bacia do Canal do Mangue, Tijuca e Praça da Bandeira. Por aqui temos registros de inundações ocorridas desde o início do século 20.
No Rio de Janeiro, na década de 1970, uma comissão de engenheiros do Clube de Engenharia estudou, durante vários meses, o projeto de um túnel extravasor, que visava à captação e ao transporte das águas excedentes, que transbordam das calhas dos rios Joana, Maracanã, Trapicheiros, Macacos, Rainha I e Rainha II, até o despejo final em mar aberto, no costão do Vidigal, na Zona Sul.
A construção daquele túnel chegou a ser iniciada pelo governador Negrão de Lima, em 1971, a partir da avenida Niemeyer, para depois ser paralisada e esquecida, em 1989, no governo Leonel Brizola, por falta de recursos financeiros, após aproximadamente 1,5 km escavado em rocha.
Em 2010, o projeto do túnel extravasor foi retomado e atualizado pelo Clube de Engenharia, e encaminhado ao prefeito Eduardo Paes, com a recomendação para implementação imediata. A conclusão dessa obra encaminhará diretamente para o mar as águas excedentes que inundam esses locais sobejamente conhecidos como sujeitos a sérias enchentes periódicas.
Outras soluções parciais, como piscinões e pequenos túneis, entraram, porém, em discussão pelos técnicos da prefeitura, adiando a solução definitiva, que era aguardada pela população.
Assinalemos, ainda, o seguinte: em maio de 1966, o então governador do estado da Guanabara, Negrão de Lima, criou, sob forte demanda popular e após as chuvas excepcionais que castigaram a cidade no verão daquele ano, o Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro, hoje Fundação Geo-Rio, que é um órgão da Secretaria Municipal de Obras, destinado à elaboração de planos emergenciais e de longo prazo para a proteção das encostas.
Naquele mês de janeiro de 1966, centenas de acidentes geotécnicos foram registrados nas encostas do Rio, resultando em cerca de 70 mortos e mais de 500 feridos, e deixando a cidade em situação de calamidade pública, por alguns dias, fato que gerou forte repercussão nacional e internacional. O novo órgão reuniu um quadro técnico de notórios especialistas geotécnicos, que se dedicaram à cidade, naqueles primeiros meses após a catástrofe.
A cidade acostumou-se com os admiráveis feitos da Geo-Rio, e com a implantação de uma política racional de ocupação das encostas, com base em critérios técnicos para a definição das áreas sujeitas a elevado risco de deslizamentos.
Obras em execução
A cidade experimenta atualmente um desenvolvimento econômico e uma expansão imobiliária desmedidos, no rumo da Zona Oeste (Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Recreio e Guaratiba), incluindo a construção de novos hotéis, que devem dobrar a capacidade de hospedagem do Rio no próximo ano. O problema estrutural é que este crescimento demográfico não vem acompanhado por ações do governo municipal para melhorar a infraestrutura da região.
As novidades foram o corredor expresso BRT, com 40 km de extensão e 35 terminais de parada de ônibus articulados, e a abertura do túnel da Grota Funda, que reduziram bastante o tempo de percurso na ligação entre os bairros do Recreio e Santa Cruz. No entanto, a pressa para permitir a antecipação em um mês da entrega destas vias contribuiu para comprometer a qualidade das obras, que, após inauguradas, ficaram interditadas por vários dias para reparos urgentes e conclusão dos serviços.
O sistema Alerta Rio
A Geo-Rio e a Climatempo firmaram um convênio para proporcionar um serviço de grande utilidade pública: o sistema Alerta Rio, que disponibiliza on-line a condição atual de chuvas e a probabilidade de escorregamentos nas encostas em todo o município, com base nas imagens de radar meteorológico instalado no morro do Sumaré para a detecção de uma tempestade iminente.
Foi efetuado o mapeamento de risco em 196 comunidades do Rio, o que permitiu identificar 117 comunidades com alto risco quanto à ocorrência de deslizamentos, onde foram instalados pluviômetros automáticos e sistemas de alarme sonoro, além de um plano de contingência, com treinamento da população afetada, para evacuação com segurança das áreas de alto risco, no caso de chuvas intensas. Nessa situação, o sistema aciona um alarme sonoro e emite mensagens SMS para os moradores das áreas de risco.
Há cerca de três anos, a prefeitura anunciou que, até o final de 2012, removeria 119 favelas localizadas em zonas com alto risco de deslizamento ou inundação, ou em áreas de proteção ambiental. Muito pouco, porém, foi efetivado até agora.
As famílias removidas teriam o imóvel avaliado pela prefeitura e receberiam o devido valor como parte de uma nova casa a ser construída dentro do programa denominado Minha Casa, Minha Vida. Enquanto a casa não ficasse pronta, cada família receberia mensalmente a quantia de R$ 250, dentro de outro programa, o Aluguel Social. O então secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar, informou, na ocasião, que 10 mil casas estavam já em construção e as remoções já estavam sendo negociadas com as associações de moradores. Do ponto de vista da engenharia, seria certamente possível termos o Rio de Janeiro sem favelas. Porém, nota-se que o problema depende de vontade política, e é muito mais social e econômico do que técnico.
Numa etapa inicial, a área total a ser liberada com a erradicaç&atil
de;o de favelas no Rio de Janeiro seria maior que 2 milhões de m². Esta área poderia ser reflorestada e preservada, reduzindo a poluição e o lixo nas encostas, melhorando as condições de saneamento de saúde e de segurança da população afetada. Portanto, o impacto geográfico, social e ambiental seria imenso. No Rio, a clara vocação turística da cidade pode ser até mais um fator a ser considerado na solução do problema.
Enfim, fica muito difícil tentar imaginar o impacto positivo da erradicação das favelas no Rio.
Fonte: Padrão