O uso do concreto autoadensado, a cobertura montada no nível do solo e o fechamento lateral translúcido, a cobertura montada no nível do solo e o fechamento lateral translúcido, além de um bom planejamento de engenharia, contribuem para manter o prazo de entrega desta arena, implantada em área do município de São Lourenço da Mata (PE)
Nildo Carlos Oliveira — São Lourenço da Mata (PE)
Em dezembro último o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, comunicou à Fifa (entidade máxima do futebol) que a arena local, em que são investidos R$ 500,2 milhões, será inaugurada às 17 horas de 14 de abril próximo. Estará pronta para a Copa das Confederações em 2013, e para os jogos da Copa do Mundo em 2014.
Antes da comunicação, ele obteve do Consórcio Arena Pernambuco (Odebrecht Participações e Investimentos e Odebrecht Infraestrutura, que formaram a Sociedade de Propósito Específico para a construção, manutenção e operação da arena) a garantia de que o prazo seria rigorosamente cumprido e, se possível, até antecipado.
Fase das obras vendo-se o processo de montagem das estruturas das arquibancadas inferior e superior e o içamento dos módulos da cobertura
A certeza do consórcio se apoiou em diversos fatores: no planejamento de engenharia; na possibilidade de serem buscadas tecnologias avançadas, para a obra, onde quer que elas estivessem; na própria criatividade da equipe no canteiro e no trabalho que ali se desenvolvia, como se fosse uma corrente sinergética coletiva.
O projeto, do arquiteto Daniel Fernandes, do escritório Fernandes Arquitetos Associados, de São Paulo, previu uma arena multiúso com capacidade para 46 mil lugares, distribuídos em arquibancadas, camarotes e cadeiras especiais. A estrutura foi concebida para flexibilizar-se conforme as exigências dos eventos programados. Tanto pode ser adaptada para shows, convenções e outras atividades do gênero, quanto para as atividades próprias: competições esportivas. Os acessos estão em fase adiantada e ali haverá 4.700 vagas de estacionamento, 200 das quais para ônibus. A área construída é da ordem de 128 mil m². O cálculo da estrutura esteve a cargo do escritório EGT, também com sede em São Paulo.
Para acesso ao estádio, foram projetadas 13 entradas e oito rampas, além de escadas rolantes e elevadores que serão usados nas áreas destinadas ao público VIP. Haverá praça de alimentação com restaurantes e lanchonetes, além de um amplo conjunto de serviços de infraestrutura de apoio.
Outras etapas da construção: os módulos montados no chão, a vista externa e a estrutura das fachadas, que terão fechamento especial
As fundações da arena são formadas de sapatas apoiadas diretamente sobre o solo e estacas tipo raiz, moldadas in loco.
A obra resulta de uma parceria público-privada e a Sociedade de Propósito Específico responderá por ela durante 33 anos. Contudo, o consórcio não funcionará sozinho: contará com a parceria da AEG (Anschutz Entertainment Group), apontada como uma liderança internacional em eventos de esporte e entretenimento. Ela promove anualmente cerca de 3.500 eventos para 42 milhões de pessoas no mundo. Deverá, com essa credencial, responsabilizar-se pela gestão e operação da arena, além de criar e desenvolver franquias desportivas, concertos, festivais e outras atividades similares.
As três técnicas
O engenheiro Bruno Dourado, diretor de contrato da Odebrecht, que está tocando os trabalhos da arena, é profissional de ampla experiência, afeito ao dia a dia de canteiro de obras. Em seu currículo estão as obras executadas no começo da década, para a ampliação e modernização do Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes – Gilberto Freyre.
Ao receber a revista O Empreiteiro, em meados deste mês (dezembro) na obra, ele distinguiu três aspectos técnicos que acha mais relevantes: o desenvolvimento da tecnologia do concreto autoadensado, até aqui especificado apenas para as estruturas do estádio; a cobertura e o fechamento lateral das fachadas.
O emprego de concreto autoadensado (CAA) tornou-se objeto de um projeto de pesquisa que o engenheiro calculista Carlos Calado, sócio do escritório B & C Engenheiros Consultores, e que também trabalhou no aeroporto do Recife, na época, vem desenvolvendo na condição de professor-adjunto da Universidade de Pernambuco (UPE), ao lado dos professores-orientadores Aires Camões (1º orientador) e Béda Barkokébas Júnior (2º orientador), também da UPE. O objetivo de Calado, com a pesquisa, é a obtenção de grau de doutor em programa de doutoramento da Universidade do Minho, em Portugal.
Bruno Dourado explica que o concreto autoadensado possui uma fluidez e uma trabalhabilidade diferentes do concreto convencional. Pode ser bombeado à distância, ser lançado a determinada altura e usado nas formas com alta taxa de armadura de aço, sem que seja necessário vibrá-lo. A plasticidade do material dispensa essa necessidade.
Carlos Calado, instigado a falar sobre a tecnologia do concreto autoadensado, informa que, para avaliar a aplicação efetiva do material, concentrou-se na pesquisa da sua aplicação nas estruturas da arena pernambucana. Ele espera que o estudo possa servir, futuramente, como exemplo para o meio acadêmico e como prática positiva, técnica e econômica, para construtores e a engenharia, em geral.
Diz ele que o emprego de CAA foi definido para atender às necessidades de lançamento e adensamento do concreto naquelas estruturas, considerando a densidade de armação em algumas áreas, além de a concretagem ocorrer a determinada altura. Para a condução do projeto de pesquisa, foi analisada a produção de concreto nos meses de maio, junho e julho de 2012.
No interregno daqueles meses, a arena encontrava-se na fase de execução da superestrutura, com o início de montagem das estruturas pré-moldadas das arquibancadas inferior e superior. A utilização de concreto autoadensado naquela etapa foi intensificada; todas as estruturas pré-moldadas da arquibancada (vigas jacaré e degraus) foram realizadas com CAA, além de pilares e paredes.
No período, foram consumidos nas estruturas aproximadamente 15.000 m³ de concreto; destes, cerca de 40% (6.000 m³) foram CAA, o que corresponde a um volume méd
io mensal de 2.000 m³. O volume considerado no estudo representa cerca de 26% do total dos 58.000 m³ de concreto estrutural previsto para a construção do conjunto da obra. (Outros dados sobre o estudo do professor Carlos Calado estão em texto aqui publicado).
A segunda técnica a que Bruno Dourado se referiu diz respeito à cobertura, que está sendo executada segundo tecnologia que a Odebrecht Infraestrutura buscou na Espanha.
Em princípio, a construtora deveria projetar e executar uma estrutura de cobertura nos moldes convencionais. Contudo, optou por uma tecnologia que simultaneamente enriquecesse o obra final (como um todo) esteticamente e conferisse aos trabalhos a celeridade possível, para manutenção do prazo. A estrutura importada da Espanha é feita de aço e fixada sobre pilares metálicos de sustentação na ala sul e leste da arena. Ao todo, são 22 módulos montados sobre 68 pilares metálicos apoiados na estrutura de concreto. Eles são pré-montados no solo sobre cavaletes, onde recebem as telhas da cobertura, forros e vidros, para então ser içados, por guindaste com capacidade para 400 t, e instalados na posição final. Quando completa, a estrutura terá 20 mil m².
A terceira técnica mencionada pelo engenheiro foi pesquisada na Alemanha e se destina ao fechamento das fachadas. Também, nesse caso, a solução inicial seria dar às fachadas tratamento com vidro e alumínio. O projeto foi alterado e se recorreu à tecnologia utilizada no Allianz Arena, do Bayern de Munique, em que se empregou o material difundido como EFTE. Este é uma espécie de plástico translúcido que permite às fachadas uma variação cromática que pode ser programada. Idêntica tecnologia aplicou-se nas fachadas do Cubo d´água, parque aquático dos Jogos Olímpicos de Pequim.
O EFTE, em resumo, é uma membrana plástica tensionada, que permite o uso de caixilhos de alumínio, os quais são montados em estrutura metálica. Esse tipo de fechamento lateral permite que se integre com a iluminação, facilitando tanto a comunicação visual quanto a difusão de peças publicitárias.
O engenheiro José Ayres de Campos, diretor de investimentos da Odebrecht, disse, ao final do encontro que a revista manteve com o engenheiro Bruno Dourado, que a construtora, ao ser acionada em outubro último para atender ao prazo acordado, conseguiu dar respostas rápidas à necessidade de aceleração da obra. “Fomos capazes de mobilizar os meios necessários aqui e em outras praças, diante da alteração de planejamento, para cumprimento do prazo”. Segundo ele, o estádio pernambucano será o único da Copa do Mundo a utilizar essa tecnologia, que possibilitará, por exemplo, a personalização das fachadas de acordo com as cores oficiais dos clubes.
A exemplo das demais, a Arena Pernambuco busca a obtenção da certificação de sustentabilidade Leed na categoria prata, concedida pela organização Green Building Council (CGB). Para isso, adota sistema de esgoto tratado, captação de águas pluviais, gestão de resíduos sólidos, placas de aquecimento solar, ventilação e iluminação naturais e um sistema de automação predial. O conjunto deverá operar com elevada eficiência energética.
Ao lado do sítio da arena, neste município da região oeste de Pernambuco, vai nascer a Cidade da Copa – tema, no entanto, de outro capítulo desta história de engenharia.
Ficha técnica
Estádio: Arena Pernambuco
Proprietário: Governo do Estado de Pernambuco
Início das obras: dezembro de 2010
Término das obras: abril de 2013
Custo total: R$ 500,2 milhões
Projeto de arquitetura: Fernandes Arquitetos Associados
Área construída: 128.000 m²
Cálculo estrutural: EGT
Construção: Odebrecht Infraestrutura