Após pressão dos consumidores e dos órgãos de fiscalização, por conta dos seguidos apagões de 2023 – que apenas na capital paulista deixaram 2 milhões de pessoas sem luz por dias –, Enel anuncia que investirá US$ 3,6 bilhões (aproximadamente R$ 18 bilhões), até 2026, na manutenção das suas redes nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará.
Apesar de não admitir que a queda de energia em suas áreas de concessão seja provocada por falta de manutenção, mas a eventos climáticos extremos, a concessionária decidiu que era hora de colocar a mão no bolso e revisar suas redes, cedendo à pressão da população, de governantes e de órgãos como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que multou a empresa em R$ 165 milhões.
Ministério de Minas e Energia e Tribunal de Contas da União (TCU) também cobram atenção da Enel para com os apagões. Para os especialistas, a redução de 36% no quadro de funcionários juntamente com o aumento da base de clientes fez com que a empresa não tivesse como responder às emergências a contento, levando quase ao colapso do atendimento, especialmente durante as fortes chuvas que caíram em São Paulo em novembro, deixando mais de 4 milhões de pessoas na capital e em mais de 20 municípios da região metropolitana sem energia por dias.
Enel nega a existência da relação entre demissões e o apagão de São Paulo – quedas são recorrentes também em cidades do interior do Rio, onde houve redução significativa do quadro de profissionais da companhia –, mas a realidade é que, com o episódio, o call center para atender os clientes entrou em colapso, segundo levantamento do Valor. As equipes de rua não foram suficientes para solucionar o problema e foi necessário valer-se de profissionais do Rio e do Ceará para dar suporte durante a crise em São Paulo. Sem contar que a empresa teve de recorrer a geradores da Prefeitura de São Paulo para suprir a demanda de escolas.
Em entrevista à imprensa, o presidente da Enel Brasil, Antônio Scala revelou que 80% dos R$ 18 bilhões anunciados serão destinados ao aprimoramento da infraestrutura de distribuição de energia nas concessões de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. A empresa já havia divulgado investimentos parecidos antes, contudo houve uma mudança de perspectiva, na qual a manutenção passou a ser o foco principal – passando de pouco mais de 50% do previsto para uma fatia de 80% dos recursos.
As mudanças na empresa já começaram, segundo o presidente.
Agora é possível ampliar em mais de quatro vezes as equipes em campo, dependendo da criticidade dos alertas meteorológicos. Antes eram em até três vezes. O aumento representa até 2.500 funcionários na operação em campo. Enel atende atualmente 15 milhões de consumidores e é o segundo maior grupo de distribuição do Brasil em número de clientes, atrás da Neoenergia.
Seus contratos de concessão, contudo, estão próximos do fim: Enel Rio vence em 2027 e em São Paulo e no Ceará, se encerram em 2028.
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