Apesar das promessas frustradas, das estratégias de marketing e dos programas que parecem sacados da manga do colete para entreter platéias impressionáveis, o cenário brasileiro, por conta de fatores internacionais favoráveis, mostra-se propício ao crescimento econômico e vem se ajustando às condições necessárias para que isso aconteça. Um dos dados mais relevantes nesse sentido acaba de concretizar-se com a licença prévia do Ibama para os procedimentos futuros destinados ao aproveitamento do rio Madeira, que injetará, através das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, mais 6.494 MW ao sistema energético nacional. Está claro, entretanto, antes que outras prioridades sejam esquecidas no meio do caminho, que os projetos originais das duas usinas incluem eclusas e infra-estruturas auxiliares tendo em vista a hidrovia do rio Madeira. O lembrete é para que tal obra, prevista nesses projetos, não repita o exemplo da segunda eclusa “fantasma” do Tocantins. Passados 26 anos, essa obra, prevista na construção da hidrelétrica de Tucuruí e de sua hidrovia, continua a ser apenas um sonho de verão. E, diferentemente do que ocorreu em décadas passadas, quando foram construídas a rodovia Transamazônica, as hidrelétricas de Balbina (Amazonas), Samuel (Rondônia) e outras obras na selva amazônica, a Engenharia brasileira terá ali, pela frente, dificuldades diversas, possivelmente bem maiores do que aquelas encontradas na época. É que hoje ela não enfrentará apenas os fenômenos naturais adversos, impostos pela geologia, geografia e flora e fauna locais. Há consciência mais consistente quanto à biodiversidade e às questões relevantes do impacto de obra dessa importância no meio ambiente. O País mudou, nesse sentido. E, mudou, porque o mundo mudou. E todos os olhos vêem hoje a Amazônia, não apenas como um desenho verde no mapa do Brasil e do mundo, mas como uma fonte de potencialidades extremas para o destino da humanidade. De forma que a Engenharia não vai girar, ali, em torno de seu próprio eixo. Terá de atender a todas as exigências previstas nos projetos e nas análises calcadas no levantamento dos sítios selecionados para as obras e nas áreas do entorno e ao longo da região de fronteira. Nesse caso, não será apenas uma obra de engenharia; mas uma obra, que embora necessária ao crescimento sustentado, voltado para o desenvolvimento do País, está submetida à observação do espelho do mundo. E, sob esse ponto de vista, qualquer falha que afete a ecologia, terá a dimensão merecedora das grandes notícias internacionais. É por esse motivo que projeto dessa natureza deveria, a exemplo de outros, estar organicamente amarrado a um projeto de desenvolvimento para o Brasil 2022. – Um projeto, enfim, que não considere apenas a questão da energia e da Amazônia, mas o conjunto de fatores que levam em conta o avanço do País em favor de suas futuras gerações. Nesse cenário não pode haver também espaço para o maior dos males que afetou o Brasil em especial na última década do século passado e que continua a afetá-lo na década atual: a corrupção. Crescimento não pode ter uma janela aberta para essa ignomínia que debilita as empresas, avilta o governo e compromete os valores da sociedade. Por isso, é necessário barrá-la com quantos instrumentos estejam ao alcance da sociedade e dos poderes da República. Os prejuízos econômicos e, sobretudo éticos que ela provoca, não podem ser, jamais, mensurados. E quem cometer crime dessa natureza, deve ser submetido ao rigor da Justiça, sem privilégios e distinção. Nesse quadro geral, chamamos a atenção para esta edição da revista O Empreiteiro. A publicação 500 Grandes da Construção, que traz o Ranking da Engenharia Brasileira, que incorpora matérias e análises setoriais, reafirma a importância crucial dos investimentos na infra-estrutura, sejam privados ou públicos, a exemplo do que ocorreu na Espanha nos anos recentes. E sinaliza uma mensagem em favor do crescimento brasileiro e de suas empresas de Construção e de Engenharia, a fim de que o avanço possível seja seguro e irreversível, independentemente da coloração política dos governantes em Brasília nas próximas décadas. Até porque o Brasil não merece outro caminho.
Fonte: Estadão