A obra de arte, com 1.777,8 m de extensão e vão central estaiado, é apontada como a maior do Nordeste atualmente. Transpõe o rio Piauí e facilita a ligação Sergipe-Bahia por estrada turística. As soluções técnicas do projeto da estrutura aliviaramo custo da construção
Nildo Carlos Oliveira
A Linha Verde que vai de Salvador (BA) a Aracaju (SE) precisava de uma transposição moderna sobre o rio Piauí, entre os municípios sergipanos de Estância e Indiaroba. Diferentemente da BR-101, que lhe é paralela e por onde circula intenso tráfego pesado, ela é caracterizadamente uma estrada turística. Contudo, vinha exigindo a construção de uma ponte, naquele local, para viabilizar-se sob o ponto de vista de sua finalidade de origem. Primeiro, pela necessidade de encurtar a distância entre as duas capitais e, segundo, porque o obsoleto sistema de travessia, por balsas, era antieconômico.
Há algum tempo, outra ponte, com finalidade semelhante, foi construída também pelo governo de Sergipe, mas sobre o rio Vaza Barris. Com cerca de 1.100 m de extensão, ela se localiza entre Aracaju e o município de Itaporanga. Batizada com o nome do jornalista Joel Silveira e inaugurada em março de 2010, ela não eliminou a necessidade da construção da nova obra de arte.
A moderna ponte, inaugurada no dia 29 de janeiro último e que ganhou o nome do escritor, jurista e diplomata Gilberto Amado, representa, para os sergipanos, um novo eixo de desenvolvimento econômico regional. A Linha Verde, já privatizada em território baiano (Concessionária Litoral Norte) vai da Praia do Forte ao município de São João até Mangue Seco, em Jandaíra, nos limites com Sergipe. Agora, com a construção e operação da Ponte Gilberto Amado, o trecho sergipano da rodovia poderá também ser privatizado.
A ponte sobre o rio Piauí foi licitada pela administração do governador Marcelo Déda, do Sergipe, via Secretaria de Infraestrutura do Estado, por R$ 125 milhões. Contudo, acabou, segundo o engenheiro Catão Ribeiro, diretor executivo da Enescil Engenharia de Projetos – responsável pelo projeto executivo -, orçada em R$ 105 milhões. E foi por este preço, segundo ele, que a empresa paulista Heleno & Fonseca Construtécnica a construiu.
Catão Ribeiro descreve assim o trabalho: “O nosso projeto, mais moderno que o projeto da ponte anteriormente construída (Joel Silveira), não teve aditamento no contrato. E, em razão dos cuidados e estudos prévios que balizaram a sua elaboração, permitiu que a obra fosse concluída no prazo, embora sendo maior do que a outra”.
A obra
O projeto executivo da estrutura previu um vão de navegação estaiado de 84 m com um gabarito vertical de 25 m. Ele teria dois vãos livres de equilíbrio de 44,1 m cada um. Com os 172,2 m, em cuja construção foi aplicada a tecnologia do estaiamento, a extensão dos acessos nas margens esquerda e direita somaria o comprimento total de 1.777,8 m.
Contribuíram, para manter a economia da obra, as dimensões do vão central estaiado. O projetista observou que não teria sentido manter o mesmo gabarito – 84 m de vão livre e 25 m de altura – repetitivamente em todos os demais trechos da obra. Sobretudo porque, na medida em que a ponte se aproxima das margens, a altura varia e, consequentemente, o gabarito dos vãos. Caso ali fosse adotada uma solução que mantivesse a mesma dimensão para todos os vãos livres, o custo da construção poderia ser maior. Ao longo da obra, além dos dois apoios do trecho estaiado, há mais 46 apoios e o vão médio entre eles é da ordem de 35 m.
A ponte possui 14,2 m de largura e duas pistas de 3,50 m, além dos acostamentos e passeios laterais. Para o tabuleiro foram previstas somente duas longarinas. E, como a distância entre uma viga e outra era da ordem de 8 m, decidiu-se que elas se apoiariam diretamente nos pilares, com a travessa de apoio das treliças de lançamento das vigas constituindo o próprio travamento. A rigor, não haveria carga sobre aquela travessa, uma vez que cada viga descarregaria num pilar.
“E como essas vigas”, explica Catão Ribeiro, “ficariam a 8 m de distância uma da outra, resolvemos posicionar vigas PI, transversais, sobre elas e, depois, proceder à execução de uma capa de concreto para consolidá-las. O tabuleiro ficou completamente consolidado com a capa de concretagem, cuja espessura média, considerada satisfatória, também se refletiu no custo final (ver desenho acima)”.
Outro pormenor, a que também se atribuem vantagens no custo, diz respeito ao vão estaiado. Dadas as suas dimensões – 84 m – decidiu-se projetar uma viga invertida, resultando, simplificadamente, numa laje com duas paredes laterais. A laje trabalha à flexão transversalmente e descarrega as cargas nas longarinas. Assim, a laje que trabalha na compressão é a mesma por onde os usuários passam com os seus veículos. “Então”, resume Catão Ribeiro, “temos aí uma laje única fazendo dupla função: operando na compressão e servindo de leito carroçável”.
A empresa Prepron, com sede em Regente Feijó (SP), informa, a propósito do trecho estaiado, que ela executou ali os seguintes serviços: protensão de cabos constituídos de feixes com 11 Ø 15,2 mm e injeção de nata de cimento em 88 vigas pré-moldadas de 33,80 m, além do transporte transversal desses elementos: içamento de 1.320 pré-lajes; protensão do balanço sucessivo (tabuleiro estaiado) e tensionamento e injeção de cera em 40 cabos estaiados.
As fundações
As fundações da Ponte Gilberto Amado, na foz do rio Piauí, foram executadas à semelhança das fundações da Ponte Joel Silveira, na foz do rio Vaza Barris. Nos vãos de cerca de 35 m foram escavadas estacas de 1,20 m de diâmetro que entravam em uma formação de arenito com diâmetro de 1,10 m. No trecho estaiado foram escavadas estacas de 1,50 m de di&acir
c;metro que no trecho de formação de arenito tinham diâmetro de 1,4 m. Ali se tem um terreno mole, frágil, depois do qual se constata a presença da camada de arenito, cortada, para a execução das fundações, com equipamento da Fundesp Fundações.
Depois do corte efetuado no arenito foi instalada a gaiola metálica para o posterior lançamento do concreto. Como ali, por questões ambientais, não se poderia trabalhar com lama betonítica (uma vez que ela, se espalhando, se amolda ao terreno e não permite o contato de peixes diretamente com o solo), optou-se pelo uso de polímero, um produto biodegradável.
“Provamos ali”, diz Catão Ribeiro, “que projeto bom é aquele que custa menos, não dá prejuízo para quem faz e elimina a necessidade de aditamento de contrato”.
Ficha técnica
Obra: Ponte Gilberto Amado
Construção: Heleno & Fonseca Construtécnica
Projeto: Enescil Engenharia de Projetos
Fundações: Fundesp
Protensão: Prepron
Fornecimento das treliças de cimbramento de aduelas
do trecho estaiado: Protende
Aparelhos de apoio e junta de dilatação: Neoprex
Fonte: Revista O Empreiteiro