Nildo Carlos Oliveira
É um modelo perverso. Um leitor chama a atenção para o óbvio. É que o óbvio, embora esteja à vista, nem sempre parece tão visível assim. A rotina dilui a possibilidade da visão nítida. E, não fosse a contudência da observação do leitor, talvez não estivesse emendando essas palavras.
Ele diz que há algo perverso no modelo que leva o sujeito a trabalhar tanto, ao longo de tantos anos, para depois, aposentado, ver que sua renda decresce. E decresce, na medida em que envelhece cada vez mais, até anular-se. Quando chega ao final, vê que dois mais dois não são quatro nem cinco, mas possivelmente zero.
Há alguns dias, ao falar sobre a o nível de emprego na construção civil, um vice-presidente do Sinduscon disse que a preocupação maior, hoje, não se refere ao volume do contingente disponível, mesmo que este permaneça o mesmo. Mas às condições da tecnologia para que, mesmo com um contingente enxuto, haja maior produtividade.
Intui-se que, tanto na construção quanto em outras tantas atividades, a preocupação maior não é com a mão de obra que produz, mas com os meios para que a meta do resultado final seja atingida. O resultado final é a margem da lucratividade necessária para que a roda das atividades possa continuar girando.
Seria de imaginar-se que, quanto maior o lucro, maiores os benefícios para os trabalhadores contratados. Nem sempre é assim. Quem se beneficia mais desse esforço coletivo em favor do lucro continua a ser uma minoria. A maioria recebe apenas o suficiente para continuar a girar a roda.
Mas, e depois? Depois, quando o trabalhador se aposenta, ocorre o que o leitor denuncia. Hoje, quanto mais o sujeito vive, por conta das possibilidades da ciência, mais o modelo econômico lhe subtrai. Se ele se aposenta no setor privado, o fator previdenciário lhe arranca os recursos do bolso. Ou melhor, sequer deixa que os recursos lhe cheguem ao bolso. Já no setor público, decreta-se o fim da paridade. E, o que ele passa a receber, não dá para viver; apenas para ir se arrastando até o fim. Uma perversidade.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira