Vive-se acuado, sob permanente pressão, e sem qualquer saída de emergência. A constatação não é de hoje, mas me aparece toda vez que vejo a armadilha cotidiana a que somos submetidos.
Leio que o governo estadual já acertou tudo com o consórcio que assumiu os trabalhos de operação do trecho sul do Rodoanel (Régis Bittencourt-ABC). E, este, deve começar a cobrar pedágio a partir de julho, quando as férias escolares propiciarão eventuais viagens de famílias para diversas regiões. A primeira providência que tem o cidadão como epicentro é o bolso. O governo competentemente vai direto ao ponto.
Não é outra a intenção quando se programa a extensão do programa de inspeção veicular. Ele não vai ater-se apenas à capital. Deve alcançar os municípios da Região Metropolitana e, depois, seguir rumo ao interior. Quem sabe? – colocará na roda, também, até as pequenas localidades. Aquela ideia de que a inspeção seria extensiva tão-somente às cidades com frota acima de 3 milhões de veículos, como dispõe a legislação que criou esse serviço, pode virar letra morta. Duvidam?
Porque não basta o festival de multas, o IPVA, o imposto embutido na cobrança dos combustíveis. O governo sempre quer mais. Apesar disso, as estradas nunca são lá essas coisas. À parte as exceções, que não poderiam ser de outra forma tal o preço dos pedágios, a situação é de trauma, sobretudo em época de chuvas e de temporada.
Se olharmos para outras áreas – a saúde, educação, transporte público, segurança – a coisa se complica. As execuções, praticadas pela bandidagem, estão diante de nossos olhos. Vi, ontem, na tela, um estudante abatido com um tiro na cabeça. Ele escudou-se num portão, abaixou-se, mas o delinqüente retornou sobre os próprios passos e atirou no rapaz, de cima para baixo, como se estivesse atirando numa abóbora. Retraí-me, perplexo, embora a perplexidade, a essa altura, já não devesse constituir manifestação de revolta maior, diante da rotina dessas ocorrências.
Uma rotina marcada também pelos arrastões nas praias, nas lanchonetes, nos edifícios residenciais e pelos assaltos à saída de bancos, de casa, do trabalho. Diante da impossibilidade de fugir, seja de um assalto ou de outro, na rua ou dentro de casa, as autoridades nos fornecem algumas dicas: mantenha a calma e informe seus movimentos; dê ao criminoso o que ele exigir; evite olhar para os assaltantes; não tente fugir ou reagir.
Com esses conselhos, devidamente anotados num papel ou na memória, conscientize-se: você não tem saída. Nem sequer saída de emergência.
Fonte: Estadão