O setor imobiliário está pronto para ingressar num processo de crescimento sustentado. Isso se deve a uma série de fatores decisivos, os quais, desde 2002, passaram a criar condições adequadas a esse processo – e isso depois de nossas atividades terem enfrentado mais de uma década de verdadeira apatia e pífios resultados. As medidas governamentais mais importantes ocorreram a partir de 2004. Passamos a contar, dentre outros, com marco regulatório consolidado (patrimônio de afetação, alienação fiduciária e incontroverso), ampliação da oferta de financiamentos para aquisição e produção de imóveis, isonomia no financiamento para imóveis usados, redução da taxa de juros e ampliação dos prazos nas operações de crédito imobiliário, e isenção de Imposto de Renda para quem vender uma residência e usar o dinheiro na compra de outra. O Secovi-SP trabalhou muito para obter essas conquistas. Em 2004 e 2005, participou de inúmeras reuniões com a equipe econômica do governo (que soube ouvir o setor). Como resultado, no decorrer de 2006, o governo adotou mais medidas para estimular o setor, como: redução do IPI de vários materiais de construção; financiamentos com prestações fixas (TR travada) para imóveis de até R$ 350 mil; crédito consignado na aquisição de imóveis; introdução da construção na Lei Geral de Micro e Pequenas Empresas; e retomada, pela Caixa Econômica Federal, de financiamentos à construção de imóveis com recursos próprios (há 13 anos a Caixa não financiava com recursos da poupança). O efeito da conjugação desses fatores é animador. Consideradas unicamente as operações do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), ou seja, aplicação dos recursos das cadernetas de poupança, no ano passado os financiamentos cresceram 92,6%, em relação a 2005, totalizando R$ 9,3 bilhões. No primeiro quadrimestre de 2007, o volume de financiamentos chegou a R$ 4,1 bilhões (incremento de 71% na comparação com o mesmo período do ano passado). Nesse mesmo quadrimestre, foram financiadas 48 mil unidades (aumento de quase 60% em comparação com o janeiro a abril do exercício anterior), e na comparação 2005/2006, o total de contratos foi 86% maior. E se compararmos 2003 com 2007 – cuja previsão de disponibilidade de recursos é da ordem de R$ 11 bilhões -, veremos que os financiamentos do SBPE cresceram nada menos que 450%. Importante salientar que a saudável concorrência entre os agentes financeiros privados beneficiou tremendamente os compradores, em especial nos segmentos de menor renda familiar, haja vista as condições de acesso ao crédito imobiliário cada vez mais facilitadas. O sonho da casa própria está sendo viável para milhares de famílias, que podem adquirir seu imóvel em até 20 anos com prestações fixas (ou seja, sem o fantasma da correção monetária que tanto atormentou os mutuários do SFH). Para viabilizar esse sonho, incorporadoras e construtoras voltaram a atuar fortemente nesse segmento, o qual, aliás, é muito maior do que o de alta renda, onde as empresas trabalhavam simplesmente por falta de alternativa – não havia financiamento. Esse comportamento é facilmente comprovado pela Pesquisa Secovi, que acompanha o desempenho mensal das vendas. Hoje, unidades de três e dois dormitórios são as mais comercializadas e muitos empreendimentos dirigidos a essa faixa do mercado estão sendo lançados. Inclusive, incorporadoras antes especializadas em imóveis para alta renda (e agora ainda mais capitalizadas com a abertura de capital em bolsa de valores) estão criando empresas subsidiárias para atuar na área. As condições estão criadas e o cenário é altamente favorável para a efetiva retomada da indústria imobiliária. Temos um enorme demanda habitacional a ser atendida e um ambiente macroeconômico que permite ir ao encontro dessa demanda. Daí a improcedência de especulações infundadas sobre o risco de uma bolha imobiliária. Nossa realidade e nossas necessidades são outras e temos mais de uma década de atraso em termos de produção e aquisição de habitações, vis-à-vis o déficit de moradias já instalado e o aumento populacional. As perspectivas são animadoras e acredito que, finalmente, nosso setor poderá desempenhar a contento sua função econômica e social, promovendo teto digno e milhões de empregos diretos e indiretos.
* Romeu Chap Chap é presidente do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, e da Romeu Chap Chap Desenvolvimento e Consultoria Imobiliária S/C Ltda.
Fonte: Estadão