A construção e o crescimento sustentado do PIB

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Luciano Amadio*

Osalto do PIB no primeiro trimestre deste ano, em relação ao último do ano anterior, de 2,7%, e de 9% se comparado a igual período de 2009, suscitou duas reações bem contraditórias. De um lado, a de aplausos e de orgulho pela plena recuperação de nossa economia após a crise global de 2008, bem como pelos expressivos indicadores produtivos dos diversos setores e seus reflexos sociais, entre eles o aumento da geração de empregos.

Mas, de outro lado, reforçou e desencadeou generalizadas preocupações com um superaquecimento da economia, avaliado como capaz de traduzir-se em forte pressão inflacionária. A ser gerada, segundo analistas, pelo descompasso entre a demanda de produtos e serviços, impulsionada sobretudo pelo grande incremento dos gastos públicos (muito pouco para investimentos) e a incapacidade do conjunto dos agentes de assegurar uma oferta regular deles. – O que induziu os ministros da Fazenda e do Planejamento a defenderem a contenção e a desaceleração do crescimento e levou o próprio presidente Lula a declarar de pronto que fará "qualquer coisa para não deixar a inflação voltar". Manifestação que antecipava seu aval à decisão tomada horas depois pelo Conselho de Política Monetária (Copom) de novo aumento, 075%, da taxa de juros básicos.

Entre as causas de tal descompasso inserem-se, com relevo, as deficiências da infraestrutura econômica e também da social. Desde as dos modais de transporte – ferroviário, rodoviário, portuário, aeroportuário e metroviário – até as do setor energético, afetado pela lentidão dos empreendimentos e sufocado por enormes custos fiscais. Passando pelas carências de saneamento básico, do combate às enchentes e das áreas de saúde, educação, habitação, segurança pública, incluídas as do sistema carcerário. Cujos déficits de equipamentos e operacionais implicam também entraves e maiores custos ao crescimento, além das conseqüências sociais que têm.

Nesse contexto, considero que as empresas construtoras de obras públicas e do mercado imobiliário, que contribuíram com a terceira taxa mais alta, 14,9%, para o salto do PIB no primeiro trimestre, devem continuar e ampliar a expansão de atividades que tiveram de um ano para cá. O que, sendo assegurado, representará uma das respostas importantes do poder público e da iniciativa privada às restrições ao crescimento sustentado e à melhoria dos serviços públicos.

Para isso é essencial que se mantenham e se desdobrem os investimentos em infraestrutura e logística, e em obras socialmente prioritárias do governo federal, bem como os das administrações estaduais e municipais. E que se abra espaço bem maior para as parcerias baseadas em investimentos privados em diversos campos, sobretudo nos do saneamento básico e no da infraestrutura de transportes.

Por outro lado, a regularidade desses investimentos depende da existência de estoques de projetos, cuja indisponibilidade é um dos fatores responsáveis por grandes atrasos, improvisações e abandono de muitos planos de obras. E depende também da superação do burocratismo e da lentidão dos processos de licenciamento ambiental. Entraves, uns e outros, que precisam ser devidamente levados em conta pelos novos administradores governamentais a serem eleitos este ano.

E, para concluir, quero destacar uma carência da maior importância – a necessidade de um salto do ensino técnico, profissionalizante, evidenciada pela aguda falta de mão de obra qualificada, que nossas empresas estão sofrendo.

*Luciano Amadio é presidente da AssociaçãoPaulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop)

Fonte: Estadão


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