Duas afirmações, em especial, me chamaram a atenção, na entrevista de José Sergio Gabrielle, ex-presidente da Petrobras, à edição da FSP de domingo último, dia 15. Elas poderiam ficar diluídas dentre outras tantas informações. Contudo, é ali que está o cerne de um pensamento que jamais deve nortear gestores de empresas públicas ou privadas. Imagino o que não diria Raimundo Faoro, caso ainda estivesse entre nós difundo a luminosidade do seu raciocínio sobre as raízes do patrimonialismo brasileiro.
Diz, Gabrielle, respondendo a uma indagação, que o valor (US$ 200 milhões) em propina de fornecedores da Petrobras, de 2003 a 2013, equivale mais ou menos às contribuições legais que o partido a que ele está filiado recebeu no período. Assim, tudo estaria legal e não haveria terreno comum para controvérsias. Acredito que é justamente aí, nessa coincidência, que está a questão a ser apurada. O fio energizado do que é legal e do que é propina está desencapado e pode provocar choques inesperados.
A outra afirmação me parece ainda mais fora de propósito. Segundo o pensamento do entrevistado, não há porque blindar a Petrobras de indicações políticas. Segundo ele, o que se tem de fazer “é que a diretoria aja tecnicamente”. Primeiro, tem-se que ter em vista o caráter das indicações políticas. E, segundo, se o sujeito, alçado à direção da empresa, tem meios para distinguir, em seus atos, o que é política setorial ou empresarial, do que é política partidária. É que, quando a confusão acontece, fica difícil o estabelecimento da demarcação de posições. Invariavelmente o gestor acaba colocando políticos no lugar de técnicos ou expõem técnicos à vulnerabilidade da política partidária. Daí para a anarquia é apenas um passo. Ou dois. A confusão entre público e privado está na raiz do patrimonialismo estudado, em profundidade, pelo autor de Os donos do poder.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira