Nildo Carlos Oliveira
Vou mudar hoje o foco dos comentários veiculados nesse espaço para falar um pouco do 2º Salão do Jornalista Escritor encerrado ontem (8) no auditório Simon Bolívar, do Memorial da América Latina. Foram três dias de debates amplos, encaixados na temática do exercício profissional do jornalista, extensivo a ramificações diversas: política, ficção, historiografia, livros-reportagens, a chegada das novas tecnologias, o impacto que elas estão provocando na qualidade dos textos e outros temas.
Na abertura, o reconhecimento: não é fácil a montagem de um salão como este. Audálio Dantas, responsável pela curadoria do evento, disse que bateu em várias portas na busca de patrocínio. O retorno foi insatisfatório. E desabafou: se a intenção fosse realizar um desfile de moda, provavelmente encontraria maior receptividade. Como se tratava de um desfile de ideias, da colocação da inteligência na passarela, algumas portas, que poderiam ficar abertas, se fecharam. De qualquer modo, o salão ocorreu e com resultados importantes.
Eu mesmo tive a oportunidade, ao mediar uma mesa da qual participaram o jornalista e historiador Domingos Meirelles, e o escritor Carlos Moraes, de dizer que jornalismo é um aprendizado contínuo. O profissional se recicla ao redigir uma legenda, ao criar um título, ao elaborar uma matéria e ao ajustá-la às condições da realidade em que ela será publicada. Não por outro motivo, o salão homenageou o escritor Graciliano Ramos – também um trabalhador de jornal – que estruturou o seu fazer literário levando ao ápice a qualidade dos textos, sem prejuízo, ao contrário, do rigor no tratamento do cenário social e humano em que os seus personagens se movimentam.
Houve, ali, o lugar para o contraditório. Se, por exemplo, a personalidade de Getúlio Vargas foi analisada de uma forma pelo biógrafo Lira Neto, encontrou divergência no estudo que o jornalista Domingos Meirelles fez do mesmo personagem. Ele entende que Getúlio é uma personalidade histórica, uma das maiores do País, mas vincada por uma postura tradicionalmente ambígua. E Fernando Moraes, para muitos dos jornalistas ali presentes, não conseguiu conter o exagero, ao tratar um ou dois de seus biografados
A mesa especial O repórter na estante, com a participação de Luiz Fernando Emediato (Geração Editorial) e Carlos Andreazza (Editora Record), mostrou o quanto é limitado o espaço para o autor nacional que vem bracejando, isoladamente, para conceber e expor sua literatura. O lixo predomina, segundo o reconhecimento dos dois debatedores.
No final, fica a constatação de que o jornalista, que sente o fluxo e o influxo da história passar por ele todos os dias, é o intérprete preferencial dessa realidade. E não tem outra saída, senão sobreviver.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira