O investimento de cerca de R$ 9 bilhões em obras de infra-estrutura, que serão inauguradas nos 12 meses anteriores ao calendário eleitoral do ano que vem, devem trazer um alívio pontual para o trânsito da capital paulista. O cronograma de inaugurações começa com a entrega do trecho sul do Rodoanel em novembro, da nova Marginal, em duas etapas – março e outubro do ano que vem – além de seis novas estações do Metrô, também entre março e outubro de 2010.
O maior pacote de obras do gênero das últimas décadas teve remanejamento de datas e “coube” perfeitamente no calendário eleitoral. As obras do Rodoanel foram antecipadas em um ano, programadas para ser entregues nos seis meses que antecedem o pleito, mesmo período em que serão entregues, a conta-gotas, as seis primeiras estações da Linha Amarela do Metrô.
Tanto o governador paulista, José Serra (PSDB), quanto a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef (PT-SP) deverão utilizar as obras durante a campanha eleitoral. Os dois são os nomes mais fortes em seus respectivos partidos para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
As obras do Metrô e do Rodoanel têm recursos do governo do Estado e do governo federal. A Nova Marginal será construída com dinheiro paulista e das concessionárias que administram as rodovias Anhanguera-Bandeirantes e Ayrton Senna-Carvalho Pinto.
A primeira e mais cara das três obras é o trecho sul do Rodoanel, previsto para ser inaugurado no próximo dia 27 de novembro, com custo estimado em R$ 5 bilhões. A maior parte do investimento, cerca de 70%, é feito pelo próprio Estado. O restante vem do governo federal, por meio de investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
No ano passado, Lula batizou Dilma como a mãe do PAC, já que é ela quem coordena o andamento do programa. O apelido também foi uma forma de tornar a ministra mais próxima do eleitorado e dar mais visibilidade ao seu nome.
O rodoanel, que pelo projeto original deveria ser inaugurado somente em 4 anos, será concluído em menos de dois anos e meio, caso a data de inauguração seja mantida para o fim de novembro deste ano.
Com pouco mais de 61 km de extensão – incluindo a interligação com a avenida Papa João 23 -, estima-se que a obra retire cerca de 300 mil veículos diariamente da Marginal Pinheiros e outros 85 mil da avenida dos Bandeirantes, local de tráfego pesado de caminhões que seguem para o litoral paulista.
Metrô
Ao contrário do trecho sul do Rodoanel, a construção da Linha Amarela do Metrô de São Paulo deverá chegar junto com o calendário eleitoral, porém com atraso.
O acidente que deixou sete mortos em janeiro de 2007 nas obras da futura estação Pinheiros, atrasou o cronograma em pelo menos dois anos. A obra foi iniciada em 29 de abril de 2004 e terá a capacidade de transportar 970 mil passageiros por dia. Orçada em R$ 2,3 bilhões, predominantemente do governo paulista, a linha irá fazer a integração entre todas as linhas do Metrô. Também haverá conexão com terminais de ônibus e linhas férreas da CPTM .
De acordo com o Consórcio Via Amarela, até o fim do mês passado estavam concluídos pelo menos 80% da obra física. Com isso, a ideia é entregar as estações Butantã, Faria Lima, Paulista, Luz, República e Pinheiros até o período que antecede as eleições, de março a outubro de 2010. As outras cinco estações – Higienópolis, Oscar Freire, Fradique Coutinho, São Paulo-Morumbi e Vila Sônia – só devem ficar prontas em 2012.
Nova Marginal
A novidade ficou por conta do anúncio, no mês passado, da construção de novas pistas, pontes e viadutos na Marginal Tietê.
De acordo com a Secretaria dos Transportes do Estado, serão ampliados de cada lado 23 km de pistas, criando-se três novas faixas, além da construção de quatro novas pontes (Complexo Bandeiras, Cruzeiro do Sul, Tatuapé e Complexo Dutra-Castelo Branco) e três viadutos. A previsão de conclusão da obra para pistas auxiliares é março e, para as pontes e viadutos, outubro de 2010.
Atualmente, a marginal Tietê apresenta congestionamento de 30 km, em média, nos períodos de pico, representando 25% do total de lentidão medida na cidade de São Paulo. O governo diz que com as novas obras, o trânsito pode apresentar uma melhora de até 35%.
De acordo com Dario Rais Lopes, da escola de Engenharia do Mackenzie, no estado em que o trânsito da cidade de São Paulo se encontra hoje, todo investimento em infraestrutura é bem-vindo, independente do calendário eleitoral.
“Essas obras permitem alguns movimentos importantes e vão ajudar na locomoção do paulistano. Não é a solução, mas faz parte do conjunto, cuja prioridade é o transporte coletivo. Dá uma aliviada, mas o governo não pode esquecer de priorizar o investimento em transporte público”, diz.
Horário Figueira, consultor em transportes, diz que as obras da Marginal, em si, podem trazer pouco alívio ao trânsito.
“A demanda reprimida na Marginal é muito grande. Na hora em que você anuncia que a Marginal é duplicada, as pessoas vão usar mais e o problema volta. Nos horários de pico vai continuar tendo congestionamento. Não vai resolver o problema de mobilidade nos horários de pico, que é o principal problema”, disse.
Figueira afirma que aplicaria este investimento em seis corredores de ônibus, o que atenderia 1 milhão, 1,5 milhão de pessoas. “Do jeito que está sendo feito, atenderia no máximo 200 mil pessoas.”