Nove operários subiam ontem para trabalhar na obra do edifício empresarial Comercial 2, região do Iguatemi, Salvador, Bahia. Ocupavam um elevador com capacidade para 12 pessoas, que não parou em lugar algum, até chegar ao topo, cerca de 80 metros do térreo, de onde despencou. Morreram esmagados.
Seria de um açodamento para além de inconveniente atribuir essa tragédia à fatalidade. Esse raciocínio não se ajusta a qualquer esforço de conformismo. Fatalidade está na raiz da inevitabilidade. E, com os avanços da engenharia de segurança, sabe-se que até o impacto das calamidades naturais pode ser minimizado.
O País melhorou muito, de décadas para cá, na teoria e na prática de medidas de segurança, sobretudo na construção, onde acidentes maiores ou menores provocavam grande número de vítimas fatais. Mas, pelo visto, as recidivas continuam a constituir um alerta de que ainda não se chegou a um estágio minimamente satisfatório. Nove mortes em uma obra, em especial naquelas condições, a bordo de um elevador de serviço, é uma tragédia que não pode ser atribuída a uma mera fatalidade. Os homens iam trabalhar. Estavam concentrados em mais uma etapa de seus afazeres de sobrevivência. Cada um com a carga de responsabilidade em relação a mulheres, filhos, pais e a todo o conjunto de atribuições e sentimentalidade familiares que dá, à vida, o gosto de viver.
É necessário que se investigue esse episódio – e outros mais – até que todas as causas sejam esmiuçadas. E que se atente para a informação do presidente da Central de Trabalhadores do Brasil – Seção Bahia – Adilson Araújo, de que 15 trabalhadores já morreram e outros 60 ficaram feridos em acidentes na construção civil, este ano, em Salvador. As fatalidades precisam ter um fim.
Murillo Mendes
Murillo Mendes, ao ser homenageado ontem, em São Paulo, pela revista O Empreiteiro, pela ousadia de colocar a engenharia brasileira no exterior, nos tempos em que ela não conseguia sair dos limites de alguns estados, disse que País que se pretenda forte, precisa ter engenharia forte. Entendemos que a melhor maneira de se contar com uma engenharia forte é se contar com programas continuados de investimentos em obras prioritárias, dentro de um critério de planejamento que considere o País como um todo e jamais como feudo.
Fonte: Estadão