Trecho Leste do Rodoanel Mário Covas pronto para entrar em obras

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O consórcio SPMar já está de mangas arregaçadas para dar início às obras. O processo começa com as desapropriações, que envolvem áreas urbanas de seis municípios que ficam na região por onde passará o trecho Leste do Rodoanel

Joás Ferreira – (SP)

Anova fase do Rodoanel Mário Covas, iniciada em março último, inclui a construção do trecho Leste da obra, com 43,5 km de extensão, a partir de Mauá (onde termina o trecho Sul, nas proximidades da Avenida Papa João XXIII) até a Rodovia Presidente Dutra, em Arujá. Além da Dutra, haverá entroncamentos com rodovias importantes, como SP-066 e sistema Ayrton Senna/Carvalho Pinto.
Esse segmento da Rodoanel percorrerá as cidades da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), interligando Mauá, Ribeirão Pires, Suzano, Poá, Itaquaquecetuba e Arujá. Com a construção do trecho Leste, o anel viário terá perto de 143 km dos 170 km previstos para o projeto completo.
O consórcio SPMar, responsável pela execução e futura operação do sistema, é formado pelas empresas Contern e Cibe, ambas do Grupo Bertin. A mesma concessionária também já responde, desde março de 2010, pela operação do trecho Sul, que cruza os municípios de Itapecerica da Serra, São Bernardo do Campo, Santo André e Ribeirão Pires, ligando as cinco rodovias do trecho Oeste (Bandeirantes, Anhanguera, Raposo Tavares, Castello Branco e Régis Bittencourt) ao sistema Anchieta-Imigrantes e, consequentemente, ao Porto de Santos.
De acordo com Marcelo de Afonseca e Silva, diretor Executivo do consórcio SPMar, a concessionária contratou uma empresa especializada para cuidar da primeira etapa que envolve as desapropriações, que devem atingir a quase 17 milhões m2 de área, a maior parte em áreas urbanas periféricas dos respectivos municípios. O consórcio fala em 897 propriedades a serem desapropriadas e pagamento de cerca de R$ 646 milhões em indenizações. A imprensa, entretanto, tem divulgado outros números: 1.071 imóveis e R$ 1,1 bilhão.
"Essa é uma fase que, embora não seja impeditiva, demanda um grande esforço. É preciso concentrar muita energia no atendimento aos envolvidos, em relação às suas necessidades e à sua realocação. Não é, propriamente, um trabalho de engenharia, mas é uma ação social muito importante para o empreendimento como um todo", ressalta Marcelo.
Em relação ao trecho Sul, ele explica que, no programa inicial, a concessionária tem até seis meses para executar obras e serviços complementares na rodovia, que significa colocá-la em condições e aparelhá-la para operar e dar atendimento aos usuários. Aí estão inseridas a disponibilização de viaturas de monitoramento e atendimento, como guincho, resgate, caminhão-pipa e veículo de apreensão de animais. Além disso, está incluída a complementação da sinalização vertical e horizontal.

As dificuldades do novo trecho
No trecho Leste, a SPMar terá de perfurar um túnel com 1.100 m de extensão, com duas galerias, uma para cada sentido de tráfego, com três faixas de rolamento, acostamento e faixa de segurança. Esse túnel estava previsto para passar sob o Parque Ecológico da Gruta de Santa Luzia, em Mauá, próximo à interligação entre os trechos Sul e Leste do rodoanel. Uma consideração no EIA/Rima, entretanto, impediu que esse trajeto fosse executado. Com isso, o túnel será executado na região da pedreira Santa Clara.
Como o terreno a ser perfurado, por uma tuneladora, é constituído por um tipo de rocha especial, o material retirado será processado e reaproveitado na própria construção da pista, em especial nas áreas próximas ao túnel. "Esse é um detalhe que merece destaque, no que se refere a aspectos de engenharia e de preservação ambiental. A medida evitará, por exemplo, a necessidade de exploração de uma jazida de rochas distante da rodovia, implicando transporte do material rochoso, e eliminará a operação de bota-fora", salienta o diretor da concessionária.
O reaproveitamento de material também será possível em outro segmento da rodovia, onde foi identificado um trecho de terreno composto por um tipo de argila que também será empregado na construção das pistas.
Cuidado especial será tomado no ponto em que as pistas passarão pela várzea do rio Tietê, próximo aos municípios de Arujá, Itaquaquecetuba e Poá, onde estão importantes rodovias – Dutra e Ayrton Senna/Carvalho Pinto. Nesse local, o lançamento de 8 km de viaduto será feito com o emprego do sistema construtivo conhecido como "encontro leve estruturado", visando a reduzir a interferência local e proteção das funções hidrológicas e ecológicas. Esse tipo de processo elimina a circulação de veículos pesados sobre o terreno da várzea.
Além disso, segundo Marcelo, "a técnica também garantirá rapidez na realização do trabalho, uma vez que o prazo de execução da obra toda é muito curto, de acordo com o contrato". Ainda buscando maior agilidade, optou-se pela produção dos pré-moldados de concreto em usinas que serão instaladas próximas aos locais de uso das peças.
Alternativa geralmente executada em regiões de várzea, o encontro leve estruturado apresenta custo mais baixo que uma Obra de Arte Especial (OAE) convencional e facilidade construtiva. Em termos ambientais, permite o livre fluxo das águas. Trata-se de uma estrutura baixa, que pode ser considerada uma OAE, mas sem os seus detalhes específicos. Basicamente, consiste de fundação com estacas de 70/80tf, com um bloco de ancoragem de onde nascem os pilares, com 7 m a 15 m de altura no máximo. E a meso-estrutura é complementada com uma viga que serve de apoio para a laje (moldada in loco), com comprimento máximo de 8 m a 10 m, mesmas distâncias em que as fundações também serão implantadas.
O grande desafio dessa obra, de acordo com Marcelo, não estaria concentrado apenas nos aspectos de engenharia. "A nossa empresa e a engenharia brasileira detêm um avançado conhecimento tecnológico para enfrentar qualquer tipo de dificuldade. O mais problemático é aplicar essas técnicas dentro de um cronograma tão apertado, satisfazendo também as múltiplas questões ambientais e sociais que estão envolvidas nessa obra".
Segundo ele, "a questão ambiental foi amplamente discutida, com antecedência, e não representa nenhum impedimento para a realização da obra. Para obter todas as licenças necessárias e satisfazer a todas as exigências, foram realizados 18 estudos de traçado, dos quais foi escolhido o que, realmente, representava a melhor alternativa&

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Outros aspectos
O trecho Leste terá o mesmo padrão rodoviário dos demais trechos em operação e construção do Rodoanel, com velocidade diretriz de 120 km/h, com duas pistas de quatro faixas de rolamento.
Todos os cruzamentos com o sistema viário dos municípios atravessados pelo Rodoanel serão exclusivamente em desnível, através de obras de arte especiais (viadutos), dando controle total de acessos, que será bloqueado ao fluxo viário local.
Estão previstos apenas quatro acessos ao trecho Leste:
• Ponto final do Trecho Sul, junto à interligação com Avenida Papa João XXIII, em Mauá;
• Rodovia Henrique Eroles (SP-066), em Suzano;
• Rodovia Ayrton Senna (SP-070), em Itaquaquecetuba;
• Rodovia Presidente Dutra (BR-116), em Arujá.
A estimativa de receita prevista em contrato, para os 35 anos de concessão, é de R$ 21 bilhões. O valor do pedágio, que ganhou a concorrência, foi de R$ 1,64, em valores de junho de 2009 (reajustes ocorrerão referentes aos meses de junho de 2010 e de 2011).
No trecho Leste, serão implantadas sete praças de cobrança, localizadas sempre nas alças de saída do Rodoanel. Existirão, entretanto, outras praças de pedágio, sempre nos pontos de transição de um tramo para o outro (entre os trechos Sul, Leste e Norte).
Um estudo da SPMar prevê um fluxo diário de 40 mil veículos no trecho Sul e de 12 mil, no Leste. Espera-se que 60% desse movimento sejam de veículos comerciais, o que equivale a dizer que só o Rodoanel Leste vai retirar, cotidianamente, cerca de sete mil veículos dessa categoria do tráfego urbano da RMSP.
Durante a execução das obras, a concessionária estima gerar em torno de seis mil postos de trabalho diretos e perto de 27 mil, indiretos. "A premissa da SPMar é empregar, basicamente, as pessoas das regiões circunvizinhas do Rodoanel", destaca Marcelo.

Fonte: Estadão


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