Nildo Carlos Oliveira
Pode vir aí, no dia 13 próximo, novo adiamento do leilão do trem-bala. Mas já estamos acostumados com as postergações desse empreendimento.
Desde o anúncio do projeto, em 2007, ele não sai do lugar. São seis anos de idas e vindas, com os argumentos contrários monotonamente se repetindo. Primeiro, foi o preço. Dizia-se que ele custaria R$ 33,1 bilhões. Depois, se verificou que, com os ajustes, sempre inevitáveis, passaria a custar R$ 38,6 bilhões. Mais tarde, no cálculo de quem entende de construção e operação de sistema ferroviário de alta velocidade, chegou-se a outro valor: R$ 53 bilhões.
Outros argumentos ajudariam a justificar dois adiamentos e a frustrar a terceira tentativa de leilão: o projeto ainda não estava no ponto. Os estudos iniciais foram efetivamente realizados, até com alguma dose de minúcias. Mas deveriam ser enriquecidos com mais informações geológicas e topográficas. E nada de se negligenciar dados técnicos de engenharia sobre as obras de arte especiais. O recente acidente com um trem desse tipo, na Espanha, alertou para a necessidade de maiores exigências no detalhamento do projeto executivo.
Atravessar áreas como o Vale do Paraíba e, depois, transpor subterraneamente a Serra das Araras, para depois correr ao longo da Baixada Fluminense, além de construir acessos, estações etc., pode até parecer tarefa singela. Mas, não é. Sobretudo, depois que o País decidiu provocar deliberadamente, ali pelos anos 1960, um apagão na cultura ferroviária que vinha acumulando desde os tempos do Império. Caso ele tivesse continuado a acompanhar, na prática, a evolução da tecnologia ferroviária, tudo bem. Mas rompeu com ela. E, hoje, os prejuízos são enormes.
Desta vez há outros argumentos para que o leilão do dia 13 não venha a acontecer. É que os consórcios da Espanha e da Alemanha estão pedindo o adiamento. Eles analisaram a proposta, mas acham que ainda precisam se debruçar mais um pouco sobre elas. Não querem se comprometer, sem ter os pés no chão e sem ter o alcance preciso da viabilidade técnica e econômica. Querem segurança quanto ao retorno dos investimentos.
Outro dado, a respeito do trem-bala, que poderá pesar na decisão sobre o adiamento, espalhou-se, recentemente, pelas ruas: os protestos populares dizem ao governo que há outra prioridade para investimentos em transporte. Trata-se da necessidade da construção e ampliação de linhas dos metrôs nas capitais. Estas, entupidas de carros e com simulacros de soluções tipo faixas exclusivas para ônibus, estão gritando mais alto por socorro.
Fonte: Revista O Empreiteiro