Três grandes usinas hidrelétricas chinesas estão na província de Yunan, ao sudoeste da China, na fronteira com Mianmar e Laos. Devem abastecer as regiões ao leste e reduzir a dependência das termelétricas a carvão.
Elas atingiram a capacidade máxima em meados de 2014. Em fins de junho, a usina de Nuozhadu entrou em operação plena e terá capacidade anual de 5,85 GW. Localizada no rio Lancang, a jusante do rio Mekong, é a quarta maior hidrelétrica da China. Poucos dias depois, Xiluodu atingiu geração plena no rio Jinsha, ao norte de Yunan, na divisa de Sichuan. Este rio deságua no Yangtse e a usina de 13,86 GW só perde para a famosa Três Gargantas.
No início de julho, a terceira maior usina chinesa, Xiangjiaba, alcançou capacidade total. A hidrelétrica de 6,4 GW está a 200 km de Xiluodu, a jusante. Todas elas já vinham gerando energia de forma escalonada. Ao todo, elas já suprem mais de um quinto da capacidade instalada no país, sendo o restante oriundo de térmicas a carvão. A China está prestes a atingir a meta de 290 GW gerados em hidrelétricas em 2015, estabelecido no 12º plano quinquenal, tendo registrado 278 GW em fins de 2013.
A etapa seguinte prevê chegar à capacidade instalada de 420 GW em 2020, um crescimento somente possível num país de governo central que controla, inclusive, as agências ambientais que emitem as licenças. Mesmo assim, uma dificuldade crescente é a reação da população quando as usinas novas provocam a realocação de povoados inteiros, como ocorreu em Três Gargantas.
Yunan aproveita o potencial de três rios
A província de Yunan tem sido alvo de extenso desenvolvimento hidrelétrico, nos três rios caudalosos que atravessam seu território – Nu, Jinsha e Lancang. O governo central instalou em Yunan a base da rota sul do Projeto de Transmissão Oeste-Leste, que se encarrega de fazer a energia produzida ao ocidente do país chegar aos consumidores das regiões densamente povoadas ao leste, junto ao mar.
A usina de Nuozhadu abastece Guangdong por uma linha de transmissão de 800 KV em alta voltagem e corrente direta, fornecendo energia para as metrópoles da delta do rio Pearl. A divisa entre Yunan e Sichuan fica no rota central do projeto de transmissão. Outra linha HVDC conecta Xiangjiaba a Xangai, no delta do rio Yangtze. Xiluodu vai suprir Zhejiang através de uma terceira linha similar.
A Yunan Power Grid, subsidiária da estatal China Southern Power Grid, exporta cerca de 1% da produção para Vietnã e Laos. O governo provincial local busca incentivar novas usinas, para aumentar a geração de imposto e atrair indústrias eletrointensivas. A população nas regiões banhadas pelos rios é constituída por minorias étnicas e pobres. A produção de energia alcançou 47 GW em 2013 e deve chegar a 64 GW este ano, conforme estimativas oficiais.
Energia abundante incentiva indústria local
A prefeitura de Lijiang, em Yunan, quer expandir a produção industrial e atingir o equivalente a 40 bilhões de yuans em 2015, quatro vezes mais do que 2010. Em 2013, a produção de energia cresceu 77%, enquanto a de cobre elevou-se em 46%. A empresa Yunan Aluminium vai construir uma nova fundição de alumínio na vila de Huaping, numa área pobre de Lijiang. As usinas geradoras locais estão preferindo vender a energia a indústrias locais, que pagam uma tarifa melhor, do que comercializá-la na rede regional, onde os preços são fixados a níveis mais baixos por um comitê nacional. Isso contraria a política oficial de abastecer preferencialmente a região oriental e urbanizada ao longo da costa, se os mecanismos de preços da energia não forem modificados.
Hidrelétrica no platô tibetano
É no platô tibetano que nascem muitos dos grandes rios da Ásia. O rio Yarlung Tsangpo, chamado de Brahamputra na Índia, que corre ao longo do Himalaia, está na maior altitude que se conhece entre cursos d’água. Ele corre de oeste a leste num vale, atravessa o platô tibetano até onde o Himalaia e as montanhas Nyenchen Tanglha e Hengduan se juntam. Suas águas forçam passagem entre os picos Gyala Peri e Namcha Barwa para formar a garganta mais profunda do mundo. Depois, dirige-se ao sul da Ásia para se encontrar com o rio Ganga e desaguar no Índico.
A Índia e a China planejam, desde os anos 90, um projeto hidrelétrico que será três vezes maior do que Três Gargantas neste local. Ao longo de 400 km a partir do topo da garganta, as águas descem 2.000 m de altitude. Especialistas estimam que um túnel através da queda natural comportaria 2 mil m³/s d’água, numa queda de 2.800 m, suficiente para acionar uma usina de 50 GW que poderia fornecer 300 bilhões de KWh de energia por ano. Os ambientalistas são radicalmente contra esse futuro empreendimento binacional.
Fonte: Revista O Empreiteiro