Túnel urbano preserva marco da engenharia hidráulica

Compartilhe esse conteúdo

Lisboa – Uma visita que fiz ao Museu da Água, nesta capital, permitiu-me avaliar os cuidados dos técnicos, pesquisadores, arquitetos e engenheiros com instituições da área da preservação histórica, da arqueologia e do meio ambiente em Portugal.
O museu guarda e difunde a história do Aqueduto das Águas Livres e de outros construídos no início ou meados dos anos 1700 para garantir o abastecimento de água a esta cidade. O aqueduto referido avança sobre o Vale de Alcântara, com 35 arcos e 14 ogivas estendendo-se por 941 m. O maior dos arcos tem vão de 65 m e 32 m de largura. Desativado em 1967, é um pedaço importante da história da engenharia hidráulica portuguesa.
O Museu da Água, que integra a Empresa Portuguesa das Águas Livres (Epal) é responsável tanto pela preservação daquela relíquia, quanto pela preservação das demais peças das estações elevatórias que asseguravam o aumento do fornecimento de água à cidade. É o caso, por exemplo, da estação elevatória a vapor dos Barbadinhos, onde quatro máquinas fabricadas em Ruão, França, funcionaram ali, ininterruptamente, até 1928.
A história é preservada pelo museu externa (os aquedutos) e internamente, mantendo em seu espaço máquinas e equipamentos longevos, incluindo as peças metálicas das instalações, trabalhadas no estilo manuelino e que chamam a atenção por conta desses pormenores.
A diretora do museu, Bárbara Bruno, tem a história desse patrimônio na ponta da língua, e narra como se deram as tentativas para se buscar a água da Fonte das Águas Livres, para Lisboa, a partir de 1571, até que as obras fossem efetivamente iniciadas, em agosto de 1732.
Riqueza dessa ordem tem de ser preservada, por mais que o progresso crie mecanismos para valorizar o presente – ou o futuro – em detrimento do passado. Por causa disso, ao ser articulado o projeto da Circular Regional Interior de Lisboa, a CRIL, foram considerados todos esses aspectos.
No traçado da CRIL, rigorosamente no maior túnel desse "rodoanel", lisboeta, o Benfica, com 300 m de extensão a céu aberto, havia estruturas dos aquedutos, inclusive o das Águas Livres. Como mantê-las incólumes na paisagem urbana e na história da cidade? Demoli-las seria impensável e a ultrapassagem sobre elas poderia ser outro absurdo. Tangenciá-las, sacrificaria as construções do entorno. Assim, só haveria uma solução, que a empresa construtora, a Bento Pedroso Construções, subsidiária da Norberto Odebrecht, resolveu colocar em prática. Ofereceu uma proposta, que embora a preço superior ao da concorrência, resultou na melhor escolha, uma vez que levava em conta o interesse histórico e arqueológico locais.
De início, ela rebaixou a travessia, empregou microestacas de contenção horizontalmente, executou estruturas de concreto pré-fabricado nas paredes laterais e consumou as escavações para dar forma ao túnel. Depois, encapsulou as estruturas dos aquedutos em caixa de concreto, garantindo-lhes a integridade no trecho. Elas são estruturas de alvenaria, de forma quadrangular ou circular, formadas por blocos de calcário. Com a solução, o túnel fica sob o aqueduto, preservando-o dos abalos do tráfego, deixando-o como testemunha de uma fase do desenvolvimento da engenharia hidráulica em Portugal.

Fonte: Estadão


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário