Efetivamente, o isolamento de Cuba, imposto pelos Estados Unidos, depois do rompimento das relações diplomáticas entre os dois países em 1961, tornou-se instrumentos anacrônico, meio século depois. Mas o embargo, que veio na esteira do isolamento político e econômico, e impôs a diversas gerações dos habitantes da ilha um severo regime de iniquidade, por conta de enormes carências, ainda não acabou.
Quando estive por lá, em fins dos anos 1980, o definhamento da economia local se acelerava, uma vez que a ilha já não podia contar com os subsídios de Moscou. O regime da antiga União Soviética estava na UTI e, logo depois, seria sepultado sob os escombros do muro de Berlim.
O esforço do povo cubano, para sobreviver, era enorme no campo e na cidade. E o país, que tradicionalmente respirava por causa da exportação do açúcar, foi aos poucos deixando esse segmento da economia de lado, a fim de se abrir mais ao turismo controlado.
Era uma tragédia circular pelas ruas de Havana velha, vendo prédios históricos caindo aos pedaços e a população sujeita a toda sorte de penúria. Era muito difícil o acesso até mesmo coisas triviais. Mas o povo continuou soberano e criativo. O sonho ajuda a superar as tragédias da realidade. Ele continuou a manter uma literatura viva, uma arquitetura questionadora e uma política de saúde admirável.
Como compreender que um país, situado a alguns passos náuticos da mais forte nação do mundo, prosseguisse combalido, com seus cidadãos sem os recursos mínimos da modernidade que estava ali à mão?
Contudo, o país fez bem ao derrotar o passado expelindo Fulgência Batista e outros delinquentes do poder.
Hoje, o momento histórico é outro. E, com a recomposição das relações entre os dois países, haverá uma dose maior de oxigênio na ilha. Cuba dispõe, em parte por causa do relacionamento com o Brasil, de um porto moderno, o de Mariel, onde o BNDES despejou nada menos que US$ 800 milhões. E, perto de 300 empresas brasileiras de diferentes portes e modalidades ali se encontram, estabelecendo negócios e buscando aprofundar raízes. Cuba está encontrando, enfim, a melhor saída para se desenvolver e, quem sabe? – o final do embargo também esteja próximo.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira