Foi, sim, uma festa da engenharia, com todos os ingredientes que a motivaram e justificaram. Ela ocorreu ontem (10) à noite no Clube Monte Líbano, aqui em SP, reunindo um público mais numeroso do que o registrado em outros eventos do gênero, no mesmo local, nos últimos anos. Pude conversar com muitos empresários, dentre eles, alguns dirigentes das maiores empresas de engenharia do país. A maioria se mostra satisfeita com os rumos da economia, enquanto outros acreditam que há necessidade de se arrumar a casa e, se possível, de se fazer uma revisão de prioridades, para acomodar melhor a questão da mão de obra e a situação social.
Embora o desempenho das empresas seja considerado favorável, é preciso que se caminhe mais um pouco para se encontrar uma solução adequada aos profissionais que emergem dos bancos universitários à procura de uma colocação no mercado de trabalho. Há novas regras em jogo. São muitas as exigências e a triagem é perversa.
Pede-se que o candidato a emprego, em diversas empresas, fale um inglês como se estivesse há anos vivendo em um país onde só se fala aquela língua. Em muitos casos, um bom candidato vê a chance escapar-lhe das mãos como se fosse uma enguia. E falar apenas uma língua estrangeira pode ser mais perigoso do que andar numa corda bomba entre dois edifícios, a mais de 40 metros de altura.
Dificilmente um recém-formado, que vá trabalhar numa estrada nos rincões remotos de alguma região amazônica vá precisar do inglês ou de outra língua estrangeira no contato diário com ribeirinhos ou com o dono de um armazém. De modo que há, sim, exigências descabidas, que acabam arrancando a oportunidade de ascensão de um bom profissional.
Além do que, há prioridades, no campo das obras públicas, que precisam ser revistas. O que foi prioritário ontem não significa que seja necessariamente prioritário hoje. Uma obra de saneamento em algum bairro de Belém, pode ser algo mais urgente do que a reforma de um edifício histórico em área central. As coisas não se excluem, mas tocar na questão da saúde pública e dos investimentos para esse fim pode ser uma coisa de vida ou morte.
É claro que os empresários estão de olho na margem da lucratividade. Mas isto não quer dizer que muitos deles não tenham uma visão de Brasil, estimulada pela realidade cotidiana. A engenharia brasileira tem muito a fazer. E muito mais ainda teria, se os administradores públicos não fossem míopes ou não enxergarem apenas os seus interesses imediatistas. A festa da engenharia de ontem, no Clube Monte Líbano, serviu, dentre outras coisas, para estas reflexões.
Fonte: Estadão