Quem viaja nos trens da Cia. Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) até a nova estação Autódromo, inaugurada no início de outubro como parte do projeto de expansão da Linha C do sistema, tem a atenção atraída para uma obra de engenharia especial: a ponte ferroviária sobre o rio Pinheiros, em estrutura metálica, situada entre a recém-reformada estação Jurubatuba e a nova estação Autódromo.
A obra de arte é parte do programa de expansão e modernização da Linha C, de Jurubatuba até Grajaú, em execução pelo consórcio ConsBem-Iesa, contratado pelo governo do Estado de São Paulo, através de licitação. A proposta é melhorar esta linha de trens suburbanos de passageiros, dotando-a das condições de segurança e conforto para que se torne, em um futuro próximo, uma linha de metrô de superfície. Dentro dessa proposta, a construção da ponte se configurou em um desafio segundo o engenheiro Ricardo Tonello, gerente do contrato.
Tonello explica que o contrato prevê a elaboração de projetos, fornecimento de mão-de-obra, material, sistemas e equipamentos para a realização das obras civis de infra-estrutura e instalação da nova via permanente, sobre o leito da antiga ferrovia de carga desativada. São 8,5 km de extensão de linha dupla, em bitola larga (1,60 m), entre Jurubatuba e Grajaú, no extremo sul do município de São Paulo. Ele inclui a modernização da estação Jurubatuba e a construção de três outras – Autódromo, Interlagos e Grajaú, bem como a instalação da ponte ferroviária, pesando cerca de 600t.
Na montagem da estrutura metálica foram empregadas 501,5 t de Aço SAC 350 e 30,6 t de Aço Corten. Mas o que deu muito trabalho mesmo foi a estrutura necessária para o seu transporte e instalação no local.
Logística complicada
Toda a estrutura metálica da ponte foi transportada desmontada, em segmentos até os dois canteiros de obras situados em cada uma das margens do rio. O objetivo era montá-la ao lado de uma outra ponte existente, inaugurada na década de 40, em via singela, por onde passavam os trens de carga em direção à baixada santista, e que também teve sua estrutura, inteiramente recuperada.
Para a montagem dos dois vãos laterais e o lançamento do vão central foi alugado, junto à empresa Guindastes Tatuapé, o maior guindaste telescópico sobre pneus do mundo. Trata-se de um LTM 500, fabricado pela Liebherr, considerado top de linha na Europa e na Ásia, com capacidade para a elevação de 550 t.
O transporte, tanto do guindaste quanto das seções da ponte, exigiu a formação de um comboio de 10 carretas, que percorreu mais de 20 km, por algumas das vias de circulação mais importantes de São Paulo, como a Marginal Pinheiros e a Marginal Tietê, a velocidades reduzidas. A operação foi iniciada às 5h30 da manhã do dia 2 de julho, partindo da Rodovia Fernão Dias, na localidade de Parque Novo Mundo, a 500 m da Marginal Tietê. A chegada aos canteiros de obras aconteceu por volta das 9h30. Por exigir várias intervenções no trânsito, ao longo do trajeto, a operação de transporte teve que ser coordenada pela Companhia de Engenharia de Trânsito de São Paulo (CET).
Mas os problemas não se resumiram ao transporte. A operação de encabeçamento das duas seções laterais exigiu a suspensão do trânsito no local, uma vez que se situa acima da alça de acesso à ponte Vitorino Goulart da Silva, do complexo viário Jurubatuba.
Os técnicos da CPTM e do consórcio ConsBem-Iesa observaram que o solo às margens do rio Pinheiros, por ser arenoso e não compactado, não apresentava a resistência necessária para suportar o peso do guindaste mais as seções da ponte que seriam içadas. Daniel Garzon, diretor Operacional da Tatuapé, explica que só a tara do imenso equipamento é de 96 t. “Some-se a isso mais 165 t de contrapeso e 14 t do cavalete da lança e teremos um total de 275 toneladas só do guindaste. Além disso, tínhamos que considerar as cerca de 75 t de cada seção metálica da ponte, o que perfazia um total de 350 t, muito acima da capacidade de resistência do solo” analisa Garzon.
Em razão das peculiaridades do solo local foi necessária a execução de estaqueamento raiz com base de blocos de concreto. Foi necessário ainda a colocação de chapas em aço de 3”, com 2,80 m de largura e 7 m de comprimento, além de dormentes em aço de 40 cm X 40 cm, e 7 m de cumprimento, sob cada patola do guindaste, para melhor distribuição do peso no terreno.
Superada essa fase, durante a operação de içamento do vão central, surgiu outro obstáculo a ser enfrentado: fortes ventos balançavam muito a estrutura metálica, fazendo com que a corda guia se arrebentasse repetidas vezes. Foi necessário muita habilidade e paciência do operador, além de duas horas de trabalho para o encaixe do vão central nas duas seções laterais. O guindaste, no entanto, ainda permaneceu sustentando a estrutura por quatro dias, até a conclusão do trabalho de soldagem das estruturas, quer receberam em seguida, pré-lages que foram concretadas.
Preservação ambiental e desapropriações
Ricardo Tonello lembra que a região às margens do rio Pinheiros, inclusive a área onde foi suspensa a nova ponte, é considerada de preservação de mananciais, isso exigiu liberação ambiental especial para a realização das obras. Dezenas de árvores tiveram que ser transplantadas e famílias que habitavam áreas invadidas ao longo da faixa de domínio da ferrovia tiveram suas casas desapropriadas e foram indenizadas ou reassentadas em outros locais, para dar passagem á nova linha.
Atualmente, passam sobre a ponte ferroviária cerca de 125 mil usuários do sistema CPTM, por dia. Mas a expectativa é de que esse fluxo aumente para 170 mil passageiros/dia, com a conclusão do programa de expansão do sistema e a inauguração da estação Grajaú.
A extensão da Linha C vai mudar o transporte coletivo na Zona Zul da capital paulista e beneficiar, direta e indiretamente, mais de 800 mil pessoas que moram naquela região. O tempo de deslocamento entre o Grajaú e o Centro da cidade vai ser reduzido, de mais de 2 horas para menos de 1 hora. A Linha C da CPTM vai se integrar, futuramente, com a Linha 4 do Metrô que, por sua vez, vai ligar a estação Luz, no Centro, até Vila Sônia, na zona Oeste da cidade.
Fonte: Estadão