Quando a modernização da Reinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos, estiver concluída em 2011, a Petrobrás começará finalmente a produzir combustíveis que atendam à legislação ambiental da Agência Nacional de Petróleo, com menores índices de emissão de C02.A modernização engloba ainda outras unidades, como Paulínia (SP), Mataripe (BA), Duque de Caxias (RJ), Araucária (PR) e outras nove cidades no Brasil que abrigam Unidades da área de Refino da empresa. O objetivo não é o aumento da capacidade de refino, que permanecerá em 40 milhões de l por dia, ou 15% do processamento de derivados de petróleo do Brasil, mas a produção de derivados com melhor qualidade, menos poluentes e que emitam menor índice de SO2.A modernização tem como principal objetivo a redução dos teores de enxofre da gasolina e do diesel e ainda viabilizar em maior escala a conversão do óleo combustível em gasolina, querosene de aviação e gás de cozinha. O projeto de modernização da Revap vai custar US$ 3,1 bilhões, dos quais 58% já foram aplicados. As obras devem ser concluídas em 2011.Haverá ainda ganhos na qualidade do ar da região, com a redução de 96% das emissões de SO2. Além disso, a melhora do processamento do petróleo nacional reduzirá importações, inserindo a refinaria nas exigências de qualidade dos mercados nacional e internacional nos próximos anos. A nova Unidade de Tratamento de Gasolina utiliza tecnologia francesa, que permite a remoção de grande parte do enxofre da gasolina, substância que contribui para a incidência de problemas na atmosfera e na formação da chuva ácida. O enxofre retirado poderá ser utilizado na fabricação de diversos produtos. A estimativa é que 80% do óleo combustível seja convertido em produtos de maior valor agregado. Com a substituição dos processos, o teor de enxofre da gasolina e do diesel será reduzido em até 40 vezes. No caso da gasolina dos atuais 1.000 ppm para 50 ppm, e do diesel, de 2.000 ppm para 50 ppm.O empreendimento contempla ainda a Unidade de Reforma Catalítica, que produzirá uma gasolina de alta octanagem, semelhante à usada na Fórmula 1. As Unidades de Gasolina de Tratamento e Reforma Catalítica terão baixo consumo de energia e utilizarão gás natural para geração de calor. A modernização permitirá a Revap tornar-se auto-suficiente na área energética. Para isso será instalado um equipamento já disponibilizado em três outras refinarias da Petrobrás: o turbo-expansor, capaz de gerar 22 megawatt. Segundo as estatísticas, para cada 22 megawatt deixa-se de emitir para a atmosfera, em média, 500 mil t de gás carbônico por ano.A modernização engloba 13 contratos, envolvendo os seguintes consórcios: BVC (Camargo Correa, Promon e MPE); Gasvap (Odebrecht, Promon e UTC Engenharia); PDT (Potencial e TKK Engenharia); QI (Queiroz Galvão e IESA), e Ecovap, além de outras empresas envolvidas como a Barão Engenharia, H.Henil, Barefame Instalações Industriais, Confab Equipamentos, Orteng, UTC Engenharia, Construcap e Santa Bárbara.Ao todo serão aplicados R$ 6,7 bilhões até 2011, dos quais R$ 3,9 bilhões já gastos. As primeiras a serem concluídas foram as etapas da U-603 - Área de Armazenamento de DEA (Tancagem de DEA) e Sistema de Nitrogênio - construído pela Ecovap (Toyo, OAS, Setal). Na contratação das empresas, a Petrobrás inseriu cláusulas com exigência de qualiicação e certificação da mão-de-obra, além de firmar parcerias com os municípios de São José dos Campos, Jacareí e Caçapava para a contratação de mão-de-obra local.Energia com uso de gás carbônicoCom a entrada em operação do turboexpansor, o quinto em operação no país, a unidade da Revap alcançará uma economia de 500 mil toneladas de gás carbônico. A Revap pretende credenciar o turboexpansor como um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), pois gera energia sem a necessidade de queimar combustível. Equipamento similar ao de uma turbina de avião, o turboexpansor é composto por um gerador elétrico e oito válvulas, fabricadas na Itália. As válvulas, de 120 polegadas de diâmetro, são as maiores do mundo para gás de reinaria e pesam 70 toneladas. Com a instalação do turboexpansor e o projeto de coogeração, em andamento, a Revap busca a auto-suficiência em energia elétrica, produzindo 42 MW/mês. A unidade de propeno foi a primeira do projeto a entrar em operação, em junho de 2008.Neste ano, além do turboexpansor, está sendo concluída a nova unidade de Tratamento de Hidrocarboneto Leve (UTGR), que entra em funcionamento até o mês de agosto, produzindo o gás HLR, um insumo utilizado pela indústria petroquímica. A UTGR da Revap foi construída para suprir a Quattor, antiga Petroquímica União (PQU), com o gás de reinaria. Além do HLR e do propeno, a Revap modernizada também produzirá o coque - unidade que entrará em operação em meados de 2010. O coque, produto resultante do processo de craqueamento de resíduos pesados, é utilizado pela indústria de alumínio, na fabricação de eletrodos, carboneto de cálcio e de silício. O produto também é usado como combustível para a indústria metalúrgica e de cerâmica.Potencial lidera obras do TurboExpansorA meta da Reinaria Henrique Lage (Revap) de produzir energia elétrica a partir do aproveitamento de gases, conta com o consórcio PTT-Revap, sob a liderança da Potencial Engenharia e em parceria com a TKK Engenharia. O Consórcio PTT-Revap é responsável pela implantação de novos sistemas de geração de energia elétrica, além da ampliação da oferta de vapor de alta pressão para alimentar as novas unidades de processos. Segundo José Lima Oliver Jr, da Potencial, a obra contabiliza aproximadamente 1 milhão de homens-hora trabalhadas sem nenhum acidente com afastamento, resultado de processo de conscientização entre os colaboradores em relação à saúde, segurança e meio ambiente.Lima esclarece que ao processar uma carga de gasóleo a Unidade de Craqueamento Catalítico (U-220) da Revap produz, em seu terceiro estágio, gás proveniente do regenerador do reator. Destinado à queima em caldeiras, este gás gera vapor de alta pressão e pode ser reaproveitado para o acionamento de um turboexpansor, gerando energia elétrica. Coube ao Consórcio PTT desenvolver o projeto d e detalhamento e fornecer e materiais e equipamentos necessários ao empreendimento, com exceção do turboexpansor e equipamento periféricos, que foram fornecidos pela Petrobrás para a montagem de todo o sistema.A instalação do turboexpansor, equipamento similar ao de uma turbina de avião, com capacidade de produzir 22 megawatts de energia, ocorreu ao lado da Unidade do Forno de Craqueamento Catalítico (UFCC), que permaneceu em operação durante toda a montagem, a interligação das linhas de gás foi efetuada durante uma breve parada de cinco dias.Oliver explica que o suporte de 1.450 m³ de concreto para as bases e fundações, foram executadas estacas hélices contínua com 60 cm de diâmetro e 23 m de comprimento. Também foram montadas 350 t de estruturadas metálicas, 360 t de tubulações de aço inoxidável de diâmetros entre 1680 mm e 2680 mm, além de oito válvulas de 120 polegadas de diâmetro fabricadas na Itália. Estas válvulas são consideradas as maiores do mundo para gás de refinaria, com 210 t. Um guindaste de 550 t de capacidade e mais de 800.000 homens-hora foram utilizados na construção.O projeto de cogeração envolve a execução dos seguintes serviços:Gerador síncrono (G-59103), turbina a gás para acionamento do gerador (TS-G-59103), Caldeira Recuperadora Geradora de Vapor - HRSG (GV-59202). Na área da U-500 estão situadas caldeiras que alimentam as instalações existentes. Junto a este sistema será instalada uma Turbina a Gás que, acoplada ao gerador Síncrono, irá produzir energia elétrica na potência de 31,25 megawatts. "Os gases quentes de exaustão provenientes da queima na turbina irão alimentar a nova caldeira de vapor de alta pressão. A nova caldeira a ser instalada irá gerar 140 t/h de vapor de alta pressão (104 kg/cm² a 510º). Também para o projeto de cogeração cabe ao Consórcio PTT o desenvolvimento do projeto executivo, além da montagem da turbina, do gerador e caldeira, das estruturas dos pipe-racks e tubulações, e fornecimento do Vaso Desaerador, bombas de alimentação de água, estruturas metálicas e tubulações", conclui.Montagem complexaPor se tratar de uma obra vertical, o maior desafio foi a montagem de estruturas e tubulações de grande diâmetro (diâmetro de até 1.680 mm) que alcançaram até 50 m de altura de montagem. Adicionalmente a esta dificuldade, os serviços se desenvolveram junto a unidade de Craqueamento Catalítico (UFCC) que permaneceu em operação durante toda a obra, a exceção do curto período de 5 dias de interligação dos sistemas. "Esta situação obrigou a obra a tomar cuidados adicionais para a sua execução", destaca José Lima.Devido as dimensões das peças e da verticalização da obra, foram usados ao longo do seu desenvolvimento simultaneamente guindastes de grande porte destacando-se os guindastes de 500 t, de 400 t, e de 300 t, além de guindastes adicionais de apoio de 160 e 100 t. No total foram consumidos dezoito meses e 1.500.000 homens hora de trabalho. A equipe média da montagem foi de 450 pessoas, atingindo no pico da obra o efetivo de 600 pessoas. "Durante toda a obra não ocorreu nenhum acidente com afastamento", destaca o executivo. A logística adotada, devido às dimensões das peças e o processo de montagem adotado, buscou reduzir ao máximo a interferência com a unidade de operação. Tanto as estruturas quanto as tubulações foram projetadas para serem moduladas e fabricadas fora da área da unidade (reinaria). "O transporte e a disponibilidade das peças no momento correto eram fundamentais para o sucesso da montagem, devido a falta de local para estocagem e pré-montagem dos conjuntos", conclui Lima.O consórcio PTT é constituído por duas empresas do mercado de construção industrial, a Potencial Engenharia S.A. e TKK Engenharia, com amplo expertise na área. A Potencial já montou o turbo expansor na Regap (Reinaria Gabriel Passos - Betim). As principais parceiras da empresa no empreendimento foram Mana Engenharia (projeto), Sanebras (estruturas metálicas) e Ebse (Calderaria - tubos especiais). Reuso de águaUm dos diferenciais da modernização da Revap está no novo sistema de reuso de água industrial. Desde 2002, a empresa pesquisava a aplicação de biorreatores a membrana (MBR), eletrodiálise reversa (EDR), membranas de osmose reversa, ultra e microfiltração, iltros de carvão ativado e de cascas de nozes, a serem adotadas em diversas de suas plantas. O intuito era o de, na primeira etapa, economizar 650 milhões de litros por mês de água, equivalente ao consumo de uma cidade de 150 mil habitantes.A primeira grande licitação ficou por conta da Reinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos-SP, justamente por causa das necessidades mais urgentes da reinaria, e como etapa necessária para o processo de modernização,com novos sistemas de remoção de enxofre e nitrogenados. Também já estão em funcionamento desde 2008 os sistemas da Reinaria de Capuava (Recap), em Mauá-SP, e na Reinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim-MG. A obra da Revap foi dividida em duas licitações, uma para construção da nova estação de tratamento de despejos industriais (ETDI) e outra para a estação de tratamento de água (ETA), responsável por polir o efluente tratado para usos mais nobres. A ETA contempla um clarificador de alta taxa lamelar, seguido de filtro de areia e de carvão ativado, mais uma unidade de ultrafiltração (GE Zenon ZW100, para 600 m³/h), outra de osmose reversa (duplo passo e duplo estágio) e o polimento misto de resinas de troca iônica. Dimensionada para 1.100 m³/h, a nova planta produzirá inicialmente este total de 800 m³ de água desmineralizada para alimentar quatro caldeiras velhas e duas novas provenientes da modernização. Fonte: Estadão