Um dos principais problemas da Amazônia é sua taxa anual de desmatamento, que atinge milhares de quilômetros quadrados por dia. De 2000 para cá, os índices de desmatamento têm se mantido acima dos 20 mil km², graças principalmente ao avanço da pecuária e da soja na região. Enquanto não parte do governo a definição de uma política de desenvolvimento sustentável para a região, entidades da sociedade civil e organizações não-governamentais (ONGs) tentam articular propostas de um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia que combine responsabilidade social e proteção ambiental, permitindo a exploração dos recursos da floresta de maneira racional e assim garantindo qualidade de vida para os habitantes da região.
Algumas iniciativas começam a render valiosos frutos: o Ministério Público Federal (MPF) no Pará encaminhou, recentemente, às redes de supermercados Carrefour, WalMart e Pão de Açúcar, uma recomendação para que parem de comprar carne proveniente de áreas desmatadas para o aproveitamento dos espaços como pastos clandestinos, distribuída por frigoríficos do Pará. Outros 72 compradores de produtos bovinos também receberam a recomendação. O descumprimento do pedido pode resultarem multa de R$ 500,00 por quilo de produto comercializado. Como resultado da recomendação, as redes de supermercados, em nota assinada também pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), anunciaram a suspensão de compras de produtos bovinos de 11 empresas frigoríficas do estado, por não terem garantias de que a carne não vem de áreas desmatadas na Amazônia.
"O setor supermercadista, através da Abras, não irá compactuar com as ações denunciadas e reagirá energicamente", diz a nota. A decisão dos supermercados também foi resultado do relatório sobre a pressão que o gado exerce sobre a Amazônia, elaborado pela ONG Greenpeace. O relatório, intitulado "A farra do Boi na Amazônia", denuncia a relação entre empresas frigoríficas envolvidas com desmatamento ilegal e trabalho escravo com produtos de ponta comercializados no mercado internacional. Ainda de acordo com o relatório, o governo brasileiro financia e tem participação acionária nas principais empresas pecuárias que atuam na Amazônia. O frigorífico Bertin é uma das empresas apontadas pelo Greenpeace como responsáveis pela compra de gado de fazendas que desmataram ilegalmente a floresta Amazônica, distribuindo no Brasil e mundialmente os produtos derivados dos animais. "Os frigoríficos que atuam na Amazônia precisam se comprometer imediatamente a parar de comprar gado de fazendas que desmatam", disse André Muggiati, do Greenpeace.
Auditoria socioambiental
Os supermercados solicitaram aos frigoríficos que apresentem ao Ministério Público um plano de auditoria socioambiental, realizado por empresa independente, sobre a origem do gado que comercializam. O MPF já havia pedido aos supermercados e empresas notificadas que implementem sistemas de identificação sobre a origem do produto bovino.
Além disso, o Ministério Público Federal pretende ampliar as ações de combate ao desmatamento, com responsabilização da cadeia produtiva da pecuária, para outros estados da Amazônia, como Mato Grosso e Rondônia.
O Greenpeace tem, ainda, denunciado a derrubada inescrupulosa de árvores feita pela indústria madeireira na Amazônia e exigindo das autoridades governamentais instrumentos eficientes de controle e fiscalização. A campanha também visa a educar consumidores, incentivando-os a escolher produtos florestais que tenham origem ecologicamente sustentável, como a madeira certificada pelo FSC (Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal).
Fonte: Estadão