Augusto Diniz (O Empreiteiro) e
Andrew Wright (ENR – Engineering News Record)
– Porto Velho (RO)
Apesar de a Hidrelétrica de Jirau se localizar dentro dos limites do município de Porto Velho, ela fica a mais de 120 km do centro urbano. Para chegar lá, é preciso pegar a BR-364 em direção a Rio Branco, no Acre, desde a capital rondoniense. Na estrada, vê-se a construção da subestação de energia do complexo do rio Madeira. Mais adiante, trechos densos da Floresta Amazônica. Um pouco mais à frente, aparece a cidade de Nova Mutum Paraná, distrito que se deslocou para o local por conta da inundação de parte da antiga vila pelo lago de Jirau. Adiante, vem a entrada do canteiro de obras.
Com esse cenário, percebe-se que a construção de uma das maiores hidrelétricas do País vem exigindo elevada capacidade logística. Jirau já teve no pico 22 mil operários trabalhando ao mesmo tempo, com 80% vivendo no próprio canteiro de obras.
Capacidade e casas de força
Quando estiver operando, a Hidrelétrica de Jirau irá gerar até 3.750 MW/h. A expectativa é que, a partir do início do ano que vem, uma turbina por mês, em média, seja colocada em operação. Atualmente, 55% dos trabalhos de construção da usina foram feitos. A previsão é terminar a obra em 2015. O investimento é de R$ 14 bilhões.
A hidrelétrica é composta de duas casas de força, cada uma localizada em uma margem do rio Madeira. Na margem direita, na casa de força 1, serão posicionadas 28 turbinas. Na margem esquerda, está a casa de força 2, que terá 22 turbinas. No total, portanto, serão 50 turbinas em operação – pelo projeto original, seriam 42 turbinas em operação; depois, pensou-se em 44. Porém, estudos comprovaram a viabilidade de se instalar até 50 turbinas do tipo bulbo na hidrelétrica para geração de energia.
Pelo cronograma, as turbinas da casa de força 1 é que entrariam em operação primeiro. Mas por conta de atrasos na obra – notadamente por problemas de greves dos operários -, os planos foram alterados e as turbinas da casa de força 2 é que fornecerão energia na fase inicial.
As turbinas da casa de força 1 serão fornecidas pela Voith, Andritz e Alston. Na casa de força 2, pela chinesa DEC – Dongfang Electric Corporation.
Enquanto as peças das turbinas da casa de força 1 chegam ao canteiro de obras por estradas, as turbinas chinesas percorrem caminhos mais complexos, que levam até dois meses para aportar em Jirau. Além de atravessarem oceanos, as turbinas da China sobem por meio de barcaças os rios Amazonas e Madeira.
O concreto que será lançado para erguer a barragem e o que está sendo usado nos estruturas essenciais da usina têm sido empregado à temperatura de 20°C. Para isso, usa-se gelo na mistura. A medida reduz as possibilidades de fissura no concreto.
Um log boom (estrutura com boias cilíndricas enfileiradas), ocupando 3 m de profundidade do reservatório de Jirau, está posicionado visando à retenção dos numerosos troncos de árvores que tradicionalmente descem o rio Madeira. Um sistema descarregador de troncos está em fase final de construção para conduzi-los a jusante.
Três sistemas de transposição de peixe foram criados ao longo da estrutura da usina. Parques industriais, com usinas de asfalto e centrais de britagem, estão localizados em ambas as margens do rio, dentro do canteiro de obras.
Desafios
O engenheiro João Domingos Amaral, gerente de engenharia da Camargo Corrêa, já trabalhou na construção das hidrelétricas de Jaguari, Passo Fundo, Itaúba (RS), Santo Santiago (PR), Tucuruí (PA) e Porto Primavera (SP). Filho de barrageiro, ele coloca como desafios na obra o cronograma apertado e a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada em abundância. Henrique Haroldo Dijkstra, gerente de obras, construção e montagem da Leme/Tractebel Engineering, outra empresa envolvida nos trabalhos, também vê dificuldades na capacitação da mão de obra.
Greves e alojamentos
A Hidrelétrica de Jirau foi, entre todas as grandes usinas em construção no Brasil, a que mais sofreu com as greves em 2011 e 2012. Em ambos os anos, cenas de vandalismo, alojamentos e ônibus queimados foram o ápice dos protestos no canteiro de obras.
Por causa dos acontecimentos deste ano, os alojamentos na margem direita (onde se dá acesso ao canteiro de obras da Hidrelétrica de Jirau) foram totalmente destruídos. Atualmente, estão em fase final de reconstrução alojamentos para 10 mil pessoas. Os alojamentos da margem esquerda, para 6.200 pessoas, não foram atingidos na greve.
A paralisação de 2012 representou a demissão de 2.500 funcionários. Além disso, 60 pessoas foram indiciadas por vandalismo. Muitos operários voltaram para suas cidades de origem – a maioria do Nordeste – por falta de condições no canteiro após os incidentes.
Devido ao episódio, Jirau reduziu drasticamente seu número de trabalhadores, para 10.400. A previsão é que os operários que haviam se afastado da obra por falta de condições retornem aos seus postos de trabalho a partir de agosto.
O problema fez com que o cronograma das obras de Jirau atrasasse pelo menos um mês e que o início das operações das turbinas começasse pela casa de força 2 (na margem esquerda; lado menos atingido pelas greves), e não mais pela casa de força 1.
De acordo com pessoas ouvidas no canteiro de obras de Jirau, a greve tem como principal reivindicação melhores salários, mas interesses políticos de sindicatos e outras entidades da região, além de baderneiros e até drogados, criaram maior estado de tensão no local durante as paralisações. O fato da Hidrelétrica de Jirau contar com um grande contingente de pessoas alojadas no canteiro e estar localizada distante do centro urbano, propicia ainda mais condições para distúrbios.
A área de alojamentos da margem esquerda do canteiro de obras da Hidrelétrica de Jirau é composta ainda de salão de jogos, academia, campos de futebol (grama e areia), cinema, sala de televisão, farmác
ia, lan house, supermercado, salão de beleza e agência de banco (Bradesco). Porém, o centro ecumênico está fechado. Ele está ocupado pela Força Nacional, que policia o canteiro desde os incidentes provocados pelas greves.
No refeitório de Jirau, em junho, 30 milhões de refeições já haviam sido preparadas (as obras começaram em outubro de 2008). Por dia, são feitas 36 mil refeições. A lavanderia do complexo lava por mês 160 mil uniformes.
Nova Mutum Paraná
Parte do antigo distrito de Mutum Paraná será alagada com o lago da Hidrelétrica de Jirau. Assim, foi necessário remover toda a população da localidade para uma nova cidade. Criou-se então a Nova Mutum Paraná, com 1.600 unidades habitacionais, além de toda a infraestrutura de uma cidade.
Com área total de mais 2 milhões de m², seis mil habitantes viverão no novo lugar. Localizada às margens da BR-364, a cerca de 100 km de Porto Velho, a população dispõe ainda de escolas, unidades dos Correios, de saúde e segurança pública, além de rodoviária, centro comercial, sede de administração pública, serviços bancários, mercado público dos produtores rurais, área para instalação de empresas e pequenas.
Antes de realocar a população de Mutum – a maioria ribeirinha do rio Madeira -, três opções foram oferecidas aos seus moradores: mudar para a nova cidade, obter uma carta de crédito ou adquirir terra em área rural próxima. A maioria optou por se transferir para Nova Mutum.
A área inundada do lago de Jirau representa 300 km², sendo que 74 km² fora da calha do rio.
Consórcio Energia Sustentável do Brasil S.A. – responsável pela construção, manutenção, operação e venda da energia a ser gerada pela Hidrelétrica de Jirau. A empresa é formada pela GDF Suez (50,1%), Eletrosul (20%), Chesf (20%) e Camargo Corrêa (9,9%)
O projeto
*Planta geral da UHE Jirau
• Casa de força 1 (margem direita):
28 unidades geradoras
• Vertedouro: 18 vãos, com vazão de água
média de 25 mil m³/s
• Barragem: 1,15 km de comprimento e
62 m de altura
• Casa de força 2 (margem esquerda):
22 unidades geradoras
Fonte: Padrão