Terminais catarinenses planejamse fortalecer para atrair empresasque usam portos saturados em outras regiões
Nara Faria
Com a promessa de serem uma alternativa para empresas que operam em terminais saturados no País, os portos catarinenses pretendem investir US$ 1 bilhão nos próximos anos em melhorias.
Além do setor público, grandes companhias brasileiras e estrangeiras, como o grupo Batistella, LOGZ Logística Brasil, Aliança Hamburg Süd, Iceport, Teconnave, APM Terminals, Tesc, Santos Brasil, Brasmar, Fastcargo e SulAmérica, investem em novos terminais, berços de atracação e na infraestrutura em geral.
A expectativa é que os portos catarinenses tenham capacidade até 2015 de movimentar 7 milhões de TEUs (que equivale a um contêiner de 20 pés) por ano, frente à atual capacidade de 3,5 milhões de TEUs por ano, de acordo com estimativas apresentadas pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) em recente seminário de promoção de portos do estado, realizado em São Paulo.
“Santos tem restrições para aumentar calado e fazer melhorias de acesso. Por isso os portos de Santa Catarina têm sido alternativa para determinados produtos. Atualmente já temos demanda de 20%, 30% do Sudeste, com foco para contêineres”, afirma Egídio Martorano, coordenador da Unidade de Competitividade Industrial da Fiesc.
Santa Catarina possui mais de 500 km de extensão costeira, na qual estão instalados seis portos: Itajaí, Navegantes (Portonave), São Francisco do Sul, Imbituba, Itapoá e o porto pesqueiro de Laguna. Cada um dos portos possui características próprias de gestão e carga movimentada. Todos eles passam por ampliação de capacidade, incluindo o aumento de profundidade dos canais de acesso, a fim de permitir a operação de navios de grande porte.
Os portos de Itajaí, Imbituba e São Francisco do Sul aguardam ainda pela decisão do governo quanto ao marco regulatório (MP 595), que prevê investimentos da União e iniciativa privada de R$ 2,12 bilhões nos terminais da região.
Portos catarinenses devem ter capacidade de movimentar 7milhões de TEUs até 2015
Competitividade depende da nova bacia de evolução
O tamanho dos navios que trafegam na costa brasileira e as limitações dos canais de acesso e bacia de evolução do Complexo Portuário do Itajaí são vistos como limitadores da atividade portuária em Itajaí e Navegantes.
Atualmente, o complexo opera, em caráter experimental, com navios com até 304 m de comprimento. Porém, para receber navios full-containers com 335 m de comprimento e 45 m de boca, que já trafegam pela costa brasileira, será necessário construir uma nova bacia de evolução.
O projeto vem sendo estudado pela empresa holandesa Arcadis há cerca de três anos. Segundo os estudos, a construção, que possui custo estimado de R$ 300 milhões, permitiria receber navios de 366 m com 52 m de boca. “Isso significa colocar o porto de Itajaí novamente na agenda dos armadores”, afirma Ricardo Arten, diretor-superintendente da APM Terminals – empresa responsável pelo manuseio de cargas.
Contudo, ele lembra que o projeto possui duas restrições críticas. A primeira é a polêmica necessidade de uma desapropriação na área de Navegantes. A segunda é conseguir licenciamento ambiental para a sua execução.
Em paralelo, entre as ampliações previstas para atender a esta expectativa de aumento de demanda, está a ampliação do Terminal Portuário de Navegantes, administrado pela Portonave e localizado na margem esquerda do rio Itajaí-Açu, no município de Navegantes.
A Triunfo Participações e Investimentos, concessionária do porto, afirmou que começará a realizar os investimentos, que somam R$ 150 milhões. De acordo com a Portonave, as obras estão previstas para este ano e devem promover a expansão do terminal portuário dos atuais 270 mil m² para 410 mil m².
Na parte de equipamentos, na primeira semana de abril, o terminal recebeu três novos portêineres e cinco novos transtêineres para integrar a atual frota. Além disso, está em andamento a dragagem para ampliar os canais de acesso e bacia de evolução do Complexo Portuário de Itajaí, para 14 m.
A mudança na profundidade ampliará a capacidade para até 600 contêineres carregados por navio. O investimento da União na obra soma R$ 55 milhões. De acordo com o gerente comercial do Portonave, Juliano Perin, a previsão é que esta obra se encerre até julho deste ano.
Itapoá investirá R$ 1,5 bilhão em infraestrura
Outra promessa de desenvolvimento na região, o porto privado de Itapoá é o mais novo empreendimento do setor no Brasil. Com calado natural de 16 m, além da movimentação de contêineres de longo curso, o porto atua também como um hub port, concentrando cargas de importação e exportação.
O Porto Itapoá, que tem como acionistas a Portinvest Participações (Grupo Battistella e LOGZ Logística Brasil) e a Aliança Navegação e Logística (Grupo Hamburg Süd), está entrando em uma nova fase do projeto, que prevê a expansão física e operacional do empreendimento.
O terminal está em sua primeira fase e tem capacidade de 500 mil TEUs por ano, operando com quatro guindastes e 11 RTGs (Rubber Tire Gantry Cranes). Nesta primeira fase foram investidos R$ 600 milhões, com R$ 10 milhões aplicados em parceria com o governo na melhoria em estrada, energia e em infraestrutura em geral.
A perspectiva é que na segunda fase do projeto, que terá investimentos de R$ 600 milhões, o porto alcance capacidade de 2 mil TEUs por ano.
Na terceira fase, estima-se que o porto atinja 3,5 milhões de TEUs por ano. “O que é exatamente a capacidade de Santa Catarina hoje”, destaca o presidente do terminal, Patrício Júnior. Para isso, o porto necessitará de 20 STSs (guindastes do tipo portêiner) e 60 RTgs e mais R$ 400 milhões em investimentos, somando R$ 1,5 bilhão.
Segundo ele, serão necessários ainda R$ 100 milhões para aumentar a capacidade de entrada do canal. “Itapoá precisa do apoio do governo federal para a execução desta etapa. Uma alternativa é trocar
o traçado do canal e a outra é melhorar o atual, fazendo como qualquer porto da Europa e dos Estados Unidos, ou seja, navegação em duas mãos 24 horas”, completa. Na estimativa do presidente do porto, com o final das obras, previsto para 24 meses, Itapoá terá capacidade para receber navios de até 400 m.
Imbituba e Porto de São Francisco em obras
Localizado no centro-sul do estado de Santa Catarina, o Porto de Imbituba recebe grande movimentação de granéis líquidos e sólidos, congelados, contêineres e carga geral. Em dezembro do ano passado, a administração foi repassada pela União ao estado de Santa Catarina, por intermédio da SC Par Porto de Imbituba.
Entre as obras previstas para o porto está o processo de dragagem esperado para o primeiro semestre de 2013. As ordens de serviços para dragagem do Porto de Imbituba e construção do novo acesso devem ser assinadas em até dois meses.
Avaliada em R$ 40 milhões, a obra no canal aumentará de 2 m ou 3 m a profundidade. Atualmente, o canal tem 15 m de profundidade e os berços medem 12 m. Com isso a bacia de evolução, que tem atualmente 450 m, passará a ter um raio de 600 m.
Ao todo, as obras de dragagem estão sendo realizadas com investimentos da Secretaria Especial de Portos (SEP) de US$ 18 milhões (R$ 36,15 milhões), mais uma contrapartida de US$ 1,5 milhão (R$ 3 milhões) diretamente da autoridade portuária. É esperado ainda investimento no acesso de US$ 25 milhões (R$ 50,2 milhões). O valor está provisionado e a obra já recebeu autorização do governo para ser iniciada.
Outros US$ 100 milhões (R$ 200,8 milhões) estão sendo investidos na infraestrutura, considerando os recursos diretos das autoridades portuárias, mais os investimentos previstos pelos operadores portuários. “Esse é um pequeno retrato de nosso porto e das possibilidades que podem representar, da variedade de cargas que podemos movimentar”, afirma o presidente do Porto de Imbituba, Rogério Pupo.
Localizado na Baía de Babitonga (SC), o Porto de São Francisco do Sul é considerado de múltiplo uso, movimentando granéis de exportação, granel de importação, contêineres, carga geral, produtos siderúrgicos, o que complementa a estrutura portuária.
O presidente do porto, Paulo Cesar Cortês Corsi, destaca entre os principais projetos a previsão da construção de um terminal privado para grão, chamado de PVC, que está na fase de licenciamento. Além disso, na área do porto público, está prevista a construção de mais um cais. Há projeções ainda para a ampliação do Tesc, um terminal privado localizado dentro do porto.
Fonte: Revista O Empreiteiro