Em mãos, o livro Sidônio Porto, um intérprete de seu tempo, editado pela PW Gráficos e Editores Associados, conforme concepção e projeto editorial de Vicente Wissenbach e textos e pesquisas de uma equipe, à frente Mônica Junqueira de Camargo.
Trata-se de uma arquitetura explícita por si mesma, dada a visibilidade com que se coloca defronte de todos. Progrediu abrindo caminho próprio e avançou para além de convenções e utilitarismo, se apropriando dos valores que a pesquisa exaustiva lhe vem proporcionando.
Na apresentação do livro o arquiteto deixa uma clareira iluminar o conjunto: "São todas essas obras peças de um imenso quebra-cabeças em que procuramos imprimir conceitos de arquitetura desenvolvidos através de um trabalho persistente, rigoroso e independente, se possível, de modismos e de oportunismos".
Acompanhei essa trajetória. Desde as primeiras obras. O meu primeiro contato com Sidônio ocorreu no começo da década de 1970, quando havia uma febre nascente em favor da industrialização. Esta, seria outro caminho, que se contrapunha ou ao menos colocava outra opção, além daquela até então seguida pelos mestres do concreto aparente.
Ele concebeu o prédio-sede da Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), na avenida Paulista, com fachada em peças pré-moldadas. A singularidade o identifica. Tanto é, que até hoje continua a ser uma marca, dentre os demais edifícios que espelham a variedade de tempo e espaço, ao longo daquele território corporativo.
Foi apenas uma fase. Cada obra seria uma experiência, buscada aqui e alhures, para enriquecimento de um trabalho amadurecido na reflexão, para cumprimento de programas propostos, e em uma luta permanente para que nenhuma obra constituísse uma ilha. Teria de se compor com o entorno, valorizado pela vizinhança, como ocorreu com a sede do Banco Safra, na mesma avenida.
Ganhou terreno em outras praças e em outras categorias, derivando para residências, hotéis, centros administrativos e fábricas, como a Ipel, de Cajamar-SP, onde explorou a tecnologia da estrutura metálica.
Foi um caminho longo, até vencer o concurso de projetos para a sede da Petrobras em Vitória (ES), onde, na prática, estabeleceu uma íntima parceria com a paisagem local. Ali, os elementos de sua arquitetura se casam com árvores, pedras, praças, público.
Não é por outros motivos que chegou, em 2009, ao Centro de Integração do Comperj, uma edificação do nosso tempo, como exemplo para todo tempo.
Até aqui, Sidônio construiu uma obra permanente.
Fonte: Estadão