Qual seria essa distância? A pesquisa científica estaria mesmo divorciada, há séculos, dos inventos que aproveitariam as descobertas que ela conseguiu fazer? Por que a descoberta do cristal líquido, feita pelo botânico Friedrich Reinitzer, não teve papel preponderante, posteriormente, no desenvolvimento industrial dos monitores de televisão, computadores etc?
Artigo do professor Paulo Cesar Soares, professor de geologia na Universidade Federal do Paraná, publicado na FSP, dá respostas a essas indagações, recolocando na imprensa tema exposto por seu colega, o físico Ivan Oliveira, em trabalho divulgado no mesmo jornal sob o título “Ciência, tecnologia, inovação, vaca e leite”.
Historicamente, há um divórcio. Como se o campo de pesquisa nada tivesse a ver com desdobramentos futuros das descobertas no mundo. É que a pesquisa fica confinada. Desenvolve-se não tendo em vista, prioritariamente, o objetivo de lucro. E, por conta disso, às vezes financiá-la pode significar jogar dinheiro a fundo perdido. Além disso, nem sempre a pesquisa tem uma direção precisa, um objetivo econômico visado, conforme acontece com alguns laboratórios, que trabalham nessa perspectiva.
Quem se aventura nessas viagens incertas e não sabidas? De repente, décadas ou séculos depois, nos passos da ciência, surgem os inventores. Homens práticos que transformam trigo em pão; uva em vinho; cristal líquido em tablets; a teoria da relatividade, do Einstein, para operação do GPS e daí por diante.
É que não há investimento em pesquisa. Os pesquisadores ainda são considerados sonhadores extemporâneos, senão pessoas tresloucadas, expulsas da realidade. Já os inventores, exceções à parte, são vistos como pessoas práticas, capazes de transformar sonhos em realidade e realidade em produtividade e lucro. No fundo, as pesquisas básicas e as pesquisas aplicadas não andam de braços dados. Mantêm uma distância de abismo entre si.
Migrando esse problema para as escolas de engenharia teríamos aí um exemplo flagrante entre teoria, lá dentro, e a possibilidade de apropriação de conhecimentos práticos, lá fora. É que ainda não se evoluiu, de modo satisfatório, para o casamento adequado entre escola e empresa. Como se a empresa ainda imaginasse que financiar pesquisa ou estabelecer maior aproximação com os futuros engenheiros constituísse um sacrifício, um desvio de recursos, uma aposta no vazio.
Por causa desse tipo de raciocínio torto, muitos cérebros que poderiam estar ajudando a evolução técnica e industrial do País estão por aí, secando no meio do caminho.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira