A distância é enorme. E tem aumentado com o passar dos anos. É como se existisse uma separação, com as partes cada vez mais ensandecidas pelo litígio. E, na briga entre os fatos e as palavras, o povo brasileiro vai perdendo a esperança de que o crescimento propalado pelo governo federal deixe de ser apenas retórica. Mas vem aí o PAC. Leia-se Programa de Aceleração do Crescimento. Apropriado para provocar impacto, contará com os recursos previsíveis do Orçamento, do FGTS/FAT, do Projeto Piloto de Investimentos (PPI), das possíveis parcerias público-privadas e das estatais, lideradas pela Petrobras. O bolo seria de R$ 114 bilhões, distribuídos no correr do ano, em especial para obras de infra-estrutura. É óbvio que, se analisadas as urgências brasileiras, tais recursos seriam até um bom começo para uma administração federal que até aqui não conseguiu iniciar empreendimentos significativos após 4 anos. Mas o terreno, depois de tanto tempo, pode ser trabalhado: foi sancionada a lei que acaba de criar o marco regulatório do saneamento; os órgãos que cuidam do meio-ambiente afirmam que estão mais ágeis na liberação dos projetos cujas interfaces mexem nesse campo; há a promessa de serem desatados mais alguns nós burocráticos da Caixa Econômica Federal para ampliar o acesso das construtoras imobiliárias aos financiamentos da instituição, e as parcerias público-privadas estão aí, prontas para serem acionadas. À primeira vista, a bola do crescimento não estaria mais apenas na dependência do governo. Os demais jogadores deveriam cuidar para chutá-la a gol. Acontece que o Brasil está atolado na estagnação há 25 anos. E a saída desse atoleiro não se dá tão-somente com sugestões ou com indicações de que, enfim, o terreno está terraplenado. A distância entre fatos e palavras acentuou-se de tal modo, que a desconfiança permanece. Isso faz lembrar o samba de Ataulfo Alves: “Laranja madura/ na beira da estrada/ ta bichada Zé, ou tem maribondo no pé”. E o próprio governo se encarrega de alimentar essa desconfiança, ao prometer, no primeiro mandato, o que volta a prometer no segundo. Porque, para romper a barreira entre fatos e palavras, precisa falar menos e fazer mais. De qualquer modo, a equipe que volta de férias fica na expectativa de que o Carnaval passe logo e que o Brasil oficial entre no ritmo que a promessa de crescimento requer. Até aqui o crescimento obtido, para coroar o êxito do governo, foi o da carga tributária. Haja vista que, quando o presidente Lula da Silva assumiu o primeiro mandato em janeiro de 2003, a carga tributária herdada do governo anterior era de 35,84% do Produto Interno Bruto. E embora no primeiro ano do mandato do atual governo declinasse para 35,54%, logo começou a subir. Daí em diante a escalada não parou mais. Hoje, ela corresponde a 38,75% do PIB. Um crescimento e tanto, para quem quer provocar o deslanche imediato do PAC, que, com o tempo, e desde que não produza efeitos práticos, poderá figurar no dicionário brasileiro das siglas inúteis.
Fonte: Estadão