A outra face da moeda do crescimento brasileiro

Compartilhe esse conteúdo

O mapa de obras de engenharia e de programas de investimentos exposto ao longo das 482 páginas da edição 500 Grandes da Construção, do mês passado, de O Empreiteiro (OE 499), é um documento importante da atual fase da retomada do crescimento brasileiro.

O otimismo, resultante dos programas de obras do governo e dos empreendimentos privados em diversas áreas, tem sido manifestado em simpósios, feiras de materiais e em outros eventos oficiais e setoriais, de que é exemplo, o mais recente, o 83º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), realizado em São Paulo.

Instigados pelos investimentos dos programas de Aceleração do Crescimento (PAC 1 e 2), Minha Casa, Minha Vida, disponibilidades de crédito junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outras instituições e pelas obras da Copa, vários empreendimentos estão em andamento.

A atual fase de obras mostra o quanto se deixou de fazer, em todo o País, nas últimas décadas. Reconhecemos ser paradoxal que um dos méritos dessa etapa de crescimento seja exatamente expor a profundidade abissal de carências de toda ordem, que a inação e a falta de investimentos vinham cavando sob os nossos pés.

Alguns exemplos podem jogar um pouco mais de luz nesse raciocínio. É o caso do Rio de Janeiro, onde a sinalização das possibilidades da Copa e da Olimpíada levou à abertura para um programa de modernização da cidade, com as obras do prolongamento do metrô, os empreendimentos comerciais e culturais na zona portuária e melhorias em outros sítios urbanos. Esse conjunto de iniciativas, que para alguns lembraria o ímpeto de Pereira Passos, quando decidiu tornar o Rio uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, ainda está muito aquém das reais necessidades urbanas locais.

Em São Paulo tenta-se executar, na medida dos recursos, projetos de mobilidade urbana que se encontravam há muitos anos nas gavetas da burocracia municipal e estadual. Há obras complementares na cidade e, em seu entorno, prosseguem aquelas para a conclusão do Rodoanel, um projeto dos anos 1970; o início das obras do monotrilho, da linha 2 (Verde), do metrô e do Itaquerão, que está nascendo como resultado do casamento do dinheiro público e privado, sob a promessa de que a Zona Leste vai adquirir outra face, em razão dos equipamentos urbanos que ali serão realizados para justificar a construção da arena na região.

No Recife, obras absolutamente prioritárias, como a expansão do metrô, são retomadas, simultaneamente aos projetos que deverão solucionar crônicos problemas de tráfego nos principais eixos viários locais. Adicionalmente, em função da Copa, está sendo criada até a Cidade da Copa. E fala-se, afinal, da construção dos acessos para que Suape, com seu plano de expansão, não se isole das demais regiões produtivas do Estado.

Em Salvador, Belo Horizonte, Manaus e em outras cidades pelo País afora, estão sendo colocados em andamento programas de revitalização urbana. É como se, apenas agora, eles fossem descobertos, como necessários.

O importante, nessa fase em que se retomam projetos e obras de infraestrutura e de mobilidade urbana, é que tenhamos em conta a essencialidade dos programas contínuos de investimentos, a fim de que iniciativas desse tipo não se percam no meio do caminho e passem a ser lembradas apenas porque eventos nacionais ou internacionais esporádicos as estão justificando.

Caso as administrações públicas não tivessem deixado durante décadas que obras prioritárias e outras providências no campo da segurança ao cidadão ficassem relegadas ao esquecimento, possivelmente as principais cidades brasileiras não estariam a exibir o atual cenário de degradação em suas áreas centrais. As distorções provocadas pela descontinuidade das fases de crescimento são os principais fatores que pesam, hoje, no desequilíbrio urbano e nos orçamentos das obras necessárias para corrigi-las.

Fonte: Estadão


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário