Para onde quer que se ande, lá está a crise. E, para notá-la e vivê-la, sequer é necessário sair do lugar. Pode-se bater em qualquer porta, seja num gabinete parlamentar ou numa casa da periferia, sempre será fácil encontrá-la. Porque nunca ela se revelou tão explícita, ostensiva e com uma vontade obsessiva de permanecer em primeiro lugar no cenário brasileiro. E não há como fugir-lhe aos efeitos devastadores no ambiente doméstico, nas feiras, bares e por aí em diante.
Ela fomenta a força dos movimentos sociais e deverá mobilizar muita gente, além das multidões que já mobilizou, em especial desde junho de 2013. Supõe-se que desde aquela época já deveria ter sido encontrada uma saída para ela. Mas isso é difícil, em especial quando a expectativa é de que ela se esgote, se possível, pela inércia.
O desespero pela manipulação do poder impede que ela deixe de ser a protagonista principal em todo o esforço que se faça para ajustar as contas no País. Então, passa a se refletir no cotidiano e na paralisia das atividades que requerem infraestrutura, mobilidade, habitação, saneamento.
Investidores preferem manter um posicionamento de prudência extrema e de nada adianta empresários apelarem pela urgência de marcos regulatórios, ajuste fiscal, concessões, PPPs e por aí adiante. Eles decidem esperar um desfecho que parece mais evasivo do que a linha do horizonte.
Quem tem a palavra decisória, se acoelha, seja por conveniência, seja porque precisa esperar que as coisas aconteçam. E, enquanto nada acontece para debelá-la, dar-lhe um xeque-mate, cenas deprimentes vão se repetindo nas casas que Niemeyer desenhou e o mestre da engenharia, Joaquim Cardozo, calculou.
A saída é uma só. Mas ninguém quer abrir a porta para a correta solução política, a única possível para ao menos domesticá-la e colocá-la sob controle. As vítimas somos todos nós.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira